Isabel acordou com o Bruno Mars quando o telemóvel começou a tocar The lazy song. Era a amiga que tinha em comum com a Madalena. A Matilde.
- Estou...
- Isabel? Bom dia!
- O que é que queres? Já viste bem as horas?
- Quero que te encontres comigo para falarmos.
- O quê?!? Agora?!?
- Sim, agora!
- Desce. Falamos ao pequeno-almoço.
- Olha lá, eu não tenho a culpa desta cena toda. E muito menos explicações para te dar!!
- Tens 10 minutos. - E desligou o telefone.
Meia hora depois lá apareceu a Isabel.
- Tu és mesmo indecente... já viste há quanto tempo estou à tua espera?
- E ter vindo ter contigo foi uma sorte! Eu vim de fim de semana com o meu namorado, não contigo! Acordas-me com as galinhas e ainda reclamas?? Vê lá se tens calma senão dou já meia volta!
- Senta-te e não sejas mal educada. Achas que não tens nada para me dizer?
- Acho que não!
- Achas? Então é-te indiferente o facto de andares metida com um homem casado com uma amiga minha, é isso?
- Ó pá! A tua amiga que tivesse tomado conta dele!
- Desculpa?
- Sim, é isso mesmo! Sabes o farrapo que me chegou às mãos? Até te digo mais, agora é que a coisa melhorou, mas se soubesse o que sei hoje não me tinha metido com ele!
- Ah, então admites que FOSTE TU que te meteste com ele?!??
- Sim, fui.
Matilde respirou fundo.
- Quando é que isto começou?
- Bom... eu tirei-lhe a pinta em tua casa...
- Na MINHA CASA?
- Sim, na tua casa. E pára de gritar!! Estás histérica, Matilde?
- Histérica estás tu!! Na minha casa? Explica lá isso melhor!
- No teu aniversário. Lembras-te que a tua amiguinha nunca mais chegava? Que estavas empatada por ela para cantarmos os parabéns? Que a senhora estava muito ocupada numa vernissage qualquer?
- Mas isso... já foi quase há um ano...
- É... p'raí...
- E depois?
- Depois meti-me com ele no facebook. Mas valha-me a Santa que o homem estava a precisar era de uma mãezinha...
Silêncio.
- Como é que tiveste coragem, Isabel? Tu sabias que a Madalena era minha amiga...
- E então? Qual é o teu problema? A Madalena é uma egoísta, será que não vês isso?
- Olha quem fala!! Julgas que não te conheço? O Duarte, como qualquer outro homem nas tuas mãos, será um brinquedo até te fartares dele. E depois? Hã? E depois? Vais devolvê-lo?
- Sabes que há sempre um período de carência... - Disse no gozo.
- És mesmo parva!
- Parva? Ai eu é que sou parva? Parvas são vocês que acreditam no amor e uma cabana. Nos casamentos para a vida. Blá, blá, blá...
- E qual é o mal disso? Com tanto homem no mundo e tinhas mesmo de escolher um homem casado, hein?
- Sabes que eu não viro costas a um desafio... - Continuou no gozo.
- Olha, só me apetece chamar-te nomes.
- Chama! Chama o que tu quiseres. Mas antes pensa bem no peso que isso pode ter nos nossos negócios. Sim, que arquitectas paisagistas há muitas...
- Mas tu estás a ameaçar-me? Estás a misturar assuntos!
- Não estou nada! Eu nem sou disso. Não viste como consegui distinguir bem o Duarte de ti e da tua amiguinha.
- Cabra!
- Cabra? - Repetiu a rir-se. - Cabra é pouco. Se soubesses do que eu sou capaz... - Levantou-se e virou costas. Mas de repente voltou para trás e ao ouvido da Matilde ainda disse:
- Estás lixada comigo!
Irritada. Desiludida. Fula da vida. Capaz de estrangulá-la. Foi assim que a Matilde ficou.
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