segunda-feira, 4 de maio de 2015

Acabei o Dia da Mãe no hospital

Não é coisa que a malta queira lembrar para sempre, mas a verdade é que de uma lombalgia lixada que logo de madrugada começou a dar-me conta do juízo, só consigo lembrar-me de coisas boas.

Os miúdos estavam excitados. Era dia da mãe, caramba! E não percebiam porque é que eu não me levantava da cama. À vez apareciam no quarto. Várias vezes. Até que ele disse para o prédio todo ouvir:

- MANA, ANDA! A MÃE JÁ ESTÁ ACORDADA!! (até vocês desse lado devem ter ouvido o miúdo)

Sim, estava acordada já há muito tempo. Não conseguia era mexer-me. 

Irromperam pelo quarto adentro. Levantaram os estores e montaram um circo daqueles. À criança feliz que esperou tantos dias por aquele dia. Tantos dias para darem à mãe o presente do dia da mãe. Os postais que ilustraram. Tudo o que tinham congeminado. 

Ela veio de pequeno-almoço num tabuleiro. Ovos mexidos com sementes de chia (adorei o pormenor) e iogurte líquido. Ele trazia um envelope feito de uma folha de papel branca A4 e cheio de fita cola laranja às bolinhas brancas. Lá dentro, um desenho. Nós os quatro, a nossa casa e um carro. Para ele era um Smart. Para mim um carocha. Depois o presente. Uns brincos. Ou melhor, um brinco. Que o outro perdeu-se no caminho. Uma bola rosa choc que ele fez para mim. Só para mim.

Depois ali ficaram e eu sem me levantar. Foi o melhor despertar de Dia da Mãe.

Consegui fazer o almoço, assim toda curvada. Ainda fizemos um bolo todos juntos, pois pareceu-me que mereciam. Mas lá estava eu. Toda curvada. Dobrada, mesmo. Como se fosse possível estar em posição fetal em pé. 

Aqueceram-me vezes sem conta uma almofada de caroços de cereja para me aliviar as dores. O petiz fez-me cócegas massagens nos rins, pois era aí que me doía. Coitadinha da mãe. Até que ao fim do dia disse ao meu marido:

- Se calhar é melhor ir ao hospital.

E lá fomos. E lá estive. Mas não me posso queixar. Fui bem atendida. Só a minha figurinha quando entrei deixou todos em sentido. Até o segurança me ofereceu uma cadeira de rodas. A enfermeira da triagem nem me deixou ir para a sala de espera. E o funcionário da secretaria, quando fiz o registo, ainda me perguntou se estava para ter um filho. Sim, eu estava toda dobrada e ele só me via do pescoço para cima.

Doem-me os rins. Disse a um. Doem-me os rins. Disse a outro. Doem-me os rins. Voltei a dizer. E ainda o repeti a uma senhora que estava cheia de pena de mim pelo sofrimento em que me encontrava.

Não eram os rins. Era uma lombalgia. Aguda, por sinal. Vai de injecção, mais dois comprimidos. E, no fim, um médico todo giro e atencioso explicou-me tudo com calma e numa linguagem perceptível. 

Parabéns às equipas de ontem à noite do Hospital São Francisco Xavier. Obrigado pela vossa paciência e carinho. Obrigado à enfermeira que não tinha macas livres e que me levou para a sala de pequena cirurgia para eu poder deitar-me e ficar resguardada da sala de espera e do incómodo daquelas cadeiras. Obrigado à equipa de radiologia que teve uma paciência de Jó para conseguir fazer-me os RX's. Obrigado ao médico que foi ofendido por uma utente, de forma obscena, sem razão nenhuma, por não ter reagido à ofensa. E obrigado ao meu marido por, mais uma vez, ter tomado por suas as minhas dores.

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