quinta-feira, 21 de maio de 2015

Duarte (blognovela)

O desertor.  Podíamos dar-lhe este cognome. Ou o filho da mãe. Ou o traidor. Ou o futuro ex-marido da Madalena. Ou, pura e simplesmente, o homem. Entre três mulheres.
 
Conhecera a Madalena no funeral de um amigo comum. A sua figura vistosa prendeu-lhe logo a atenção e essa prisão também ela a sentiu, quando os seus olhos bateram nos dele. Pela primeira vez. E nesse dia, sem o saberem, apaixonaram-se.
 
Tinha casado por amor. Sabia perfeitamente que a vida da Madalena era pública, agitada, preenchida. Sabia, desde o dia em que a conheceu, que era obstinada. Fosse pelo que fosse, a Madalena era obstinada. Os objectivos a que se propunha era para serem cumpridos, ultrapassados, se possível, na perfeição e só por isso é que tinha alcançado o sucesso profissional que lhe dava notoriedade. E só por isso, por essa força maior que lhe reconheceu, soube logo que era com ela que queria casar. Bastou-lhe sentir a força da Madalena para que um frio na barriga o consumisse. E até que ela o aceitou, não descansou.


Sabia de antemão que casar com uma figura pública era viver na sombra. Não gostava de acompanhá-la em eventos públicos. Os flashes não o atraiam. Preferia gozar do sucesso da mulher de forma privada. Em casa. Quando lia o que ela escrevia. Quando a encontrava, inesperadamente, numa revista qualquer. Não lhe fazia confusão o sucesso da mulher. Apreciava-o e falava com orgulho. E vaidade. E sabia que era a ele que ela regressava. Todos os dias. E depois... como qualquer pessoa apaixonada... achou que com ele seria diferente. Que, depois do casamento, a Madalena iria estar mais tempo disponível. Presente. Com ele. Para ele.

Duarte era alto, moreno e de olhos verdes. Um homem muito bonito. Charmoso. Bem falante. Gerente de um banco e um autodidata em informática. Era fácil gostar dele e pretendentes não lhe faltavam. No banco era frequente sentir um certo assédio da parte das colegas e algumas clientes. Fazia-lhe bem ao ego. Gostava disso. Mas nunca lhe tinha passado pela cabeça trair a Madalena. Mesmo nos momentos em que se sentia sozinho. Aí dedicava-se aos computadores e não raras foram as vezes que ao chegar a casa ela o encontrou adormecido perante os ditos.

Mesmo na lua de mel, perante tanta exposição de um momento tão privado, fez por perceber que quem acompanhava a vida da sua recém-esposa queria saber de todos os pormenores. Fez por entender tantas publicações nas redes sociais. Tantas fotografias dela mesma. Fez por perceber.

Com o tempo a passar, começou a sentir-se sozinho. Muitas vezes. Demasiadas. Os amigos, casados, pouca disponibilidade tinham. Os computadores, por mais que gostasse deles, não conversavam. No frigorífico encontrava sempre e apenas uma refeição. Não havia barulho em casa. Não sentia vida em casa. E o silêncio começou a incomodá-lo.

Até que chegou o dia da famosa festa de aniversário da Matilde. E no dia seguinte uma mensagem da Isabel no Messenger. A gabá-lo. A convidá-lo para um café. A seduzi-lo.

Não resistiu muito tempo. A porta estava aberta. E a Isabel entrou.


(Leia aqui todos os capítulos)

3 comentários:

  1. Só peguei na tua blognovela ontem, mas acabei agora de ler todos os capítulos. Estou a adorar! Continua que eu continuarei a passar por cá para saber de novidades... ;)

    ResponderEliminar
  2. Já li a Blogovela!... Venham de lá mais intrigas. Fico a aguardar!

    beijinhos e boas escritas :)
    Sónia

    http://bolas-desabao.blogspot.pt

    ResponderEliminar

Comente! Prometo responder!