quarta-feira, 13 de maio de 2015

Isabel Galvão. A outra (blognovela)

Ser "a outra" tem as suas vantagens. Nada de grandes obrigações. Nada de camisas para passar ou meias para dobrar. Nada de ter alguém ali em casa à espera do jantar na mesa ou de grandes explicações sobre onde andou cada um ou com quem se esteve. Apenas os momentos bons. Jantares em restaurantes in. Fins-de-semana em spot's da moda. Noites de diversão com gente gira em sítios giros. Uma ou outra noite um em casa do outro. E pronto! Os almoços e os jantares chatos em família também ficam de parte. Receber, contrariados, pessoas em casa, também. Fazer fretes, nem se fala.
 
Por isso a Isabel gostava de ser "a outra". Estava habituada a uma vida de lorde. Tinha bem consciência do que queria. Tudo menos compromissos que a obrigassem a grandes alterações da sua vida independente. Pois estava "casada" com a sua herança. Preservá-la, era a única coisa que a movia. E mesmo isso não lhe dava grande trabalho. Pois o império que os pais lhe deixaram depois de morrerem num trágico acidente de viação, quase que andava sobre rodas por si só.
 
Isabel Galvão era sócia maioritária numa empresa de  produção e comercialização de vinhos do Alentejo da conhecida herdade, entre os entendidos, Sobreiro & Galvão. Acumulava prémios nacionais e internacionais e fora precisamente o reconhecimento internacional a maior apólice de seguro que os seus pais granjearam.

Não tinha irmãos, não era casada, nem tinha filhos. Viajava em função das feiras de vinhos. Conhecia meio mundo e era respeitada por todos os enólogos. Apesar de também estes saberem que o mérito da marca era dos seus pais. A herdade estava referenciada como a única da Europa que produzia vinho com características únicas. Um vinho doce, encorpado, amadurecido à antiga nas frescas caves da herdade, de castas indígenas que lhe conferia fortes características regionais e graças à introdução de variedades forâneas, última grande aposta dos pais antes de morrerem, o vinho da herdade tinha reforçado a sua liderança vitivinícola.

Tinha, portanto, uma vida confortável.

Mas era uma pessoa fria. Calculista. Aquilo que lhe interessava, apenas e só o que lhe interessava, é que a levavam a fazer alguma coisa. E fisgar o Duarte foi algo que ela quis. Conheceu-o em casa da amiga que tinha em comum com a Madalena e logo ali tirou-lhe as medidas. Se era casado não lhe fazia diferença. Tinha tudo aquilo que ela gostava e isso bastava. Era giro, bem sucedido profissionalmente e, na verdade, ser casado também era algo a que ela achava piada. Pois, assim, o desafio era maior. E desafios destes, em que ela podia provar a si mesma que podia tudo, não era coisa que ignorasse.

Começou a sua investida logo no dia a seguir. Primeiro, através do facebook. Depois, através de telefone. E daí a um encontro pessoal foi um passo. Na esplanada do Adamastor, em Lisboa. E Duarte, que se sentiu especial pela atenção que esta mulher lhe dava, não faltou.

Isabel Galvão. Fixem este nome. Ainda vai dar muito que falar.

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