sexta-feira, 29 de maio de 2015

Duarte e Isabel (blognovela)

A surpresa de ter sido mandada para dentro da piscina levou a que a Isabel ficasse, de facto, mais calma. Nem ela algum dia tinha previsto acabar assim e muito menos resultado de uma acção do manso namorado que controlava com um estalar de dedos.
 
Enquanto a via recuperar, o Duarte olhou em volta, agarrou uma toalha largada numa cadeira e pôs-se de cóqueras à beira da piscina à espera dela e para ajudá-la. Ainda sorriu, discretamente, pela atitude que teve, por ter tido um papel preponderante para que a discussão acabasse e por ver a Isabel numa situação de vulnerabilidade total.
 
Esticou-lhe a mão.
- Vá, agarra aí que eu ajudo-te...
- Achas bem o que me fizeste?
- Vá Isabel. Agarra aí.
 
E a Isabel agarrou-se à mão dele. Subiu e sentou-se na borda com os pés dentro de água. Estava fula. E quando ele lhe pôs a toalha pelas costas...
- Não quero isso!
- É melhor... olha que arrefeces... estás toda vestida...
- Pois estou! TODA VESTIDA!
- Wow... Não vais começar, pois não?
 
Pôs as pernas para cima. Levantou-se. E frente a frente com o Duarte alçou da mão e deu-lhe um estalo.
 
- ISABEL!! Tu passaste-te ou quê?
- Sim, passei-me! Passei-me quando me envolvi contigo! Foi um erro!
- Desculpa?!? Um erro?
- SIM!! UM ERRO! Mas desde quando é que tu me tratas assim? Em vez de me ajudares atiras-me para dentro de água? A estúpida da tua mulherzinha publica aquele texto e tu ainda a defendes?
- Eu não defendi ninguém, está bem? Eu apenas quis que te controlasses. Não achas que já bastava teres todas as atenções sobre ti, depois da notícia que saiu? Fazeres um escândalo daqueles, assim, à frente de todos, Isabel? Tu estava a gritar feita louca!
- E então decidiste espetar comigo dentro de água!!
- Olha, sim. Foi isso! Nem tens noção da tua figura. Foi o que me ocorreu...
- FOI O QUE TE OCORREU?!? E A OUTRA? Saiu daqui a rir, não achas? Só espero é que não se tenha lembrado de tirar fotografias...
- Tinha piada... - Pensou em voz alta.
- O QUÊ? TINHA PIADA?
- Não grites! Pára com isso!
- NÂO GRITES?!? Tu realmente... tão meiguinho, tão dependentezinho, tão fofinho... e agora olha... é o que se vê...
- Desculpa lá! Mas é essa a tua opinião sobre mim? Que sou dependente? De ti?
- Não de mim! De alguém! Precisas de ter sempre alguém contigo, Duarte! Não tomas decisões sozinho, precisas de quem te oriente. És um sentimentalista de primeira. Estás comigo cheio de remorsos por causa dela e agora que a viste ficaste assim...
 
O Duarte não estava a gostar da conversa.
 
- Vá Isabel! Deita cá para fora! Pelos vistos tinhas aí muita coisa para me dizer!
- Queres ver que quando viste a Madalena ficaste indiferente... eu bem vi como a levaste ao colo para o quarto, na noite em que ela caiu. Eu bem vi como olhaste para ela. E isso magoou-me, sabes?
- E porquê?
- Porquê?!? Porquê o quê?
- Porque é que te magoou a maneira como eu olhei para a Madalena naquela noite? Porque gostas de mim ou porque te sentiste desprezada? Porque sentiste que podias perder-me? Porque ficaste com ciúmes de eu ainda ter sentimentos por ela? Ou será que me sentiste a escapar-te? A escorrer por entre os dedos?
- Mas o que é que estás para aí a dizer?
- Responde, Isabel! Responde!! Tu pensas que eu não sinto as coisas? Tu nunca, mas nunca disseste que me amavas! Nunca! E depois do que eu vi até agora desde que cá estamos, fiquei tão, mas tão desiludido... Deste-me a conhecer uma mulher que eu não conhecia...
- E?
- E?!? E não gostei! E começo a pensar que a notícia que saiu na revista tem algum fundo de verdade! Que se foi a Madalena a publicá-la ela viu em 2 segundos aquilo que eu demorei um ano a ver!
- Mas estás a falar de quê?
- Disto! Espera que eu leio para te relembrares. - E pegou no telemóvel - A mesma fonte informou-nos que o último capricho da menina Galvão foi o de cobiçar um homem casado a troco do interesse financeiro que o mesmo lhe proporciona para os seus negócios... É disto que eu estou a falar! Diz lá... foi isto que viste em mim, não foi?
 
A Isabel começou a sentir o cerco a apertar. Mas a raiva apoderou-se dela de novo. E a verdade também.
 
- FOI! FOI ISSO QUE VI EM TI! Dinheiro! O dinheiro que precisava para investir nos vinhos. TU foste o veículo perfeito para o empréstimo a juros mínimos. TU foste a melhor forma de negociar, de alcançar os meus objectivos. É VERDADE, DUARTE! Foi por isso que eu me meti contigo. Porque precisava de dinheiro e tu, tapadinho de todo, facilitaste-me a vida! Pronto, é isto!
 
Baixou a cabeça, o Duarte. Como é que não tinha percebido aquilo mais cedo. Como é que se tinha deixado enrolar daquela maneira. Teve vontade de apertar-lhe o pescoço. Teve vontade de pontapeá-la para dentro da piscina. Teve asno por ela. Teve nojo. E encarando-a disse-lhe:
 
- Vais-te embora daqui agora. Tens meia hora para fazer a mala. Põe-te a andar. Nunca mais falas comigo. Se me vires na rua muda de passeio. Fica longe de mim, da Madalena e da Matilde. E desejo que o teu negócio vá à falência. Aliás, no que depender de mim, irá. Acredita!
- Ó meu menino... mas quem é que tu pensas que és para me ameaçares desta maneira?Tu, um bebé grande que ainda anda de fraldas. Que precisa de uma mãezinha para tudo. A ameaçar-me?!? Tens noção do que estás a fazer? Tens noção daquilo que eu sou capaz?
 
- Estou cheio de medo... Tens meia hora... - E virou-lhe as costas.
 
A Isabel ficou ainda ficou mais raivosa e furibunda. Subiu ao quarto para ir buscar as suas coisas. Mas não se foi embora...
 

(Leia aqui todos os capítulos)


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