quinta-feira, 14 de maio de 2015

Acabou tudo a chorar...

Na escola da minha filha as mães foram convidadas a partilhar histórias sobre esta coisa da maternidade. E eu que adivinhava lamechices, daquelas em que nós as mães não temos vergonha de embarcar, não estava muito para aí virada.

Andei uns dias a pensar sobre o assunto. As histórias que conhecia não me inspiravam e estava à espera que acontecesse, exactamente, aquilo que aconteceu: ouvir mais do mesmo. O que não tem mal nenhum, atenção! O tema era igual para todos, por isso variar era difícil. 

Pensei no impacto que poderia ter contar-lhes a minha história. Não a de mãe. Mas a de uma filha sem mãe. Uma mulher que hoje é mãe sem nunca alguém ter ocupado esse lugar na sua vida.

Escolhi meia dúzia de fotos, montei um powerpoint em dois minutos e comecei assim:

Esta sou eu com 8 meses. A idade com que deixei de ter mãe.


O silêncio instalou-se de forma arrebatadora. Numa turma com tantos problemas de comportamento, não pensei que tivesse um efeito tão imediato. Mas os miúdos calaram-se. E eu continuei a explicar-lhes o outro lado. Aquele que eles não conhecem. Aquele lado que eu entendi que poderia servir-lhes para valorizarem as suas mães.

Pedi-lhes que não tivessem vergonha de chegar à escola de mão dada com a mãe ou com o pai e muito menos de darem um beijo ou um abraço. Pedi-lhes que soubessem agradecer todo o esforço que as mães fazem para que eles venham a ser adultos felizes e realizados. Dei-lhes o meu exemplo. Este exemplo de que já vos falei. E ficámos todos emocionados.


Aqui, com 4 anos. Falei-lhes das várias ausências que senti durante a infância.

Disse-lhes tudo o que considerei importante na relação entre mãe e filho. Disse-lhes que era uma sorte terem alguém a ralhar com eles, a chamá-los à atenção sobre os estudos, o quarto arrumado, o casaco quando se sai à rua. Disse-lhes que depois disso tudo há o colinho de mãe e uma coisa infinita que se sobrepõe a todos os limites da paciência, da exaustão e outros que as mães atingem: o amor ilimitado. E isso é inestimável. Ter uma mãe é inestimável.

Choraram. Meninos e meninas. Mães e a directora de turma. Eu contive-me. Pois estas coisas que fazem parte de nós, que são a nossa história, vivem connosco desde sempre. Não passei por uma perda traumatizante. Não me lembro de nada. Tinha 8 meses. Mas hoje, com 37 anos, sinto mais essa ausência do que quando era criança. Aliás, comecei a senti-la na idade adulta. E depois de ser mãe ainda me custa mais compreender a escolha que a minha fez.

Mas isso são outros quinhentos.

As outras mães agradeceram-me. Por ter partilhado com os filhos, através de um exemplo real, a vida tal como ela é.

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