sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Entrada proibida a crianças

Há hotéis que fazem isto. Sim, em Portugal também. E até consciencializar-me desta prática, até acreditar que isto é verdade, andei a ler e a pesquisar sobre o assunto.
 
Muito se escreveu. Muito se disse. Falou-se, até, em violação dos Direitos Humanos. Em ilegalidades. Mas, a verdade, é que há hotéis que continuam (em Portugal também, reforço) a proibir a entrada de crianças. Hotéis baby free. É assim que se diz.
 
Uma vez aconteceu uma cena triste com uma pessoa que eu conheço. No dia a seguir a uma festa de aniversário infantil, a dita pessoa escreveu no facebook:
- Raios partam as crianças que pegam vírus às pessoas.
 
Como se as crianças não fossem pessoas. Como se as pessoas fossem imunes aos vírus. Como se as pessoas, os adultos, não tivessem sido já crianças. Essa pessoa não é mãe. E, provavelmente, irá gostar de saber da existência destes hotéis. Pois encaixa com o seu perfil.
 
Apesar disto ser uma realidade (e por ser eu uma pessoa tão visual), só consigo imaginar crianças com trelas ao pescoço e deixadas à porta. Com uma tijela de água e outra de ração. E, com sorte, a receberem uma festa de quem passa na cabeça. Só me vem à cabeça a imagem de um senhor fardado, luvas brancas e chapéu, daqueles que abrem portas e estacionam carros, a mandar as crianças calar e com ar de enjoadaoe incomodado por tê-las ali tão perto. Não vá algum vírus apanhá-lo na curva.
 
Os grupos de idiotas que gerem estes hotéis fazem lembrar o Gru - o mal disposto. Uma personagem com uma pedra no lugar do coração. Imagino-os rodeados de luxos e empregados a tirarem-lhe os caroços das cerejas. Rodeados de Matisses e Rembrandt's. E tão pobres de espírito, coitados.
 
Os clientes... tenho pena deles... Calculo que façam parte desta nova geração de homens e mulheres que padecem do maior dos males: a solidão. O maior dos vazios: a solidão. E é tão triste perceber que chegámos a este estado. Um estado lastimável da Humanidade. De uma geração que vive só. E que vai morrer só.
 
Não se sintam especiais por terem hotéis que fazem a sua gestão a pensar no vosso sossego. Na vossa solidão. Isso é altamente discriminatório. Não só para as crianças, como para vocês. É mais ou menos o mesmo que existirem hotéis só para casados ou só para divorciados ou só para gays ou só para qualquer outra coisa, minoria ou o que queiram chamar-lhe. E não me venham com teorias de que todos têm direito a escolher estar num sítio sem crianças que choram e correm e gritam. Porque, um dia, também vocês foram crianças. A quem lhes faltou alguma coisa, certamente.

Quem tem filhos, também quer sossego. Também passa dias em hotéis sem os seus filhos. E é isto! Deve ser uma opção levá-los ou não. Além de que quem tem filhos, compreende o comportamento dos filhos dos outros. Pelo menos, compreende que se tratam de crianças.

Não sou perfeita. Não fico impávida e serena perante uma criança desregrada. Mas daí a considerar a hipótese de impedir-lhe a entrada onde quer que seja? Meus caros. Menos. Muito menos.

2 comentários:

  1. E há hoteis que não querem clientes com mais de 65 anos...nem hospedados, nem a frequentar a piscina...e também em Portugal. É uma miséria esta nossa sociedade, irra!!!!

    ResponderEliminar
  2. Não me choca nada haver hotéis que não aceitam crianças, assim como há os que são kids friendly. Quando vou com os meus filhos, escolho um hotel que seja apropriado para eles e onde sei que vão ser bem recebidos, mas também gosto de saber que há opções para ir sem crianças e onde não tenho de "aturar" crianças. Eu faço sempre ferias e fins-de-semana com os meus filhos, mas compreendo perfeitamente que quem não tem filhos, queira estar num ambiente sossegado.

    ResponderEliminar

Comente! Prometo responder!