terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Gostas mais de mim ou da mana?

Insistiu ele em perguntar-me. E eu sorri. De mim para mim. A rever-me nesse dilema. Sobre se seria eu a mais amada... É próprio. É próprio da idade. E perceber isso é meio caminho andado para a resposta.
 
Não me senti entre a espada e a parede. Não desviei o assunto. Não respondi que gosto dos dois. Porque isso não lhe chega. Isso não chega às crianças. Elas querem sentir-se especiais. Querem uma resposta preto no branco. E cabe aos adultos dar uma resposta que os satisfaça. À medida deles.
 
Respondi-lhe:
- Gosto da mana desde o dia em que ela nasceu. E gosto de ti desde o dia em que tu nasceste.
 
E ele pergunta-me:
- Gostas mais da mana?!?
- Não! Gosto da mana há mais tempo.
 
E isso bastou-lhe.
 
Ele não entende que o amor de mãe é infinito. Não entende que a existência de irmãos não leva a que nós, os pais, dividamos o que sentimos. Apenas que multipliquemos. Ele não entende esta coisa que nos preenche e invade e satisfaz e que nunca acaba e nunca para de crescer.
 
Gosto dele. Gosto da irmã dele.
Gosto das piadas que diz do alto da sua tenra idade. Como gosto da reacção dela às piadas dos adultos. Sinal que já entende. Gosto da insistente lamechice com que ele me aborda. Quando acorda, quando é para dormir, quando vou buscá-lo à escola, quando o tiro da banheira, quando quer convencer-me. E gosto da dissimulada distância que ela tenta manter. À porta da escola. Ao pé dos amigos. Quando tento agarrá-la. E da forma como tudo se desfaz quando de mansinho se deita ao pé de mim e dá-me um abraço vindo do nada.
 
Gosto dele. Gosto da irmã dele.
Gosto de ser mãe deles. Gosto do cheiro e do toque. Gosto de vê-los dormir. De vê-los crescer. Gosto de tudo, até das falhas. Das pequenas conquistas. Da tentativa e do erro. Da forma como se defendem. Da forma como se afirmam. Gosto de tê-los. Gosto, simplesmente. 
 
Não há respostas certas. A que eu dei, serviu-lhe. E até disso eu gostei.

2 comentários:

  1. Quando as minhas filhas do meio, as gémeas nasceram era recorrente, na rua, desconhecidos e alguns conhecidos também, fazerem esta pergunta à Rita, que tinha dois anos e meio: De que mana gostas mais? Perante isto fomos treinando as respostas mais mirabolantes... tipo: De nenhuma, são as duas impossíveis! ou "ainda só provei desta..." e por aí fora... talvez por isso nenhuma delas se atreveu a fazer esta pergunta, mas no fundo todos se questionam. Eu tenho um livro muito bonito que se chama "São todos os meus preferidos", acho que é assim... e que aborda este tema, se quiseres posso-to emprestar, é sempre uma forma interessante de voltar ao tema. Cá em casa utilizá-mo-lo muito quando elas eram mais pequenas. Abraço Cláudia e obrigada por estas partilhas tão bonitas!

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    1. Oh Alexandra, obrigado tu por passares aqui. :) Por enquanto vou dando conta do recado, mas se puderes dar-me o nome do autor do livro agradeço. Obrigado e um beijinho. <3

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