quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

A toalha da minha tia!

Sou de uma família de costureiras. As minhas tias e a minha avó passaram uma vida de volta das máquinas de costura. Passei muito tempo da minha vida com elas, sobretudo na minha infância e, claro, ficou cá o bichinho.

Não pego na máquina, mas pego na agulha, nas linhas, na tesoura e no que for preciso coser. Também já peguei em feltro e noutros tecidos lindos que, só de olhar, dá vontade de fazer qualquer coisa, de criar. Mas não faço roupa com moldes, isso não! Dou uns toques...

Reconheço alguma terminologia linguística, fruto de tantos anos de convivência (alguma coisa tinha de aprender). Reconheço alguns tipos de máquinas de costura, agulhas, entre outro hardware. E, como calculam, ganhei muitos vestidos e tailleurs feitos a pensar em mim, à minha medida (qual Claudia Schiffer).

Mas os tempos mudaram. No meu tempo de infância, ainda se mandavam fazer vestidos. Mas nos meus tempos de jovem adulta já as Zaras espanholas tinham invadido o nosso mercado, roubando trabalho às nossas costureirinhas.

Estas, reinventaram-se. Começaram a surgir lojas de arranjos. Acertos de baínhas, colocação de fechos, puxa e estica a manga. Muitas vezes os arranjos eram autênticos makeovers nas peças, tal a qualidade da sua confecção. 

Também aqui a espuma dos dias deu um ar de sua graça. O nosso guarda-roupa passou a ser descartável. O que outrora servia de anos para anos, de irmãos para irmãos, de primos para primos (em alguns casos de pais para filhos - com os devidos reparos), deixou de servir... passou a estar démodé...

As minhas tias, claro está, não escaparam a estes novos maneirismos. E, claro, deixei de pedir-lhes que me fizessem roupa. Apenas alguns arranjos.

Os anos foram passando. A distância não foi amiga dessa continuidade. E quando é preciso, vai-se ali à loja da esquina. E, assim, esqueci-me desse tesouro que é ter mãos de mestre disponíveis para nós.

Até há duas semanas atrás!
Tocou o telemóvel. Era a minha tia mais nova! Queria as medidas da minha mesa de jantar para confeccionar uma toalha. Sim, confeccionar. Não comprar!

Hoje, recebi-a. Coloquei-a na mesa. Está linda. E o seu valor acrescentado torna-a única. Hoje e para sempre. Com o desembrulhar do pano, soltaram-se memórias. Casas com o constante burburinho da máquina a costurar. Linhas no chão, e na roupa, e nas mesas, e em todo o lado. Uma agulha marota que nos despertava quando menos esperávamos. Um dedal sempre a postos. Um conhecimento profundo sobre os panos. E uma disponibilidade constante, nem sempre valorizada.

A toalha da minha tia, trouxe-me muito mais que o seu bom gosto e a sua arte. 
Sempre que a utilizar para receber, tenho a certeza que irá sair naturalmente:
- Esta toalha foi a minha tia que fez.
Um pequeno grande orgulho que sinto cá dentro em ter coisas feitas a pensar em mim por pessoas que amo profundamente.

Hoje e sempre!

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