terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Ainda sobre o texto ao Dux

Quem leu o texto que publiquei ontem, e pelos comentários, mensagens e chamadas que recebi, não conseguiu separar as águas. Uma coisa é ter uma opinião sobre as praxes, sejam elas aos caloiros ou a "doutores" dentro de uma comissão, outra coisa é o que escrevi ontem.
 
Não ficou claro para ninguém qual é a minha opinião sobre as praxes. Não ficou para quem leu apenas e só o texto. Porque não era isso que pretendia.
 
Houve quem considerasse as minhas palavras rijas e ternurentas ao mesmo tempo. Compreendo. Pois é disso que se trata. Um texto rijo. Cru. Que enumera uma série de factos. Uma série de constatações sobre a memória que o Dux e todos os envolvidos terão para todo o sempre. Uma memória construída, involutariamente, a partir da tragédia de dia 15 de Dezembro. Ternurento? Sim! Também o consideraram um pouco poético. Pois nas entrelinhas das minhas palavras, há um grande sentimento de perda. Perda não só pelas vítimas, mas também pelos que ficaram. E pelo Dux. Que perdeu os seus colegas. Que perdeu anos de vida com isto. Que perdeu mais do que ganhou.
 
Constato que não será fácil viver com a perda de seis pessoas. Com a impotência sentida perante tantas incertezas. Tantas dúvidas. Tantos pontos de interrogação. Constato que o Dux, o jovem João de 23 anos, não ficará indiferente. Que no seu futuro de jovem adulto, no seu futuro de cidadão e de pai, todas as suas decisões, sobretudo as que vier a tomar em relação aos seus filhos, terão em conta, peso e media esta marcante experiência de vida.
 
Falo como cidadã, como ex-aluna universitária que também foi praxada e como mãe. Como mãe que não sabe o que é perder um filho e como mãe que não sabe o que é ter um filho perdido. Como cidadã que não fala de cor. Que tem noção de que "o que vai no convento, só sabe quem está lá dentro". De uma ex-aluna universitária que passou por uma praxe marcada pela positiva.
 
Ser a favor ou contra as praxes é um assunto lateral. Que não interessa nada neste contexto. O que interessa aqui é o que se gera. O que ficou. O que sobreviveu. E o que sobreviveu foi tão pouco e só uma experiência que, por mais tempo que passe na vida dos que ficaram, emergirá de quando em vez como um pesadelo.
 
Nunca pensei que chegasse tão longe, o que escrevi. Nunca pensei sentir na pele a verdadeira dimensão da internet. Nunca pensei que expôr, publicamente, um conjunto de ideias tão simples para mim, sem grande necessidade de explicações, tivesse tanta gente a concordar comigo. A identificar-se comigo. Nunca pensei ir à televisão falar sobre nada. Nunca pensei que este cantinho onde escrevo disparasse em número de visitas só com a palavra "Dux".
 
Fico feliz por perceber que o meu ponto de vista é partilhado. Que poderei defender o que penso sem construções. Com base na verdade. Na minha verdade. Porque defenderei o que sinto. O que sinto do ponto de vista da memória que será gerada por uma experiência marcante. Pois é isso que somos, memória, sentimentos, sentidos. Somos gente. Apenas e só.
 

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