quarta-feira, 26 de março de 2014

Mães sem ordenado

Foi hoje publicado um estudo realizado no Reino Unido que concluiu que as mães e donas de casa a tempo inteiro trabalham cerca de 88 horas por semana. Basicamente o dobro do número de horas de expediente. O estudo revelou, também, que este trabalho a ser pago deveria corresponder a qualquer coisa como 50 000€ por ano. Qualquer coisa como 4 200€ por mês. Já imaginaram?
 
As mães que trabalham cumprem cerca de 40 horas semanais e outras 56 em trabalho doméstico. O que dá um total de 96 horas. E os seus ordenados são sempre inferiores aos dos seus maridos ou colegas homens.
 
No entanto, gostava muito de saber, em concreto, quem encomenda, quem faz, quem divulga estes estudos e com que objectivo. Para que as mães e donas de casa venham a ser ressarcidas por esse trabalho? E qual foi a base do cálculo que deu origem aos 50 000€? É que, para mim, há coisas que não se conseguem contabilizar.
 
Uma coisa é limpar a casa, cozinhar, passar a ferro, etc., etc. Outra coisa, é o amor com que uma mãe e dona de casa faz isso. A atenção. A dedicação. O investimento. A procura de resultados excelentes. A procura de um ambiente familiar de excelência. Os cuidados especiais na alimentação de acordo com cada membro da família. Os miminhos que se enviam numa lancheira para a escola. Os miminhos para o marido quando chega a casa.
 
E a falta de atenção para com estas mulheres? A falta de miminhos? Aquilo de que abdicaram em prol da família? Quanto custa isso?? O não ter tempo próprio. O não ter dinheiro próprio. O desrespeito pela sua disponibilidade. 24 horas por dia, 7 dias por semana. Quanto custa isso? Quanto? Saberá alguém fazer esse cálculo?
 
Há coisas que não têm preço.
Concordo com um valor mensal para estas mulheres. Concordo com a ajuda do estado nesta matéria. Mas nenhum! Nenhum dinheiro do mundo conseguirá pagar as emoções.

4 comentários:

  1. Bonito texto e excelente observação.
    Num tempo em que o TER ainda supera o SER, nada pagará jamais as emoções. Porque delas somos feitos e porque de seres espirituais experimentando uma condição humana, nos tratamos.

    São muitas as mulheres deste mundo que dum ponto ao outro do planeta, permanecem ostracizadas, algumas privadas da sua liberdade, sob pressão e agressão física e psicológica. Bom seria que em pleno 2014 nada disso se passasse.

    E assim continuam muitas delas, mães e esposas dedicadas, não obstante compromissos vários.

    Quanto ao estado, querida Clau... que dizer.

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    1. Nada a dizer, quanto ao Estado. Apenas que muitas destas mulheres vivem num estado lastimoso e, mesmo assim, as suas emoções continuam intocáveis. Dedicadas, amorosas, emotivas. Algumas, depressivas, mas têm nas suas famílias o elixir das suas vidas.
      Obrigado. Beijinhos.

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  2. Sou mãe e dona de casa a tempo inteiro e desde que em 2012 decidimos em conjunto eu e o meu marido que o miserável ordenado que iria ganhar a trabalhar em part time num call center sem segurança, sem garantias, sem perspectivas nem paixão pelo trabalho em si não compensava o poder providenciar um lar para a familia, por mais pequena que esta seja. A decisão foi tomada após ter perdido vários empregos temporários daqueles que só são temporários no papel, mesmo, com contratos semanais e tudo, por ter de faltar devido a doenças do filho - já se sabe que os miúdos até aos 6 anos estão sempre constipados, ou com amigdalites, ou otites, ou o que seja, e as creches e infantários não lhes permitem frequentar o estabelecimento mal tenham febres de 38º! - pois somos só nós dois, eu e o pai dele, não temos recurso a avós que nos possam safar, e confesso que, apesar de não contribuir financeiramente para providenciar ás despesas que fazemos em familia, eu sou bem mais feliz assim, o meu filho também, e por consequência o marido é-o também. Vivemos com menos, pois vivemos, sem luxos, quase sem férias ou saídas, mas vivemos bem. Mais do que receber o que quer que seja em termos monetários pelo meu "trabalho" como mãe e dona de casa, gostava de receber respeito por parte das outras mulheres que escolheram caminhos de vida diferentes. Cheguei a ouvir na cara que era uma "chuleca" a viver ás custas do marido, uma "dondoca" a viver no bem bom, uma mulher dependente cujo marido não queria que trabalhasse para ser subserviente e dependente dele... enfim, gostava mesmo era que as mulheres que me rodeavam - que acabei por me afastar delas - tivessem a decencia de respeitar as decisões alheias, a minha neste caso, e de pensar que o que é bom para uns não será para outros, e que uma mulher pode sim, preferir ficar em casa e fazer o trabalho doméstico e de criação e manutenção de um ambiente familiar saudável e cuidado ao invés de construir uma carreira. Acima de tudo, era disso que eu gostava.

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    1. Cara Miranda, devo dizer-lhe que é uma mulher admirável. Ter coragem, nos dias de hoje, no país em que vivemos, para tomar uma decisão dessas é algo de um valor incalculável. É muito nobre.
      Devo dizer-lhe que o meu caso é diferente do seu. Tenho dois filhos e trabalho, bem como o meu marido. Mas, francamente, penso muitas vezes nessa possibilidade. Falta-me a coragem. E o incentivo. Mas o amor, esse, transborda. E isso faz de todas nós mulheres admiráveis.
      Parabéns pela sua aposta e boa sorte. Obrigado pelo seu comentário.

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