sexta-feira, 10 de abril de 2015

Carta sobre a quem lhe roubaram a maternidade

Se eu conhecesse a mãe a quem o companheiro matou o filho, dir-lhe-ia apenas:
 
"Minha querida,
 
Não consigo sequer imaginar o que está a viver neste momento.
Apenas consigo pensar nos meus filhos e imaginar o que seria perdê-los.
Não consigo sequer imaginar o que seria o pai deles esventrá-los e no que poderia eu fazer-lhe quando o apanhasse. Fosse o que fosse, seria sempre com requintes, muitos requintes de malvadez. Não me ocorre outra forma de fazê-lo pagar pela monstruosidade.
Tenha fé e força e esperança. Procure, para sempre, nos momentos piores, relembrar o momentos melhores. Aqueles em que foi mãe. Na sua plenitude."

E certamente dir-lhe-ia isto enquanto a abraçava...
 
O ventre materno. O ventre materno é tudo aquilo que um homem jamais irá perceber. O que gera, para além da vida. O que representa, para sempre, em nós. O elo que cria e alimenta aquilo a que mais tarde, após o nascimento do bebé, se chama maternidade. JAMAIS um homem poderá perceber o que sentimos quando um bebé cresce dentro de nós. E quando se mexe. E porque é que até quando nos magoa com os pés nas costelas nós sorrimos. JAMAIS um homem poderá perceber a responsabilidade que cresce connosco, quando no nosso ventre se desenvolve um ser humano. Jamais perceberá um parto, a dor, as lágrimas, o despojo na hora de parir. JAMAIS!
 
As mãos. As mãos de uma mãe curam tudo. São a delicadeza que um bebé precisa, por vezes, apenas para adormecer. São o fogo que os aquece, o termómetro quando estão doentes, o termóstato da água do banho. São o calmante das noites agitadas. São o cinto de segurança quando passeiam na rua. São tudo. O toque. O principal meio de comunicação entre mãe e filho.
 
O regaço. Não há regaço igual ao de uma mãe. Onde bate um coração a transbordar. Onde, sem saberem, os filhos ouvem esse coração, esse batimento que lhes dá confiança, amor, segurança. E a nós, às mães, tê-los ali, no nosso regaço, com vontade de abraçá-los com força, muita força, como se pudéssemos voltar a colocá-los dentro de nós. Isso nenhum homem jamais sentirá.
 
Não sei o que é ser pai. Comparando com a experiência da mulher... não entendo como nasce o amor de pai nos homens. Nasce no coração? Mas como? Como um primeiro amor? Ou como um amor que se vai construindo? Não sei o que é ser pai. Mas sei que há pais que também fazem de mães. E isso, é imensurável.

A este "pai" que ceifou a vida de um filho por sacrifício da sua imbecilidade, debilidade, monstruosidade, atrocidade, desiquilíbrio e tudo o mais que um ser humano tem de pior, desejo-lhe apenas uma coisa: o inferno. O maior dos infernos. Que vai para além de viver sem um filho.

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