quarta-feira, 12 de março de 2014

Lembras-te, filho?

Do dia em que nasceste? Do pai estar ao pé de nós na sala de partos? Da aflição em que nos deixaste, porque não choravas? Porque mal respiravas? Porque tiveste de ser assistido? Porque não te senti assim que saíste de dentro de mim?
 
Lembras-te de como nos rimos quando, finalmente, deste um ai? Do momento em que te deitaram no meu colo? De teres começado um choro intenso a anunciar o furacão que és? De te porem um gorro azul que nos fez lembrar um rapper conhecido?
 
Lembras-te de sairmos da sala de partos e de teres a família à tua espera? Os avós e a tia Rita? Mais tarde, os tios Filipe e Joana que, naquele dia, ficaram a tomar conta da mana? Da tua irmã entrar no quarto, tão feliz que estava, e perguntar: onde está o mano? De estares ao colo dela? E daquele sorriso que se apoderou das suas feições e lhe deu um brilho como nunca tínhamos visto?
 
Lembras-te do urso que o pai te comprou? Com uma núvem no colo? Como que a dizer: deixaste-me nas nuvens? Das visitas que tiveste? Da tia Vicência? Que esteve connosco pela penúltima vez, naquele dia, antes de partir?
 
Lembras-te do pai ter passado a tua primeira noite connosco no hospital? De ter passado a noite a dar-te festinhas e a sorrir como se tivesse acabado de descobrir um admirável mundo novo? E de mim? Lembras-te de mim? Do estado em que fiquei para te trazer ao mundo? Em êxtase!
 
Lembras-te da médica que me ajudou dizer: tem aqui um belo rapaz? E da enfermeira a admirar-te. Ela, que estava grávida?
 
Nao te lembras de nada, meu amor.
Mas um dia, se eu não estiver cá para te contar, podes sempre consultar este cantinho virtual. Aqui fica registado para a posteridade. Porque não sabemos o dia de amanhã. Porque apenas sei que fazes anos hoje. E nós também. Porque apenas sei que contigo nasceram uma irmã, um pai e uma mãe. Nasceram avós, tios e um primo. Nasceu o filho de uns amigos. O filho da vizinha. Um novo número de Bilhete de Identidade, de Segurança Social, de Contribuinte.
 
Nasceu mais um menino no nosso país. Neste país que não é para velhos. Neste país onde os teus pais também foram crianças. E foram felizes. E, contigo, continuam.

2 comentários:

  1. bem que dá para chorar!!! mas talvez seja das hormonas e da minha actual situação. lindo , só posso dizer lindo...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito obrigado Joana. Escrevo o que sinto e sinto o que escrevo. Apenas e só. Bjinhos

      Eliminar

Comente! Prometo responder!