quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Dúvidas... dela...

Ela: Mãe, o que é imaterial?
Eu: O que é o amor?
Ela: O amor... é algo que se sente... cá dentro...
Eu: Consegues tocar-lhe?
Ela: Não... Consigo senti-lo...
Eu: É isso que este "imaterial" quer dizer. Não conseguimos tocar, apalpar o cante alentejano, mas conseguimos senti-lo.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Em Paris... fui feliz...

Falar de Paris por estes dias pode parecer pernicioso, mas não é. Não é, porque não tem nada a ver com o que se passa em Portugal. Falar de Paris por estes dias, é sinal que guardo com carinho essa viagem que fiz com o meu marido. Essa viagem de 11 dias em que palmilhámos uma das cidades mais bonitas da Europa. Uma das cidades mais românticas que conheço.
 
Tenho saudades de Paris. Do tempo que demos ao tempo enquanto lá estivemos. Tenho saudades de viajar com ele, a sós, sem pressas nem correrias. Tenho saudades de andar na rua de mão dada sem disparar a correr porque uma das crianças nos fugiu. Tenho saudades de andar na rua sem gritar Venham para aqui.
 
Em Paris... fui feliz... Fomos felizes. Fizemos o cruzeiro do Sena, visitámos o Louvre e Notre-Dame e subimos à Torre Eiffel. Comemos baguetes francesas (a desejar comer das portuguesas), falámos francês, mas não tocámos piano. Fomos ao Moulin Rouge, a Montmartre e à Île Saint-Louis. Passeámos nos Champs Elysees e tirámos uma foto no Arc du Triomphe. Lembro-me do Museu d'Orsay, da lindíssima ponte Alexandre III, da Basílica de Sacre-Coeur e do Jardim das Tuileries, contíguo ao Louvre. Fizemos quase tudo o que havia para fazer. E guardo tudo isto como se tivesse vivido tudo isto... ontem...
 
Por esta altura do ano tenho sempre vontade de viajar. E recordo, sem querer, as viagens que já fizemos. A desejar a próxima.

Directamente de Olhos d'Água

D. Cláudia, muitos parabéns. Adorei o seu livro e a maneira como fala de um assunto sério de forma tão simples e leve. Continue a escrever que eu irei continuar a ler. Parabéns mais uma vez!
 
Não sei se a Olinda Frazão tem sotaque algarvio, mas esta mensagem chegou-me com sabor a água e sal. A água e sal do Algarve.
 
Obrigado. Um beijinho no coração.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

É triste... este país...

Num destes dias, ainda antes do mediático caso Sócrates, tentei fazer um exercício que, diga-se, tive alguma dificuldade em concluir. Pensei para comigo Ora bem, Citius, a colocação de professores, vistos gold, caso BES, submarinos (esta aparece-me sempre)... vamos lá parar para pensar no que é que aconteceu de bom nos últimos tempos por terras lusas... Conclusão: Sara Moreira. A atleta portuguesa que ficou em 3.º lugar na maratona de Nova Iorque e que, ainda com este feito, não se livrou do tiro ao alvo que os tugas mesquinhos lhe fizeram. E a maior das conclusões: É triste... É muito triste...
 
É triste vivermos num país assim. Um país cuja mancha da corrupção parece uma poça de sangue que se espalha por onde pode marcando o seu caminho. Indelevelmente. É triste vivermos num país que nos habituou a uma justiça lenta, a um descrédito no nosso Estado, à desconfiança nas pessoas que elegemos (votando ou não), à inceretza sobre o nosso futuro. É triste ter na voz o fado e os descobrimentos e depois voltar costas ao que é a nossa identidade. Quase como que envergonhados por sermos portugueses.
 
É triste ter uma comunicação social que vive da desinformação. Que vive do espectáculo, da chacina e do sensacionalismo. É triste verificar que se assim é, então a realidade é só uma: é isso que o povo quer. É isso que alimenta a fome e a sede da desgraça alheia. O voyeurismo. O querer pôr a descoberto os podres, a falta de pudor, cultura e inteligência. Como se de seres superiores estivessemos a falar. É triste. Muito triste.
 
Hoje estou mesmo triste. O caso Sócrates entristece-me. Não me alegra a ideia de ver preso um ex-primeiro ministro, como se isso fosse a prova de que a justiça portuguesa funciona. Não acredito que é agora que irá ganhar a nossa confiança. Não acredito que sejam só as acusações de que é alvo que estão por detrás da sua prisão. Não acredito nos homens que o prenderam. Nem nos que o defendem.
 
Entristece-me esta podridão. Seja ele o Sócrates ou outro qualquer. Tudo cheira mal. Basta levantar um bocadinho do véu deste ou daquele que é um fedor que não se pode. E isso deixa-me profundamente triste. Não acredito em cores partidárias para separar o trigo do joio. Também não acredito que todos os políticos sejam corruptos ou outra coisa qualquer. Acredito que é como em tudo na vida. Que há pessoas sérias também. Mas entristece-me esta nossa cultura de espezinhar na praça pública toda e qualquer situação que dê azo a espectáculos baratos. As pessoas não medem o que dizem. Não medem o que fazem. Não medem os limites. E, depois, espalham-se. Isso deixa-me triste.
 
O nosso país está a arder. Há frentes indomáveis que ameaçam queimar tudo em volta. Há focos que reacendem a cada instante. E não há bombeiros que cheguem ou que consigam fazer frente a esta ameaça. A esta forte ameaça. Não há homens que consigam evitar danos colaterais.
 
Parece-me que os tribunais seriam poucos e as prisões também. Se em Portugal se julgassem todos aqueles que desde o 25 de Abril de 1974 levaram um povo, o nosso povo, a pedir para comer.

O meu filho e o Pai Natal

Conversávamos sobre o Natal e ele dizia-me:
 
- Tu podes dar-me isto, a avó aquilo, a tia o outro...
- Eu? Mas não sou eu que te dou presentes. É o Pai Natal!
- Ai não, não, mãe! O Pai Natal não existe!!
Ups...
- Não existe? - perguntei-lhe.
- Não! Nós não sabemos nada do Pai Natal. Ele só existe na nossa cabeça.
- Mas quem é que te disse isso?!?
- Ninguém! Saiu do meu cérebro!
 
E eu que instruí a mais velha para não falar sobre isso e deixá-lo acreditar.
E depois ele dá-me a mais simples das explicações.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Preciso de silêncio

Desde sempre, desde que me lembro de mim, que preciso de estar comigo. Preciso de momentos de introspecção, de reflexão. Vivo a vida todos os dias como um fósforo, tal como ela é, mas o silêncio é o meu melhor amigo. Nele encontro as respostas de que preciso. Encontro-me com as minhas dúvidas. Encontro os caminhos que procuro. Nele, perco-me por momentos e organizo-me para a vida.
 
Diariamente consigo ter momentos de silêncio. Na azáfama dos dias, consigo entre uma hora e outra aproveitar os momentos em que estou só para esse encontro. Penso imenso sobre tudo. Penso profundamente. E consigo continuar essa reflexão se for interrompida. Consigo que o meu momento de silêncio interrompido continue num silêncio próximo exactamente a partir do mesmo momento em que terminou.
 
Pode parecer estranho para quem me conhece e me vê sempre a correr. Pode parecer estranho para quem me conhece e sabe que tenho dois filhos, um emprego, um livro para promover e que estou a meio de um curso que estou a tirar. Pode parecer estranho, mas quem me conhece sabe que me organizo assim. Comigo.
 
Há 4 dias que não escrevia aqui. E como me faz falta vir aqui! Mas não foi porque precisava de silêncio. Foi, simplesmente, porque tinha um barulho ensurdecedor dentro de mim. E, quando assim é, prefiro não escrever. Prefiro não correr o risco de não me fazer entender.
 
Preciso de silêncio. De vez em quando preciso de silêncio. Para conseguir ouvir. 

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Reunite

No curso que estou a tirar aprendi que existe uma figura de estilo pela qual os portugueses são conhecidos por essa Europa fora, ou seja, portuguese meeting style. E o que é isso mais concretamente? Nada mais, nada menos que a conhecida e famosa "reunite". Um mal de que padecem muitos portugueses. A reunião sobre tudo e sobre nada. E, mais concretamente, as reuniões que se fazem dentro das reuniões.
 
Somos conhecidos por reunir demais e por fazermos pequenas reuniões dentro das reuniões. Falamos sobre tudo. Discutimos tudo. E só depois é que discutimos o que realmente nos levou àquela reunião.
 
É certo e sabido que somos um povo que gosta de conversar. Socializar. Descontrair. Discutir assuntos sérios à mesa. Pelos vistos, os nossos parceiros europeus criticam-nos esses modos, mas a verdade é que gostam de vir a Portugal e serem recebidos "à portuguesa". Gostam de comer e beber e discutir assuntos sérios nos nossos restaurantes. Mas... adiante...
 
Com o objetivo de diminuir o tempo das reuniões e torná-las mais concisas e conclusivas redigiu-se uma carta de intenções sobre o que deve ser uma reunião. Quem a redigiu? Os chineses. Perdão! Os golden chineses. Pois também queriam figurar o seu método de trabalho. (Coisa que ainda não conseguiram) Para eles reunir é:
 
- juntar as pessoas envolvidas no assunto a discutir... EM PÉ!
- marcar uma hora de início atípica e uma hora para acabar. Tipo das 14.12 às 14.27
- distribuir uma ordem de trabalhos concisa
 
Passado o tem previsto é tudo posto a marchar.
 
Hoje tive uma reunião de trabalho no gabinete da boss. Assunto sério e que serviria de preparação para uma próxima reunião com agentes externos. Era preciso afinar agulhas. Por isso pensei que iria ser concisa. Pus-me a observar e, espantem-se, lá vieram as reuniões dentro da reunião e MAIS, depois de tudo acertado lá vieram mais reuniões dentro da reunião.
 
É, de facto, uma perda de tempo. Mas nós somos assim. Encalorados. Gostamos de falar do que nos move, do que nos apaixona e das experiências que tivemos. Gostamos de partilhas emoções e somos, antes de mais, grandes contadores de histórias. Gostamos de confraternizar com os colegas e de ouvir o que têm para contar. Mas também gostamos de trabalhar. Somos inventivos. Criativos. Divertidos. Recebemos bem e não olhamos a quem. Por isso, excelentíssimos senhores que nos criticam, lembrem-se que em Portugal são bem recebidos. E que o calor que levam daqui não tem preço nem encontram em mais lado nenhum.

Outra pérola do mais novo

Recebi um recado da escola dele sobre os cuidados necessários para evitar e eliminar piolhos. Senhor meu filho, sempre muito atento a todos os assuntos, vira-se para mim:
 
- O meu amigo X tem piolhos, mãe!
- Como é que tu sabes?
- Porque ele coçou a cabeça!
- Mas isso não quer dizer que tenha piolhos!
- Ai tem sim, mãe! Eu vi-os a subirem pelos ténis dele!!
 
E pronto. É isto!
Senhor meu filho tem sempre uma explicação para tudo! :)

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O meu marido é o Richard Gere

Quem viu o Shall we dance/Dança comigo com o Richard Gere e a Jennifer Lopez? Um filme sobre um advogado que vivia nos subúrbios da cidade, acomodado à rotina profissional e familiar e que todos os dias, quando regressava a casa de comboio, ficava a olhar para a janela de uma escola de dança cuja professora era gira como tudo?
 
Quem viu este filme, sabe que se tratava de um homem de meia idade que precisava de dar mais emoção à sua vida. E aprender a dançar pareceu-lhe ser uma boa ideia. O filme está giro, claro, com actores destes!! Reflete bem a sensualidade que a dança confere aos pares e, também, o que passa pela cabeça dos homens.
 
Agora, depois deste introito, o verdadeiro motivo deste post.
Senhor meu marido, charmoso como o Richard Gere, grisalho como o Richard Gere e, ainda por cima, homem do Direito, tal como a personagem do Richard Gere neste filme, é um homem que não nasceu com dotes de dançarino. Não tem swing, é descoordenado, tropeça nos pés quando é para dançar com um par, foge a sete pés de tudo o que são ritmos africanos, não consegue gingar e, imaginem, consciente desta falha, no dia do nosso casamento armou tudo para abrir o baile com um slow. De maneira a não dar parte fraca. Sim! Porque falhar um slow era difícil, certo?
 
No entanto, tiro-lhe o chapéu. Tem evoluído bastante. Já não foge de dançar. Quer, mesmo, dançar. E agarra-me! Ele querer quer, mas ao fim de dois minutos já estou cansada de ir a conduzi-lo. De fazer força para a direita quando é para ir para a esquerda. De não conseguir usufruir da música porque ao ouvido dele estou a dizer: um, dois, um! Um, dois, um! (quando a dança obriga a um, dois, um, dois ou um, dois três, um, dois três... nem vos conto...) Porém, a sua evolução já lhe permite aventurar-se na dança com outras pessoas, além de mim. Nada mau! (lembro-me sempre de uma noite de Santo António na Bica em que ele passou por mim a arrastar a minha irmã.... um filme...)
 
Pois bem! Apesar desta evolução, ainda há muito caminho para desbravar. E senhor meu marido agora, aos 43 anos de idade, anda com a ideia de meter-se numa escola de dança!! What??? 
 
Primeiro,
Se fosse aqui a je a querer meter-se numa escola e passar os fins de dia a dançar com aqueles jeitosos dos professores é que eu queria ver!
 
Segundo,
Passo a vida a levar à escola, a levar à natação e o diabo a sete, porque ele trabalha horas a fio e agora já arranjava um tempinho para isso!
 
Terceiro,
Enão e se lhe calha uma Jennifer Lopez como professora e o homem começa a achar graça à coisa e, de repente, chega-me a casa a dizer que vai participar nas olimpíadas das danças de salão?
 
Quarto,
O meu filho passa a vida a relatar as coisas que fazemos. Havia de ser giro o pai entrar na escola e toda a gente a rir-se ao imaginá-lo de calcinhas de licra e sapatilhas de ballet!
 
Quinto,
Então eu ando a adiar a depilação a laser por causa do custo elevado da coisa e agora ele ia gastar dinheiro assim?!? A dançar?!?
 
Não posso crer que ele pondera, MESMO, aprender a dançar com outra qualquer. Sim, porque se é para ir eu também vou!! Ando mesmo com vontade de aprender quizomba! (tooomaaa) Mas sempre quero ver onde é que isto vai parar. Se vai dar em alguma coisa ou... nem por isso..
 
Seja como for, deixo aqui 3 minutos do filme. Só para perceberem os riscos que ele quer correr.

 
(Prometo que conto o resto. Desde que se registem novos desenvolvimento)

Directamento de Ferreira do Alentejo

A Maria Amélia comprou o "Onde está a avó?" e no dia em que o recebeu mandou-me esta mensagem:
 
Gosto muito de a ler. Já acompanhava o seu blog e sempre que fala do Alentejo fico muito feliz. Quando vi que ia lançar um livro fiquei com muita vontade de ir a Lisboa, mas não pude. Tive de ficar com a minha mãe... Já estava à espera de gostar da história e hoje confirmei isso mesmo. Também já o mostrei à minha mãe e vou levá-lo para a minha escola para mostrar às minhas colegas. Muitos parabéns. A história é linda e muito verdadeira.
 
Imagino a Maria Amélia a escrever isto com sotaque alentejano. E foi assim que ecoou o e-mail na minha cabeça. É por estas coisas que eu ainda ando por aqui. Pois são estas coisas que me aquecem o coração.
 
Obrigado Maria Amélia. Muito obrigado.

As crianças não são adultos

Por isso não devemos ter algumas conversas à frente delas. Não entendem o que dizemos e, ao  esforçarem-se para isso, pode dar-se o caso de "crescerem" antes do tempo. Utilizando uma linguagem que desconhecem e da qual se apoderam como grandes entendedores.
 
As crianças não são adultos.
Por isso a eles o que lhes é devido na sua conta, peso e medida. Os ambientes que vivemos, os ambientes de adultos, nem sempre são os adequados para eles. Não podemos querer que nos acompanehm para todo o lado. Temos de fazer cedências. E, por vezes, dizer não. Aos outros adultos.
 
As crianças não são adultos.
Por isso não devem ver tudo o que dá na televisão. Começando pelos telejornais que lhes oferecem de bandeja temas intrigantes e de faca e alguidar. Que lhes alimentam medos e incertezas. E que os convidam a fazer filmes nas suas cabeças.
 
As crianças não são adultos.
Por isso devem vestir-se como tal. Sendo crianças, enquanto podem, até na roupa. Sem pressa de crescer. Por isso devem calçar-se como tal. E deixar as roupas e acessórios de adultos para quando lá chegarem.
 
As crianças não são adultos.
Por isso não podem fazer o que lhes dá na real gana. Não podem virar costas, nem sair porta fora. Devem pedir licença, pedir desculpa e dar um beijo ao levantar e outro ao deitar. Devem respeitar os pais e não sentirem que podem desafiá-los.
 
As crianças não são adultos.
Por isso devem ter horas para comer, para brincar, para trabalhar, para descansar. Devem comer à mesa, acompanhadas da família. E devem comer sopa todos os dias.
 
As crianças não são adultos.
Por isso, devemos falar-lhes como tal. Com paciência, para que nos entendam. Com paciência, para que nos consigamos fazer entender. Com espaço para a aprendizagem. Dentro dos seus mundos. Aqueles que conhecem.
 
As crianças não são adultos.
Por isso, não devemos arrastá-los connosco nos nossos hábitos. Eles aprendem com os exemplos. E nós devemos ser os primeiros a dar o exemplo.
 
As crianças não são adultos.
Serão, isso sim, os adultos de amanhã. São as sementes daquilo que plantarmos. Os herdeiros do mundo que deixarmos. Os alvos do nosso amor, desamor, impaciência, displicência. São aquilo que quisermos. Mas o que quisermos deverá ser sempre o melhor do mundo. Tal como elas são para nós. O melhor do mundo.

 

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Passatempo

A Cláudia Pedro do Ser mais, desafiou-me a ser sua parceira num passatempo com o meu livro. Vejam aqui como podem participar. E boa sorte! :)
 
 

Hoje és, de novo, bebé

Pouco depois de começarmos a namorar decidiste fazer anos. 24. E todos os anos pergunto-te se ainda te lembras qual foi o presente que te ofereci. E todos os anos respondes Uma carteira. Não foi fácil. Conhecia-te há pouco tempo e logo que começamos a namorar fizeste anos. Uma espécie de teste à minha capacidade de observação.
 
Como tinha um horário de trabalho que me ocupava os dias até às 11 da noite, pedi à nossa amiga Elvira que me fizesse o favor de te comprar uma carteira. A única coisa de que me dei conta que estavas a precisar. A tua já mal fechava e uma carteira de homem é sempre um bom presente.
 
Hoje fazes anos. Outra vez... 43. E hoje são os teus filhos os principais promotores dessa coisa que é oferecer presentes em dia de aniversário. Um mês antes do dia começam a falar disso. E o que é que vamos dar ao pai? Não que esqueças, mãe! Falta pouco tempo. E eu não me esqueço. Nunca me esqueci.
 
Gostas de fazer anos. Gostas de ter a família à tua volta, de acender a lareira e ter um bolo com o teu nome. Gostas que o telefone toque vezes sem conta durante o dia. Que os amigos se lembrem de ti e de ser surpreendido. Gostas de pegar nos miúdos ao colo para apagarem as velas contigo e de abrir presentes como uma criança na noite de Natal. Gostas que te prepare um bolo. Eu. Na nossa cozinha. E gostas de terminar a noite agarrado a mim e adormecer a sorrir.
 
E eu, que gosto de brincar contigo, todos os anos faço questão de lembrar-te sobre os teus cabelos brancos. De dizer que estás a caminho dos 50, enquanto eu ainda estou nos 30. De provocar-te sorrisos incomodativos sobre esta realidade que é a vida. Um fósforo que arde num abrir e fechar de olhos. Mas tu sabes que sou eu o motor deste dia que gostas de celebrar. E que assim será. Enquanto Deus quiser.
 
Parabéns! Tem um dia feliz.
A pensar na noite que está para vir. A que programámos. Em família.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Já me tinham dito...

... mas eu não queria acreditar...
Não me lembro de ter passado por esta fase quando era miúda. Mas as pessoas que conheço com filhos mais velhos que os meus, já me tinham alertado. É, no mínimo, incompreensível. E, pelos vistos, já chegou cá a casa...
 
É um 31 para ela tomar banho! Não quer! É sempre um desatino. Se já sabe que vou mandá-la para a banheira, porque é que não vai logo? Evitando que me aborreça com ela e antecipando essa hora fatídica em que mede forças comigo e acaba por perder. Além de que ainda não percebeu que as coisas que nos chateiam devem ser feitas em primeiro lugar para, depois, gozarmos o prato descansados da vida.
 
Hoje deixei-a andar para ver até onde ia. E, ela, nada!! Para a frente e para trás, jantar quase na mesa e... nada...
Eu: Não estás a pensar tomar banho?
Ele: Hã?!? Tomei ontem e vou tomar amanhã...
Eu: E?
Ela: Hoje não preciso...
Eu: Ok. Então hoje não jantas!
Ela: O quê? Porquê?
Eu: Porque jantaste ontem e vais jantar amanhã.
Ela: Não é a mesma coisa!!!
Eu: Para mim é. Todos para a mesa!! - Chamei. - Menos tu! - Disse-lhe.
 
Estava na cozinha a ouvi o esquentador. Era ela. A tomar banho e, em menos de nada, estava à mesa connosco.  Sim, que banho ela não quer, mas sair da banheira também é uma tarefa árdua...
 
Mais uma vez perdeu a batalha.
Até quando esta fase?

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Carlota = Talento

Não fiquei surpreendida com os trabalhos expostos no Palácio Ribamar. Já conhecia a pintora. Os seus trejeitos com o pincel. O talento imenso que tem. A sua sensibilidade. As suas raízes e a mulher que é. É verdade que Carlota rima com talento. E com sensualidade, profissionalismo, maternidade e amizade. Carlota rima com preseverança, sentido de aventura e espírito crítico. Rima com família e fé. A Carlota tem fé. Num mundo melhor.
 
Inaugurou ontem a sua exposição. Chama-se "De olhos fechados". É uma explosão de cor e de memórias. Quem a conhece reconhece nos quadros a sua história. As suas raízes. O seu estilo. Naif. Não só na pintura, mas em muito daquilo que é enquanto pessoa.
 
Gosto muito da Carlota, que para mim tem outro nome. Gosto muito de adjectivá-la, porque é fácil falar de pessoas boas. E pessoas boas com talento é um privilégio conhecer. Sobretudo quando, como eu, é do Alentejo. Da minha terra. Da terra que nos viu meninas e moças e que nos recebe mulheres casadoiras. Mães. Da terra de que precisamos para recarregar baterias. Para sermos felizes.
 
Que tenhas todo o sucesso do mundo. Com ou sem sotaque alentejano. Aquele que ainda te escapa.
 








A exposição está patente no Palácio Ribamar em Algés, de 14 a 30 de Novembro

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Pequenas grandes ideias

Já vejo o "Lago dos tubarões" há algum tempo. Gosto das pequenas grandes ideias que aparecem por lá e que resolvem pequenos grandes problemas. Gosto do empreendedorismo de cada concorrente, da coragem, dedicação e, até, obstinação por aquilo em que acreditam e do investimento que os milionários fazem. Pessoas de visão, responsáveis pela construção de grandes fortunas.
 
Toda a minha vida andei com o almoço atrás. Tanto para a faculdade como para o emprego. E desde há uns anos a esta parte pensei que seria bom ter uma lancheira eléctrica. Evitando estar dependente de um microondas. Algo que desse, até, para usar no isqueiro do carro. Disse-o vezes sem conta. Até que, não há muito tempo, deparei-me com uma promoção do Jornal Público exactamente com lancheiras eléctricas. Caiu-me tudo ao chão. Já existia uma coisa na qual eu tinha pensado durante anos a fio e, afinal, podia estar rica. Se tivesse registado e avançado com a ideia.
 
Porquê este post?
Para dizer que, por vezes, basta acreditarmos um pouco em nós e ganhar coragem para avançar com pequenas grandes ideias. Se são úteis para nós, certamente haverão inúmeras outras pessoas com as mesmas necessidades. Para dizer que, por vezes, o menos é mais. Lembrem-se do post-it. Uma pequena grande invenção. Uma patente valiosissíma, da 3M, que foi uma descoberta que aconteceu por acaso. Para dizer que nós somos mais do que aquilo que pensamos ser. Conseguimos mais do que aquilo que pensamos conseguir. É preciso focarmo-nos. Traçar um objectivo e ter visão.
 
Dito assim, parece que é preciso muita coisa ao mesmo tempo. Em várias formações que dei perguntaram-me, várias vezes, como é que isso se faz. Na verdade, não há fórmulas mágicas. Mas penso que se seguirmos o nosso instinto já é um pequeno grande passo para pequenas grandes conquistas. E isso não tem de significar uma invenção capaz de mudar o rumo da Humanidade. Significa, apenas e só, limar arestas. Estar atento. Aproveitar as oportunidades.
 
Vem aí o "Lago dos tubarões" português. Quero ver, claro! As ideias e, sobretudo, os empresários que farão parte do júri. Já li qualquer coisa sobre isso, mas já estou como o outro Ver para crer! Espero que corresponda ao formato original. Senão, caso contrário, irá perder o interesse.

O que ele anda a pedir


Uma casa na árvore.
Volta e meia lá me fala da casa. Como se pudesse ir ao IKEA comprar uma e montar numa árvore qualquer. Sim, porque para ter uma destas casas convém ter uma árvore. E nós não temos. Está a escapar-lhe essa parte.
 
- Para que queres uma casa na árvore?
- Para construir um forte!!
- Um forte?
- Sim! Para mim e para os meus amigos!!
- Ai é?!? Então e eu não posso ir lá?
- Podes... levar o lanche...
 
Tem a esperança de receber uma pelo Natal. E eu já lhe expliquei que o Pai Natal não pode com a casa às costas. Põe no trenó! diz-me ele. Descomplicando.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O lado bom das coisas más



Somos um povo com a grande capacidade de relativizar. Perante as maiores desgraças vemos sempre o lado menos mau das situações. Se uma pessoa tem um acidente e parte uma perna, pelo menos não partiu mais nada! Se bate com o carro, pelo menos o carro ainda anda! Se perdemos um trabalho que estamos a fazer no PC, pelo menos ainda temos memória para recuperar alguma coisa e o melhor é começarmos imediatamente a escrever tudo de novo! Se uma pessoa fica desempregada, pelo menos tem o subsídio de desemprego. Se uma pessoa perde o subsídio de desemprego, pelo menos tem família que a ajude.

Somos os reis da relativização. Em relação aos outros.

Quando nos acontece alguma coisa... essa incrível capacidade desaparece em três tempos. Todo um mundo de desgraças abate-se sobre nós. Não encontramos saída, pois a conspiração contra nós é maior que tudo o resto. E, muitas das vezes, a única coisa que conseguimos fazer é ficarmos firmes e hirtos. À espera que passe.

Relativamente à pergunta da imagem conseguimos ter sempre uma resposta. A mais óbvia de todas. A mais típica dos portugueses. Há sempre alguém mais infeliz.

Somos os mestres da relativização. Relativamente à vida dos outros. E, assim, encontramos refúgios para continuar. Na mesma.

O meu filho diz que vou morrer

Ontem cheguei a casa e enfiei-me na banheira. Já passava das 20.00 e, além de estar gelada, tínhamos estado a comer castanhas, pelo que ninguém quis jantar. Mas o João Pestana andava a ameaçar desde as 6 da tarde e foi exactamente durante a hora do MEU banho que ele atacou em força.
 
À porta da casa de banho o mais pequeno começou num berreiro daqueles. E porque também queria tomar banho. E porque eu fui sozinha para a banheira. E porque não o levei. E porque não interessava nada ele já ter tomado banho. E rebebéu pardais ao ninho. Prometi-lhe que quando saísse deixava-o deitar-se comigo, na minha cama, às escondidas do pai e da mana. Só para que se sentisse especialmente mimado.
 
Assim foi. Deitámo-nos. Não me deixou apagar a luz da mesa de cabeceira. Abraçou-me, pôs uma perna por cima de mim e deu-me beijinhos prolongados. O corpo a reclamar e a celebrar a minha presença.
 
- Mãe, eu vou querer viver para sempre contigo
- Está bem amor. Podes ficar cá para sempre.
- Mas depois, quando eu crescer, tu vais morrer.
Ups! Não estava à espera...
- Vou?!?
- Vais mãe. E eu vou ter saudades tuas.
E, nisto, abraça-me ainda com mais força e começa a chorar. Desalmadamente.
- Filho, calma! A mãe não vai morrer!
- Vais sim, mãe! Há muitos cemitérios vazios.
A conclusão a que chegou. A explicação que me deu. A verdade absoluta sobre a morte.
 
Consegui acalmá-lo. Consegui que percebesse que isso da mãe morrer é qualquer coisa que ainda está muito longe de acontecer. Consegui que me lesse o pensamento quando lhe perguntei onde é que eu viverei para sempre. Respondeu-me no meu coração. Mas a conversa terminou com a sua última palavra. Eu sei que tu vais morrer.
 
Sei que por estes dias ainda poderá voltar ao assunto, mas também sei que se irá esquecer. Sei que esta é uma fase própria da idade, a curiosidade sobre a morte, mas também percebi que ele já tem respostas. Certezas absolutas. E poucas dúvidas. Tem a certeza de que eu vou morrer. Sei que não vai ler este blog tão depressa, mas se eu não morrer antes farei questão de mostra-lhe o que me disse um dia. Sobre a minha morte. Sobre os cemitérios vazios.
 
As crianças surpreendem-nos com as suas respostas. Esta minha criança surpreendeu-me com a sua inocente e tão verdadeira certeza. E conhecimento sobre a vida. Porque um dia morrerei, morreremos todos. Mas Deus me livre e guarde para morrer antes dele. É só isso que me assusta.

Sobre a viagem ao Porto - Parte II

Ir ao Porto e não visitar as caves do vinho do Porto é quase um sacrilégio. Além de fazer parte da nossa história, a história deste vinho tão afamado e apreciado por esse mundo fora, é uma visita que nos enriquece e uma oportunidade de entrarmos num mundo desconhecido. Pelo menos para mim que não me movo nestes meios.
 
Já íamos com esta visita fisgada e depois de almoçarmos uma bela francesinha na Rua de Santa Catarina, pusemos pés ao caminho e fomos à procura de uma das várias caves que podemos visitar. O grande, grande, grande problema que tivemos durante este fim de semana foi o estacionamento. Verdade seja dita que ao conseguirmos estacionar em frente às caves Sandeman decidimos que seria essa a visitar, apenas porque continuar à procura de estacionamento levar-nos-ía a uma grande perda de tempo.
 
Assim o pensámos, mas a visita em português seria, apenas, pelas 18.00 e eram 15.20... Indicaram-nos as caves Ferreira que fazem parte do mesmo grupo, tal com as Offley, pois teriam uma visita em português às 16.00 e depois de dez minutos a pé, que se fazem bem com os miúdos, já lá estávamos. Eles não pagaram. Nós pagámos 5€ cada um com visita guiada e degustação de vinhos. Nesta caso um vinho do Porto Ferreira tinto e um branco.
 
Não sou especialmente fã de vinho. No geral, não me atrai. Apesar de reconhecer que o vinho do Porto é mais doce que os demais. Mas dispenso. No entanto, devo dizer-vos que no final da visita, e depois do que ouvi, tive vontade de voltar a experimentar. Não foi a locura, mas soube bem. Aliás, melhor do que o vinho que compramos por aí. Gostei do branco, que senti como mais leve e doce e o tinto, apesar de doce, "arde" na garganta.

As fotos dentro das caves ficaram muito escuras, por isso não as publico. Fica, apenas, um cheirinho. Para aguçar-vos o apetite.


Foi aqui que fizemos a primeira tentativa. Há quem diga que quem vê uma vê as outras
 
A fachada das caves Ferreira


Os famosos barcos Rabelo que transportavam o vinho pelo rio Douro. Ao fundo, a outra margem. Do lado do Porto

Uma vista magnífica. As caves ficam na margem de Gaia

Uma foto alusiva ao trabalho no campo na altura das vindimas. Faz parte do pequeno museu das caves

Os vinhos que degustamos
 
O vinho do Porto Ferreira tem uma história atípica e é um grande exemplo de empreendedorismo. Atípica, pois a sua personagem principal é uma mulher, Antónia Ferreira que, no tempo que viveu, era a única mulher a dedicar-se ao vinho. Para manter o negócio na família, casou com um primo, mas enviuvou aos 33 anos de idade. Nunca mais casou e fez da sua vida um exemplo de trabalho, esforço, visão e bondade. Construiu escolas e ajudou a população. E, dizem, que sem o seu esforço e dedicação o vinho Ferreira não seria o que é hoje.
 
Eu cá digo. É uma mulher do Norte!
 
Vale a pena fazer este programa. E nós,que não conhecíamos a cidade, ficámos deslumbrados com as margens do rio, os contrastes entre o lado do Porto e o lado de Gaia. Os miúdos adoraram o fim de semana. Portaram-se lindamente nas caves. Também queriam experimentar o vinho, mas contentaram-se com umas castanhas assadas à saída.
 
Fiquem por aí. A história contnua.


terça-feira, 11 de novembro de 2014

Sobre a família dos nossos companheiros

E sobre a nossa família.
Um texto que diz tudo sobre como vemos a família do nosso cônjugue, companheiro, what ever. E como eles vêm a nossa. Aqui.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Directamente do Funchal



Foi com a promessa de enviar-me um bolo do caco que a Fernanda Alheiro me encomendou o livro. Caso gostasse, é claro, daquilo que lhe estava reservado. Daquilo que tinha saído das minhas mãos. E da minha cabeça. E do meu coração. Para todos os que quisessem ler.
 
O bolo do caco ainda não chegou, pois os e-mail's chegam mais depressa e parece-me que a Fernanda teve uma ideia melhor:
 
D. Cláudia Guerreiro Marques,
Parece que vou ter de lhe enviar um bolo do caco. Aliás, um por mês durante um ano, porque adorei, amei, estou apaixonada pelo seu livro. Acho que está ao nível da minha adoração pelo bolo, por isso convido-a a vir ao Funchal para não corrermos o risco do bolo se perder pelo caminho ou ficar contaminado e perder o seu sabor original.
Muitos parabéns. Para quando o próximo?"
 
Cara Fernanda, como já tive oportunidade de dizer-lhe, terei todo o gosto em ir ao Funchal. Fica prometido que avisarei com antecedência para dois dedos de conversa e um abraço. Quanto ao próximo livro... primeiro vou gozar este.
 
Um beijinho no coração.

Folga?!?

Segundo o dicionário folga significada tempo de inactividade de um trabalhador.
 
Para uma mãe deve ser qualquer coisa como:
tempo que a mãe demora entre acabar uma tarefa e começar outra, sendo que pelo meio está a sua capacidade multifunções. Folga, para mim, resume-se ao tempo do banho. Quando consigo tomá-lo sozinha...

domingo, 9 de novembro de 2014

Coisas que encanitam os miúdos...

Ou melhor, a mais velha. Ela que gosta, acompanha e comenta as notícias. Ela que não fica satisfeita com um Porque sim!, mas que procura sempre pelo que lhe faça sentido. Ela que é uma curiosa nata e gosta de ir mais longe sobre as questões que desconhece. Ela que andou preocupada com o Ébola. Ela que agora anda preocupada com a Legionella.
 
Isto de tê-los a fazerem perguntas para as quais nós próprios não temos respostas é deveras complicado. E faz-nos sentir impotentes. E numa situação destas que está a acontecer mesmo aqui ao lado, para quem não tem noção dos limites, das distâncias, da forma como as doenças se disseminam ou, sequer, sobre o que significa foco neste contexto, ouvimos as coisas mais inesperadas...
 
Se calhar é melhor não ir à piscina esta semana.
Tenho sede. Posso beber leite?
Estou a ficar preocupada...
Será melhor pôr uma máscara quando for tomar banho?
 
E andamos nisto.

Aqui jaz um homem livre e de bons costumes...

Ontem jantei com um grupo de amigos com quem se proporcionam, sempre, encontros de grande entusiasmo em torno de reflexões profundas sobre tudo e mais alguma coisa. Digo "profundas", porque partilhamos o mesmo vigor nas discussões e gostamos do sabor do calor de uma boa troca de ideias. E se, por acaso, nunca tínhamos reflectido sobre os assuntos que este ou aquele coloca em cima da mesa, rapidamente fazemos um exercício oral, e introspectivo, de resposta e contra resposta. Uma espécie de tertúlia camoniana que anima as hostes e, ainda por cima, acompanhada de bebidas e petiscos. À verdadeira imagem do portuguese meeting style.
 
Gosto, particularmente, de acabar a noite com a sensação de ter tido uma troca de ideias válidas, enviesadas pelo saber de experiência feito, salutares e que me deixem a pensar sobre os temas debatidos. Gosto, talvez, por sentir que me enriquecem. E que são um bom ponto de partida para novas descobertas. Pesquisas. Conclusões.
 
Falámos de coisas tão diversificadas como literatura, homossexualidade, maçonaria, filosofia, antropofagia e, espantem-se, epitáfios. Um dos nossos amigos teve um momento altamente revelador, pelo menos para mim, quando disse que anda a pensar e a tentar escrever o seu epitáfio à luz daquilo que foi a sua vida até hoje, mas com a certeza de que esse teria de ser um documento em aberto, alvo de vários updates ao longo da vida. A que lhe falta viver.
 
Disse-nos que gostaria de ser citado e que tem a mais pura consciência da inconstância da vida. Do desconhecimento sobre a morte. Da inoperância sobre a hora final. Comparou essa falta de tacto à Alegoria da caverna de Platão exemplificando como a escuridão perante a verdade tem o poder de aprisionar-nos a uma curta visão sobre o que andamos cá a fazer. E até quando. Somos, portanto, uma espécie de prisioneiros da caverna. Alegoricamente.
 
Admiro esta sua tentativa. Escrever sobre nós próprios, adjectivando-nos, não é tarefa fácil. Resumir o que fomos  e vivemos numa lápide, ainda pior. E os que ficam? Não serão esses os únicos que vivem, realmente, a nossa morte? Não dependerá deles a nossa memória? Não deveremos libertá-los daquilo que é a nossa vontade uma vez que já não estaremos cá? Ou deveremos continuar a impor-nos mesmo depois de encontrarmos aquilo que não sabemos que nos espera? Admiro a sua tentativa. A finta que tenta fazer à caverna. Essa caverna onde vivemos aprisionados.
 
Não consegui dizer que o meu epitáfio não serei eu a escrevê-lo nem ninguém que fique cá a carpir a minha morte. Pois, pura e simplesmente, não quero continuar a impor a minha vontade aprisionando os que ficam. Não quero a romaria de Domingo ou do Dia de Todos os Santos em função de mim. Não quero impor a perpetuação da minha memória. Quero, pura e simplesmente, ser cremada. Já o disse a quem de direito. Porque estas questões têm de ser resolvidas. Agora. Em vida.
 
Acredito numa coisa. Sobre esta escuridão que é a caverna de Platão e a que Sócrates, pleno da sua maiêutica, respondeu com o célebre só sei que nada sei. Com a consciência de que somos princípio, meio e fim em nós próprios, indivisíveis.  Acredito que há vários mundos. Os mundos das coisas. E no mundo dos vivos, tratam-se de coisas dos vivos. No mundo dos mortos, logo se vê. Quando lá chegarmos.
 
Mas meu caro amigo que andas a tentar escrever um epitáfio sujeito a várias actualizações ao longo da vida. Se encontrares uma forma de fintar a escuridão que nos aprisiona, não deixes de partilhá-la. Quanto mais não seja como desculpa para mais uma tertúlia. Desta feita, bocagiana. Com a certeza de que não será expurgada a tua/nossa produção, tal como fizeram ao poeta. A não ser que resulte numa expurgação que te leve a uma verdadeira epifania sobre a morte. Ou sobre a vida. No entanto, desculpa desapontar-te, mas a ideia não é nova. Já o poeta maldito, assim conhecido pela sua linguagem vernácula, teve a mesma ideia. E foi nessa época em que tanto escreveu sobre o momento da partida que a sua poesia ganhou maior riqueza.
 
Das duas uma, ou estás ao nível da sua intelectualidade ou estás a meter a foice em seara alheia. Olha só o que ele nos deixou:
Já Bocage não sou!
Já Bocage não sou!... A cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura:
 
Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento;
Musa!... Tivera algum merecimento
Se um raio da razão seguisse, pura!
 
Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:
 
Outro Aretino fui... A santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!
 
É de poeta! Ainda assim  arriscas?

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Conversas de pé de orelha #5

O tema "euromilhões", e mais concretamente o último prémio que saiu em Portugal, ainda mexe. Ouvem-se coisas giras. Toda a gente sabe muito bem o que fazer com o dinheiro. Toda a gente tem planos de futuro. Mas o dinheirinho, esse jeitoso, nem sombra dele. Só planos. Só teoria.
 
Hoje à hora do almoço, numa mesa ao lado daquela onde almocei, estava um grupo de amigas ou colegas de trabalho a falar sobre isso. Riam-se, faziam planos. Ajudavam este e aquele. Deixavam os empregos. Viajavam o ano inteiro.
 
Uma delas, a que se ouvia mais e melhor, acrescentou:
- Eu cá punha a minha sogra num cruzeiro durante 10 anos.
 
Riram-se todas. (até eu) Mas o que ela não estava à espera era do marido. Aquele senhor que estava mesmo a chegar à mesa quando ela disse isso. Aquele senhor que vinha sorridente e ficou com cara de poucos amigos. Aquele senhor que lhe disse:
- Bom, estás tão animada a falar da minha mãe que, se calhar, é melhor não interromper...
 
Aquele senhor que se foi embora como veio. Sem ninguém estar à espera.
 
Tirem daqui as vossas conclusões. :)

(E não me venham dizer que é feio ouvir as conversas dos outros. Mas eu não sou surda e só não ouviu quem não quis...)

Grrrrr......

Sabem aquele momento em que descobrimos que há uma humidade estranha dentro das nossas malas quando tentamos tirar de lá qualquer coisa sem olhar? E depois de olharmos continuamos sem perceber do que se trata? E temos de tirar tudo para ver, com olhos de ver, o que é que se passou?
 
Pois... hoje tive um momento desses... foi um iogurte líquido...

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Directamente de Vila Fanca de Xira

O meu livro continua a viajar por esse Portugal fora. Passou um mês desde que o lancei e ainda não consegui fazer contas à vida para perceber a quantas ando sobre o número de exemplares que já fui levar ao correio. Mas a cada leitor/a que me escreve e autoriza partilhar as suas opiniões aqui no blog, tenho que deixar um xi-coração do tamanho do mundo. Por vossa causa continuo a acreditar que a decisão que tomei foi a melhor. Por vossa causa tenho tido dias muito felizes.
 
Hoje, de Vila Franca de Xira, recebi a seguinte mensagem na página do facebook dos Contos:
 
D. Cláudia,
Já li o seu livro e já o mostrei à minha médica que me pediu para levar para casa. Como tenho consulta daqui a um mês depois ela vai devolver. Antes disso ainda o mostrei às minhas amigas e à minha vizinha Alexandrina que também quer um... Muitos parabéns pela história linda que escreveu e se eu tivesse sabido do lançamento tinha ido aí.
Quando a minha médica me devolver o livro eu digo-lhe o que é que ela achou. Beijinhos e muito sucesso.
 
Quem me enviou esta doce e simpática mensagem foi a D. Benilde Morais. Que eu não conheço, mas adoraria conhecer.
 
Muito obrigado. Aqueceu-me um bocadinho o coração. :)

Mais um membro na família

É assim que vejo a nossa carrinha. A nossa sweet Peugeot 307 com 11 anos. A nossa companheira de uma vida que passou a viver connosco ainda antes de nascer a nossa filha. E porque a nossa filha ia nascer.
 
Passei toda a minha vida rodeada de carros. Falei-vos do meu pai e da sua profissão. Por causa disso experimentei o volante muito antes dos 18 anos. E a paixão por conduzir, por ter nas mãos o controlo total de uma máquina que me acompanha para todo o lado, confirmou-se. E confirma-se. A cada dia que pego na nossa carrinha.
 
Tantas histórias que ela, se falasse, teria para contar. E eu tenho-lhe um amor especial. Tem sido uma verdadeira companheira. As viagens que fizemos, dentro e fora de Portugal, as festas a que fomos, os casamentos, os jantares, os internamentos do meu marido. Foi ela que me levou ao hospital na hora de ser mãe e foi ela que me trouxe, e aos meus filhos, para casa. Se falasse também diria que tem sido muito bem tratada. Que lhe damos banho e a alimentamos a horas. Que lhe trocamos os sapatos e as correntes que lhe permitem uma saúde impecável. Diria que nunca lhe batemos e que as marcas que tem são fruto de uma vida fora da garagem, cheia de peripécias, com toques da nossa parte. Com toques da parte dos outros. Diria, também, que sempre passou com distinção nos exames obrigatórios. E que a elevada kilometragem que tem é uma espécie de contador... de histórias.
 
Esta semana tive três sustos grandes. Na 3.ª feira, a estacionar, bati com a traseira num árvore. Ui, que imaginei a ávore enfiada na traseira. A mala sem abrir e uma despesa daquelas. Saí do carro. E nada. Estava impecável.
 
Na 4.ª feira estava parada no trânsito, às 8.00 da manhã, quando levo com um carro pelas traseiras. E pensei que se me tinha livrado da árvore, certamente não me livraria daquela batida. Saí do carro. A outra senhora também. E a minha carrinha não tinha nada. E o outro carro tinha. Fui à minha vida.
 
Esta manhã, um susto enorme. Ao entrar numa rotuna, mesmo à minha frente uma carrinha abalroou um citröen. Daqueles pequenos parecidos com os smart. Foi feio o espectáculo. E foi linda a nossa Peugeot. Que respondeu ao pedido de travagem. Que parece ter-se encolhido para não bater. Que me deu uma segurança tal que se eu já a recomendava, depois do que vi e senti hoje ainda digo mais: vale a pena!!
 
Está velhinha... às vezes apetece-me abraçá-la. Nos últimos anos tentamos poupá-la e quando saímos os quatro damos-lhe o descanso que merece. Vamos no carro. Gasta pouco. Foi sempre uma grande vantagem. É a gasóleo, mas gasta pouco. E no dia em que não pudermos adiar o inevitável, terei muita pena. E mais do que um abraço, irei dar-lhe um beijinho e, ao ouvido, irei sussurrar-lhe: Obrigado!

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Os meus cunhados

A minha cunhada é enfermeira pediátrica. Uma nobre profissão para a qual penso que é preciso muita vocação. Lembro-me da minha filha com dias de vida a ser picada no hospital para uma análise de sangue e a tarefa das enfermeiras foi muito complicada. Pois encontrar uma veia num bebé não é tarefa fácil. Naquela vez picaram-na mais de 10 vezes!! Até que desistiram...
 
Depois, penso muito sobre o que é ver uma criança doente. O que nos dói quando sabemos que uma criança tem uma doença incurável. Na impotência perante um caso grave. Na hora da despedida. Nos profissionais de saúde que dão tudo o que têm, fazem tudo o que podem e não têm o reconhecimento merecido.
 
Como calculam, pelas mãos da minha cunhada passam inúmeros casos e cenários de crianças e famílias que, perante a incapacidade de resolverem o problema de saúde, entregam-se ao seu conhecimento e experiência. E ela, como a conheço, trata-os da mesma forma, com o mesmo cuidado, sensibilidade e dedicação.
 
Muitas vezes falamos sobre situações que acontecem no hospital. Anonimamente, claro! Falamos de casos complicados, casos de sucesso. Casos de absoluta negligência da parte dos pais. Casos de absoluta consciência sobre a parentalidade. Não sei se teria estômago para assistir a determinadas cenas sem um "ai". Mas ela tem. E o que a perturba, purga fora de lá. Muitas vezes em silêncio.
 
Entre muitas situações que me sensibilizaram, partilho convosco apenas uma que me deixou de tal forma espantada que de vez em quando dou por mim a pensar nisso. Quando uma criança fica internada uma das orientações que a minha cunhada dá aos pais é a da necessidade de trazerem alguma roupa, um brinquedo ou um livro  com que a criança se identifique e produtos de higiene, nomeadamente a escova e a pasta de dentes. Resposta generalizada:
 
- Ah... a escova e a pasta de dentes? Está bem... vou ter de ir comprar...
(Ela já esta habituada. Mas eu ainda sou assaltada por esta questão várias vezes.)
 
Ser enfermeiro é ter amor à profissão. É saber e ter alma para lidar com pessoas. Com problemas. Com debilidades. Com personalidades. É ter garra de lutar pela vida de alguém. É dar vida e sorrisos e alegrias a quem padece de dor.
 
Ter enfermeiros à nossa disposição, é uma benção. E eu tenho a sorte de ter dois.
A minha cunhada. E o meu cunhado. :)