Ontem cheguei a casa e enfiei-me na banheira. Já passava das 20.00 e, além de estar gelada, tínhamos estado a comer castanhas, pelo que ninguém quis jantar. Mas o João Pestana andava a ameaçar desde as 6 da tarde e foi exactamente durante a hora do MEU banho que ele atacou em força.
À porta da casa de banho o mais pequeno começou num berreiro daqueles. E porque também queria tomar banho. E porque eu fui sozinha para a banheira. E porque não o levei. E porque não interessava nada ele já ter tomado banho. E rebebéu pardais ao ninho. Prometi-lhe que quando saísse deixava-o deitar-se comigo, na minha cama, às escondidas do pai e da mana. Só para que se sentisse especialmente mimado.
Assim foi. Deitámo-nos. Não me deixou apagar a luz da mesa de cabeceira. Abraçou-me, pôs uma perna por cima de mim e deu-me beijinhos prolongados. O corpo a reclamar e a celebrar a minha presença.
- Mãe, eu vou querer viver para sempre contigo
- Está bem amor. Podes ficar cá para sempre.
- Mas depois, quando eu crescer, tu vais morrer.
Ups! Não estava à espera...
- Vou?!?
- Vais mãe. E eu vou ter saudades tuas.
E, nisto, abraça-me ainda com mais força e começa a chorar. Desalmadamente.
- Filho, calma! A mãe não vai morrer!
- Vais sim, mãe! Há muitos cemitérios vazios.
A conclusão a que chegou. A explicação que me deu. A verdade absoluta sobre a morte.
Consegui acalmá-lo. Consegui que percebesse que isso da mãe morrer é qualquer coisa que ainda está muito longe de acontecer. Consegui que me lesse o pensamento quando lhe perguntei onde é que eu viverei para sempre. Respondeu-me no meu coração. Mas a conversa terminou com a sua última palavra. Eu sei que tu vais morrer.
Sei que por estes dias ainda poderá voltar ao assunto, mas também sei que se irá esquecer. Sei que esta é uma fase própria da idade, a curiosidade sobre a morte, mas também percebi que ele já tem respostas. Certezas absolutas. E poucas dúvidas. Tem a certeza de que eu vou morrer. Sei que não vai ler este blog tão depressa, mas se eu não morrer antes farei questão de mostra-lhe o que me disse um dia. Sobre a minha morte. Sobre os cemitérios vazios.
As crianças surpreendem-nos com as suas respostas. Esta minha criança surpreendeu-me com a sua inocente e tão verdadeira certeza. E conhecimento sobre a vida. Porque um dia morrerei, morreremos todos. Mas Deus me livre e guarde para morrer antes dele. É só isso que me assusta.
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