terça-feira, 4 de novembro de 2014

A minha casa

Gosto de viver a minha casa. O meu espaço. Prezo muito os pequenos toques e retoques que dou ao nosso espaço para que nos sintamos confortáveis. E orgulhosos. Mas não entendo a minha casa como um museu. Não percebo a ideia tão generalizada de fazer visitas guiadas às casas de cada um. Exibindo espaços privados como os quartos onde nos recolhemos na maior intimidade possível. Não entendo, só isso. Não critico. Por isso não estranhe quem for a minha casa e não tiver direito a uma visita guiada, bilingue, com datação de mobílias e afins ou degustação de vinhos quando chegamos à zona da garrafeira.
 
E o que eu adoro receber pessoas em casa. Gosto mesmo! Do ambiente que se proporciona em serões agradáveis com familiares e amigos. Das memórias conjuntas que criamos e recordamos das experiências que tivemos. Dos petiscos e das bebidas que gosto de experimentar. E, sobretudo, das recepções inesperadas. São as que correm melhor.
 
Quem conhece a minha casa sabe que é assim que vivemos. Com o prazer de ter um espaço que é só nosso e onde somos aquilo que realmente somos. Sem pudores. Quem conhece a minha casa, sabe que há riscos no chão de madeira envernizada, na mesa de carvalho e até no écrãn da televisão. Sabe, também, que tenho papel de parede a soltar-se numa ponta e que a casa de banho precisa de uma grande remodelação. Quem conhece a minha casa, sabe que a lareira está sempre marcada pela dança de fogo que nos aquece e que a varanda é uma extensão natural da nossa sala. Que a porta da rua tem as marcas das chaves de casa e a cozinha está constantemente desarrumada. E quem sobe um andar para uma conversa no escritório perde-se nos livros que lá temos. E dá pontapés em montes de dossiers e caixas de arrumação. É assim o nosso escritório. Um arquivo das nossas vidas. Com a antiga aparelhagem preta que se exibia em tempos idos dentro de um móvel com uma porta de vidro e onde as crianças não tinham permissão para mexer. Mas esse, o móvel, já não existe.
 
Quem conhece a minha casa e a frequenta com alguma regularidade, já não estranha as mudanças que faço constantemente. A cada visita um novo sítio para as mobílias, uma nova disposição. Como num museu interactivo. :) Quem conhece a minha casa, sabe que a vivemos. Que a sentimos. E sente-se bem lá. Connosco.
 
A minha casa. Adoro a minha casa. A cada risco no chão uma história para contar. Lembro-me de cada momento em que cada um aconteceu. Se foram os miúdos que os fizeram, sei de cor a idade que tinham e o que faziam naquele preciso momento. Se fui eu, também sei. Por norma, consequência das minhas aventuras de decoração. Na mesa pequena tenho a marca da base de um copo. Data ainda da outra casa que tivemos. De uma noite de confraternização com amigos. As paredes não estão muito marcadas, mas as poucas pinturas rupestres que têm, também sei quando aconteceram. A cada marca, um episódio das nossas vidas. Da nossa história. Porque nós somos história.
 
É tão bom viajar como voltar a casa. É lá que me refugio. Que consigo, realmente, descansar. Conheço-a de cor. Deambulo às escuras sem bater em nada. Conheço-lhe os barulhos e nada me dá mais segurança. O cheiro que tem é o nosso cheiro. Inigualável. E, se pudesse, levava-a comigo para todo o lado. Pois, para mim, é o melhor sítio do mundo.

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