quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Os meus cunhados

A minha cunhada é enfermeira pediátrica. Uma nobre profissão para a qual penso que é preciso muita vocação. Lembro-me da minha filha com dias de vida a ser picada no hospital para uma análise de sangue e a tarefa das enfermeiras foi muito complicada. Pois encontrar uma veia num bebé não é tarefa fácil. Naquela vez picaram-na mais de 10 vezes!! Até que desistiram...
 
Depois, penso muito sobre o que é ver uma criança doente. O que nos dói quando sabemos que uma criança tem uma doença incurável. Na impotência perante um caso grave. Na hora da despedida. Nos profissionais de saúde que dão tudo o que têm, fazem tudo o que podem e não têm o reconhecimento merecido.
 
Como calculam, pelas mãos da minha cunhada passam inúmeros casos e cenários de crianças e famílias que, perante a incapacidade de resolverem o problema de saúde, entregam-se ao seu conhecimento e experiência. E ela, como a conheço, trata-os da mesma forma, com o mesmo cuidado, sensibilidade e dedicação.
 
Muitas vezes falamos sobre situações que acontecem no hospital. Anonimamente, claro! Falamos de casos complicados, casos de sucesso. Casos de absoluta negligência da parte dos pais. Casos de absoluta consciência sobre a parentalidade. Não sei se teria estômago para assistir a determinadas cenas sem um "ai". Mas ela tem. E o que a perturba, purga fora de lá. Muitas vezes em silêncio.
 
Entre muitas situações que me sensibilizaram, partilho convosco apenas uma que me deixou de tal forma espantada que de vez em quando dou por mim a pensar nisso. Quando uma criança fica internada uma das orientações que a minha cunhada dá aos pais é a da necessidade de trazerem alguma roupa, um brinquedo ou um livro  com que a criança se identifique e produtos de higiene, nomeadamente a escova e a pasta de dentes. Resposta generalizada:
 
- Ah... a escova e a pasta de dentes? Está bem... vou ter de ir comprar...
(Ela já esta habituada. Mas eu ainda sou assaltada por esta questão várias vezes.)
 
Ser enfermeiro é ter amor à profissão. É saber e ter alma para lidar com pessoas. Com problemas. Com debilidades. Com personalidades. É ter garra de lutar pela vida de alguém. É dar vida e sorrisos e alegrias a quem padece de dor.
 
Ter enfermeiros à nossa disposição, é uma benção. E eu tenho a sorte de ter dois.
A minha cunhada. E o meu cunhado. :)

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