É assim que vejo a nossa carrinha. A nossa sweet Peugeot 307 com 11 anos. A nossa companheira de uma vida que passou a viver connosco ainda antes de nascer a nossa filha. E porque a nossa filha ia nascer.
Passei toda a minha vida rodeada de carros. Falei-vos do meu pai e da sua profissão. Por causa disso experimentei o volante muito antes dos 18 anos. E a paixão por conduzir, por ter nas mãos o controlo total de uma máquina que me acompanha para todo o lado, confirmou-se. E confirma-se. A cada dia que pego na nossa carrinha.
Tantas histórias que ela, se falasse, teria para contar. E eu tenho-lhe um amor especial. Tem sido uma verdadeira companheira. As viagens que fizemos, dentro e fora de Portugal, as festas a que fomos, os casamentos, os jantares, os internamentos do meu marido. Foi ela que me levou ao hospital na hora de ser mãe e foi ela que me trouxe, e aos meus filhos, para casa. Se falasse também diria que tem sido muito bem tratada. Que lhe damos banho e a alimentamos a horas. Que lhe trocamos os sapatos e as correntes que lhe permitem uma saúde impecável. Diria que nunca lhe batemos e que as marcas que tem são fruto de uma vida fora da garagem, cheia de peripécias, com toques da nossa parte. Com toques da parte dos outros. Diria, também, que sempre passou com distinção nos exames obrigatórios. E que a elevada kilometragem que tem é uma espécie de contador... de histórias.
Esta semana tive três sustos grandes. Na 3.ª feira, a estacionar, bati com a traseira num árvore. Ui, que imaginei a ávore enfiada na traseira. A mala sem abrir e uma despesa daquelas. Saí do carro. E nada. Estava impecável.
Na 4.ª feira estava parada no trânsito, às 8.00 da manhã, quando levo com um carro pelas traseiras. E pensei que se me tinha livrado da árvore, certamente não me livraria daquela batida. Saí do carro. A outra senhora também. E a minha carrinha não tinha nada. E o outro carro tinha. Fui à minha vida.
Esta manhã, um susto enorme. Ao entrar numa rotuna, mesmo à minha frente uma carrinha abalroou um citröen. Daqueles pequenos parecidos com os smart. Foi feio o espectáculo. E foi linda a nossa Peugeot. Que respondeu ao pedido de travagem. Que parece ter-se encolhido para não bater. Que me deu uma segurança tal que se eu já a recomendava, depois do que vi e senti hoje ainda digo mais: vale a pena!!
Está velhinha... às vezes apetece-me abraçá-la. Nos últimos anos tentamos poupá-la e quando saímos os quatro damos-lhe o descanso que merece. Vamos no carro. Gasta pouco. Foi sempre uma grande vantagem. É a gasóleo, mas gasta pouco. E no dia em que não pudermos adiar o inevitável, terei muita pena. E mais do que um abraço, irei dar-lhe um beijinho e, ao ouvido, irei sussurrar-lhe: Obrigado!
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