Dia da Mãe. Mais um Dia da Mãe… Apenas comecei
a dar importância a esse dia quando nasceu a minha filha. Primeiro, pela mão do
meu marido. Depois, mais tarde, por ela. Quando começou a presentear-me com os
seus trabalhos manuais. Quando o seu entusiasmo me contagiou. Em função de mim.
Da minha condição.
Não que eu não ligasse a essa efeméride. Não
que na escola não fizesse trabalhos, em pequena, ou que, mais tarde, não me
sentisse invadida pelas ofertas comerciais para este dia. Uma pessoa mesmo que
queira não consegue esquecer-se destes dias. Mas apenas porque, pura e simplesmente,
não tive e não tenho mãe.
Porque ela não quis.
Porque me pariu. Nua e crua. Desprovida de
sentimentos. De amor de mãe.
Porque partiu. Abandonando-me à sorte de uma
vida sem mãe.
Porque foi fraca. Para criar o ser a quem deu
vida.
Porque ela escolheu. Viver sem amor por
ninguém.
Porque não amou. A sua extensão.
Porque negou. A dádiva que lhe foi concedida.
Porque cortou. A possibilidade de redimir-se.
Porque gritou. Que não queria ser mãe. Num
grito mudo e surdo.
Porque desertou. E não chorou.
Porque não quis uma vida cheia de emoções. De
memórias que se constroem a cada dia da vida de uma criança. Porque não quis
acompanhar-me nas minhas primeiras vezes. Nos meus primeiros dias de cada experiência
da vida. Porque não me quis levar à escola no meu primeiro dia. Não me quis
esclarecer quando surgiram as minhas primeiras dúvidas. De mulher. Porque não
quis viver as minhas emoções. As suas emoções. A cada conquista de um filho,
uma vitória para cada mãe. Mas para ela não.
O meu nascimento, a sua derrota.
E nesta frota que nos conduz pela estrada do
destino, encontrei-me sem ela em todas as memórias que criei. Quando entrei na
faculdade. Quando tive o meu primeiro namorado. Quando tirei a carta. Quando
casei. Quando chorei. Quando sorri. Quando fui mãe.
Ser mãe. Será que ser mãe é parir? Apenas
isso?
Ou para ela ser mãe foi ir? Sem pensar no que
estava para vir? Virar costas à vida que escolheu apenas porque se arrependeu?
Negar a existência de alguém, sem questionar o que daí advém?
Será que para ela nada aconteceu? De dentro
de si saí eu. E eu… não a neguei… também não chorei… esperei. Esperei pelo dia
em que 33 anos depois a enfrentei. Esperei… E ela… Nunca entenderei…
Sou mãe. Não prometi a mim mesma ser a mãe
que não tive. Apenas tinha a certeza daquilo que não queria que os meus filhos
tivessem. Não compenso essa ausência na minha vida, transformando-me em algo
que não sou. Dou o que dou, consciente do que há-de vir. Sou o que sou. Com
eles. Porque fui eu que escolhi assim. Porque os amo. E não porque me amo. Apenas
a mim.
Não parti. Não desertei.
Chorei de alegria e de dor.
Porque ser mãe é isso mesmo. Sentir amor.
Cláudia a sua historia é IGUAL à minha!!!!!!!! Enquanto a lia só pensava mas será que está a escrever sobre mim??? Força !!
ResponderEliminarOlá Sofia!
EliminarJá viu a coincidência? Há muitas histórias iguais a esta. Ainda bem que gostou.
Beijinhos e obrigado por estar aí.
O tempo vai passando. Hoje és ainda mais forte certamente, do que sempre foste. Somos todos uma caixa de surpresas e a rapidez com que nos conseguimos levantar das quedas, marca-nos em grande parte, a linha da nossa vida.
ResponderEliminarÉs uma Mãe maravilhosa e no teu caso (e bem) transformaste uma marca dolorosa, em amor extremoso para ofereceres à tua família.
Nesse sentido, em ti a dor deixou coisas boas, com a consequente compreensão do que não deves e não queres fazer.
Os teus amigos, mesmo à distância, a tua família, os que amas: só podem ter orgulho em ti. Obrigado pela partilha Clau. Força.
Sabes ACASO, a marca dolorosa de que falas... não sei se existe... Quando nunca tivemos uma coisa não sentimos falta dela. Certo? E depois, tive o meu pai. O meu super-pai. A minha super-família que não me deixou sentir diferente das outras crianças. Se tive momentos em que essa ausência foi sentida, acredita, foram já em adulta. Mas nada de mais. Porque a vida, essa, não pára. E não tenho tempo para pensar muito nisso. Obrigado por estares aí. Um beijinhos.
EliminarPrimeiro chorei depois voltei a ler e chorei de novo e depois compreendi que não tenho razão nenhuma para chorar. Só para sentir orgulho numa amiga , sim amiga que é um furacão uma força da natureza.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
EliminarObrigado Joana. Pelo elogio exagerado. :)
EliminarCaramba..... Ia jurar que já tinha comentado isto.... Blogger, andas a gozar comigo. Enfim, vamos ao que interessa.
ResponderEliminarComo já tinha dito, fiquei pasma com esta "revelação". Ninguém diria e sim, és mesmo muito bem resolvida. Os meus parabéns à tua familia por te saberem apoiar como deve ser e por teres saído uma miúda forte e cheia de garra!
Olha, conteceu-me o mesmo no teu. E, por falar nisso, tenho de ir lá ver se ficou...
EliminarObrigado. Eu dou os teus parabéns à minha família. :)
Claúdia, adorei... Está simplesmente lindo, maravilhoso...
ResponderEliminarFaz chorar qualquer mãe, pela verdade e intensidade que transmite...
Beijinho
L&T&H
Obrigado caro Anónimo. Fiquei com a sensação, pelo comentário, de que nos conhecemos, mas não condigo identificar...
EliminarUm beijinho e obrigado mais uma vez.
Não consegui conter o brilho nos olhos enquanto lia este texto... Partilha intensa, pura, crua, verdadeira...
ResponderEliminarUm abraço,
http://bolas-desabao.blogspot.pt
Obrigado Sónia. É bom saber que está por aí.
EliminarUm beijinho no coração.