Não sou daquelas pessoas que adoooram ir ao cinema. Não sou mesmo! Aborrecem-me várias coisas.
Primeiro, não me posso esparramar na cadeira. Porque é desconfortável, claro!, mas, sobretudo, porque não estou sozinha. Depois, as cadeiras também não são reclináveis... Para mim ver um filme é algo que está intimamente ligado com um momento de prazer, conforto, sossego. Não consigo nada disso numa sala de cinema...
Segundo, não dá para carregar no stop em caso de emergência.
Terceiro, mal me posso mexer sem tocar na pessoa que partilha comigo o braço da cadeira.
Quarto, não consigo estabelecer uma relação com o filme e o enredo numa sala cheia de pessoas que não conheço de lado nenhum (já explico).
Quinto, acho o preço do bilhete uma exorbitância. Tendo em conta que não vou sozinha, no mínimo, o valor duplica. Se for ver um filme animado com os miúdos, pronto! Lá se vai o orçamento para o fim de semana.
Sexto, estou a pagar por algo que, dali a uns dias, passará gratuitamente na televisão. Aliás, a propósito disto ainda ando cá a remoer uma coisa... Então não é que fui com os miúdos ao cinema ver o filme do Max (o último - não sei se houve algum antes) e, nesse mesmo dia, esse mesmo filme estava a passar no Canal Panda em episódios? Mas isto é legal?? (ando a exorcizar isto)
Sétimo, não posso falar. Não é que seja uma comentadora mor sobre o que estou a ver, mas se quiser dizer alguma coisa, trocar uma impressão, qualquer coisa, não posso sob pena de ser fustigada com o olhar dos meus vizinhos.
Oitavo, o intervalo. Bom, aqui... ui, ui! Se é para haver intervalo então meus amigos, pelo menos 10/12 minutos!! Certamente que quem definiu aqueles 7 minutos não é mulher, logo não sabe o que é ter de ir à casa de banho a correr. Caso contrário, passa o tempo todo na fila e depois? Depois quando regressa já está tudo escuro, já o filme começou e já está tudo a olhar para nós e a pensar: pois claro, tinha que ser... sai da frente, parvalhona!
Nono, agendar uma hora e meia do nosso dia para ver um filme? Ficar parado numa sala durante uma hora e meia? Parar tudo, para às tantas horas estar pronto para ver um filme? Saber a que horas termina? Ter o tempo assim tão programado?
Não! Para mim não dá!
Já sei que estão a pensar no espectáculo que é o sistema de som que permite ouvir tudo, tudo, tudo o que envolve cenas de acção. Que em casa não temos noção dos efeitos especiais, que as salas de cinema criam o ambiente ideal para sentir o filme, beca beca, beca beca. Mas isso não me convence. Mesmo! Não me convence!
Primeiro, um filme é para ser visto no maior dos confortos. De preferência em casa. Se me apetecer, de pijama. Se me apetecer, de fato de banho. Se me apetecer, descalça, de pantufas ou de galochas. Como me apetecer. Como aquele momento ditar o meu conforto.
Segundo, com espaço! Sem ter medo de me mexer e tocar no braço, na perna, no pé do vizinho. Se me apetecer, recostar-me. Se me apetecer, deitar-me. Se me apetecer, sentar-me no chão. Como me apetecer!
Terceiro, não é hábito, mas posso precisar de fazer qualquer coisa e aí meu amigos, aí vale o comando que me permite parar, retroceder, avançar.
Quarto, o meu ambiente de casa é o meu melhor ambiente. Home sweet home, aplica-se mesmo. E só neste ambiente, sem condicionantes externas é que consigo relaxar, concentrar-me e entrar no enredo do filme, na interpretação dos actores, na banda sonora e, até, na qualidade da tradução (mas isso já são preciosismos meus). Só na minha casa é que poderei estar comigo para usufruir do filme.
Quinto, sai mais barato. E não, não costumo comer pipocas no cinema porque, pura e simplesmente, não ligo nenhuma a pipocas. Mas em casa, com os miúdos, até isso sai mais barato.
Sétimo, posso falar!
Oitavo, vejo o filme quando quero, à hora que quero, no dia que quero, com quem quero e conforme a minha disposição. Não me preocupo sobre se ainda estará disponível para ser visionado. Tenho o meu arquivo, tenho as minhas fontes e não corro atrás de nada só porque está em exibição.
Azar se ainda não vi o último filme que estreou. Azar se ainda não vi o que já saiu das salas de cinema. Azarex! Não me sinto infeliz por isso, nem deslocada, nem cinemoexcluída (inventei agora isto). Não sou de modas. Nem de modismos. Nem de maneirismos. Sou de emoções. Adoro aquecer corações. E o meu, aqueço-o assim, ao sabor do seu conforto.
Se ao menos no cinema houvesse amoras para comer, mas não, não há!
Não vou! (ou vou muito raramente)