O título sugere uma nova versão desse sucesso de Jorge Amado, Dona Flor e seus dois maridos, mas não é. É uma história real. Bem real. Sobre uma mulher que conheço.
Chamemos-lhe Maria. Esse nome tão português que confere o anonimato necessário às minhas musas inspiradoras. Neste caso uma mulher de 47 anos. Mãe de três filhos. De três maridos diferentes. E chega o conto ao blog na sequência deste em que partilhei convosco a minha apetência para fazer amizade com pessoas mais velhas. Aprende-se muuuiiito. :)
Maria é bem disposta. Uma mulher de voz forte, de rosto marcado. Um furacão-mulher que vive enjaulada nas obrigações diárias. Na vida que a leva e trás de casa ao trabalho. Do trabalho a casa. Às escolas dos filhos. Ao supermercado. A tudo o que ensombra os prazeres da vida. Pela responsabilidade de não faltar aos outros. Mesmo que isso a obrigue a esquecer-se de si própria.
Distingo-lhe o tom irónico que aplica, naturalmente, às suas recensões críticas. Por vezes, de chorar a rir. Sobretudo quando fala dos seus ex-maridos. E também do actual. Do mais pequeno assunto nasce uma teoria. Não da boca para fora. Mas porque ela já tinha pensado nisso. E defende o que pensa com unhas e dentes. E com humor. Muito humor. E assertividade.
A Maria não esconde a sua infelicidade. Gostava de trabalhar noutra área. Não gosta do que faz. Obriga-se a fazer. A cumprir. Mas de forma exímia, que as falhas não são para ela. Sabe o que custa. Falhar. E não quer. Mesmo que não sorria. E eu reconheço-lhe, também, mais esta grande característica: a de não se deixar ir. Pelo desânimo.
Tem graça quando fala dos seus ex-maridos. E do actual. Que nenhum deles lhe chegou (ou chega) para tudo o que espera de um homem. Que o ideal seria ter um com as melhores características dos três. Fala de sexo sem pudor. Fala do que não gosta. Fala do que gosta. E diz, o que sentimos. O que pensamos. E não nos atrevemos dizer. Para os outros ouvirem.
Fala da paixão. Diz que essa é efémera. Que quando está a abrandar precisa de mudar. De marido. Que não consegue viver sem paixão. Sem tesão.
Tem três filhos, a Maria. Três tesouros. E só aí consigo reconhecer-lhe brilho nos olhos. Quando fala deles. Aí finge. Que é desprendida. Mas o seu corpo diz o contrário.
A Maria é divertida. Ouvi-la relatar uma situação caricata é sentir que também a presenciámos. Pela emoção que nos transmite. E no momento seguinte, cala-se. Lembra-se, talvez, que esses momentos não lhe chegam. Sente-se isso no seu olhar. Sente-se. Vem de dentro.
Perguntei-lhe o que fazer para que a chama continue acesa. E ela disse-me que isso é quase impossível. Que vivemos a nossa vida de uma forma demasiado séria. Que isso interfere. Mas que seria bom não perder o Norte ao que sou enquanto mulher. Fêmea. No verdadeiro sentido da palavra. Aconselhou-me a usar isso sempre. Na rua. No trato. Na cama. Sobretudo na cama.
Maria. Simplesmente Maria. Onde tudo cabe. Onde tudo se vive. Onde tudo se sente. Como qualquer outra mulher portuguesa. Com marido. Sem marido. Mas nesta Maria, há um turbilhão de emoções que estão sempre, mas sempre prontas a rebentar. Porque ela não aguenta. O sofrimento. De viver infeliz.
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