quarta-feira, 15 de abril de 2015

O reverso da medalha

Lembram-se deste post que ficcionei depois de uma conversa que tive com uma amiga minha? Pois, nem de propósito! Passados cerca de 10 anos sem ver outra minha amiga, encontrei-a num aniversário de uma amiga em comum. E, como era de esperar, conversámos bastante sobre estes últimos dez anos. Por onde andámos. O que fizemos. O que fazemos.
 
Estávamos muito entusiasmadas. Fiquei fascinada com o seu percurso. Com o doutoramento que fez. Com os projectos em que está envolvida. Fiquei a ouvi-la e a pensar, ao mesmo tempo, em como seguimos caminhos tão diferentes. Passa a vida entre dois países, pois o namorado trabalha fora de Portugal. Viaja imenso, porque estar em outro qualquer país da Europa torna tudo muito mais fácil. E vive cá, agora, por causa de um projecto para o qual foi convidada.
 
Mas sem eu esperar, diz-me a minha amiga que está farta de estar assim. Sozinha. Que esta liberdade que é o vai e vem de viagens e encontros e descobertas e culturas diferentes, não lhe chega. Que lhe falta ter uma família. Que quer um casamento. Que quer aquilo que eu tenho.
 
Queres o quê? Perguntei-lhe. Quero ter filhos e sossegar aqui, no meu país. Quero ter festas de aniversário e não estar dividida entre a minha família e o meu namorado. Nunca sei como vai ser o meu Natal ou as minhas férias. Fico anos sem ver os meus amigos e lá, quando estou com ele, sinto falta de todos os que me fazem falta. Para me sentir feliz.
 
Falei-lhe do meu blog e do texto "Sozinha". Que não podia ser mais contraditório ao que tinha ouvido dias antes. Sugeri-lhe que o lesse. Que para aquela pessoa que quer partir pelo mundo fora ela era uma pessoa cheia de sorte. Pela sua liberdade. Pela sua relativa liberdade, é certo. Mas sem as mesmas obrigações.
 
Hoje ligou-me. Disse-me que leu o texto. E disse-me para dizer à outra minha amiga, a que quer estar sozinha, que sem amigos, sem família, sem filhos, sem alguém que amamos, nada de vale viajar pelo mundo fora. Porque o melhor dessa viagem, é o regresso a casa.
 
Fica o recado. E a prova de como todos vivemos insatisfeitos.

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