quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Libelinha


Era assim conhecida a minha querida tia. Aliás, é assim que nos referimos a ela. Por causa do meu tio, seu marido, que carinhosamente a tratava desta forma. Se estivesse entre nós, hoje faria anos. Haveria bolo de aniversário. Moveríamos mundos e fundos para nos juntarmos a ela. Nas nossas agendas tudo seria adiado ou cancelado. Mas não nos passava pela cabeça faltar ao seu encontro.

Depois da sua partida fizemos um esforço para continuarmos a estar juntas neste dia. As primas. Sobretudo as primas. Muitas vezes ao fim do dia. Sem grandes combinações. Muitas vezes após um breve telefonema. Quando já nada fazia prever esse encontro. E conseguimos, de todas essas vezes, celebrar termos tido a minha querida tia nas nossas vidas.

Hoje... seria dia de festa... Por mais que queira não consigo sentir outra coisa senão um vazio imenso cá dentro. Especialmente hoje. Sempre achei que estes dias não deveriam ser especiais em relação a todos os outros em que sentimos a falta de alguém. Mas este ano isto está estranho. Isto, a que chamamos coração, saudade... nem sei...

O tempo não cura nada. O tempo aumenta a saudade, o vazio, a falta de respostas para a perda prematura que sofremos. Para a partida prematura de uma boa pessoa. O tempo não cura. Apenas aumenta a distância e atenua o hábito de vivermos sem essa presença. Mas em cada canto, na rua, em casa, no trabalho, sempre surge uma libelinha como que a dizer:

Estou por perto.

E nesses momentos consigo esboçar um sorriso. Interiormente.

(A esta hora, ainda é cedo para desmarcar o que tenho na agenda. Mas acrescento que tudo depende de um breve telefonema.)

- saudades, querida tia. saudades... -

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