sábado, 8 de fevereiro de 2014

Avózinha

Ontem não consegui passar por aqui.
Mas passei o dia todo a pensar na necessidade que tinha de escrever sobre o dia 07 de Fevereiro.

Até há 8 anos atrás era dia de festa. A festa da minha avó. Paterna.
Só conheci uma avó. Mas, garanto-vos, valeu pela que não conheci. Essa, não me quis conhecer.

A minha avó chamava-se Maria José. Era a avó Maria José. A mãe Maria José. A tia. A vizinha. A amiga. A alentejana da rua dela. Vivia em Lisboa há muitos anos. Mas o seu sotaque alentejano acompanhou-a até ao fim. Pois foi, também, no fim, que regressou à sua terra natal. E é lá que está. Conforme era seu desejo.

Foi a primeira a partir. O meu avô partiu no ano seguinte. O fatídico ano de 2007...

Falar da minha avó é algo que faço sempre com um sorriso nos lábios. Tenho associada a ela várias imagens de marca. A lata de laca, na entrada de sua casa. A lata das bolachas, que só ela sabia onde estava guardada. A caixa do açúcar amarelo, onde só chegavam as formigas. Bolas de berlim de sumol de laranja. Era o que mais gostava de lanchar. Uns brincos de ouro, antiquíssimos, lindos de morrer, que lhe adornavam as orelhas. Coelho frito. Natal. Excursões. Coloches (não sei se é assim que se escreve). E ralhetes.

Era uma mulher de voz poderosa. Não cantava. Isso estava destinado ao meu avô. Mas encantava com a sua forma de ser. Trabalhou de sol a sol. E o que gostava de trabalhar, também gostava de divertir-se. Não dispensava um bailarico. Uma festa de aniversário. Uma saída com a família.

À sexta-feira quando chegava do trabalho, dedicava-se a limpar a casa. Pela noite dentro. Sim, porque ao fim-de-semana era para passear. Ao sábado, começava o dia na praça. E se, quando era miúda achava graça, mais tarde era uma chatice acompanhá-la. Primeiro que fizesse as compras parava 300 vezes para falar com esta e com aquela. E toda a gente a conhecia.

Adorava laranjas. Herdei-lhe o gosto. Era vaidosa. Também lhe herdei o jeito. E punha a família em sentido. Não há dúvidas que sou neta dela! :)

Em casa, tudo no sítio certo. E tomar conta das netas era uma festa. Que nem sempre acabava bem. As guerras de almofadas às vezes tinham mau resultado. E ela fazia questão de dizer aos filhos que da próxima vez não ficava a tomar conta de ninguém. Mas durava pouco, esse estado de alma.

Uma mulher inteligente, é assim que a defino. Dona de uma sabedoria popular imensa. Dona de uma sabedoria que só as mulheres têm. Dona do seu nariz. E da carteira. Era o meu avô que usava as calças. Mas a última palavra era a sua.

Fazia anos a 07 de Fevereiro. E ai de quem se esquecesse da data. Ai de quem não aparecesse la em casa para lhe cantar os parabéns. E se levássemos um amigo, sentar-se-ía connosco à mesa também. Recebia toda a gente que viesse por bem. E, também aqui, lhe herdei o jeito.

Partiu 15 dias antes da minha irmã casar. Pregou-nos uma partida. Não estava doente. Apenas deixou de viver. Sem esperarmos.

Foi à frente dos que mais amamos. Do meu avô. Da minha querida tia Vicência. Como em tudo na vida, gostava de ser a primeira. E até nisto conseguiu o seu objectivo.

Gosto de pensar que o seu espírito protector assim o quis. Foi primeiro, para ver como era. Para preparar a chegada dos outros. Para ajudá-los na transicção. Para que pudessem partir com a certeza de que, ao lá chegarem, não estariam sozinhos.




1 comentário:

  1. lindo! uma avó com A maiusculo!! e tem graça que vejo um pouco da Claudia aqui!!! Beijinhos e devia ser mesmo uma mulher excepcional.

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