quinta-feira, 31 de julho de 2014

Ao serão com amigos

Gosto de ficar horas à conversa ao serão com amigos. Sobretudo quando o encontro não é programado. Quando surge espontaneamente. Inesperadamente. E, depois, a noite passa a correr. E divertimo-nos a valer.
 
Gosto de contar histórias (mas isso vocês já sabiam). E relembrar episódios que têm sempre piada. Por mais que falemos neles. Tivemos um destes serões inesperados esta semana em casa dos nossos amigos Z. e R. Do nada, já estavamos em casa deles. De amêndoa amarga na mão. Eles. E nós, as mulheres, de Bailey's. Devo dizer que já há uns anos que não bebia este licor. Que as bebidas da moda agora são outras.
 
Começámos na cozinha. Acabámos na varanda. E a conversa não nos largou por um minuto. Rimo-nos imenso. E ainda me vem à cabeça a minha amiga a dançar. A imitar um convidado de um casamento onde estiveram no fim de semana passado. :) :)
 
A conversa é assim. Quando animada, puxa por nós. E puxa. E puxa. E parece que não nos deixa sair de onde estamos. Queria contar um dos episódios mais engarçados que nos aconteceu, a mim e ao meu marido, mas havia sempre outra e outra coisa de que se falava. Conversas cruzadas. Gargalhadas. E não consegui. Mas conto agora. E ficam todos a saber.
 
Este episódio poderia intitular-se mais ou menos assim:
O DIA EM QUE A TAP ATRASOU O VOO POR NOSSA CAUSA :)
 
Passou-se na ilha do Pico. Íamos para a Terceira, mas fizemos escala no Pico. E eu, que nunca tinha lá ido, achei o máximo pararmos lá. Não estava a perceber o porquê da escala. Mas depois percebi...
 
A paragem foi curta. O aeroporto, mínimo, mínimo. A pista de aterragem é assustadora. Meia dúzia de metros de alcatrão a acabar numa ravina. Os aviões para levantarem voo têm de fazer marcha atrás. A aterragem é acompanhada de uma brusca travagem. Estão a ver, certo? E o meu marido teve uma dor de barriga daquelas. Enfiou-se na casa de banho.
 
Passado um bocado ouvimos no altifalante:
- Senhores passageiros, o avião para Lisboa parte dentro de momentos. Façam o favor de embarcar.
 
Oi? Avião para Lisboa? Mas só está um avião na pista e vai para a Terceira?!? Pensei eu e o meu marido que estava na casa de banho. Mas rapidamente esqueci o assunto. Afinal, aquele não era o nosso avião. O nosso não ía para Lisboa.
 
Esbaforido aparce-me um polícia (já não me lembro se GNR ou PSP) gorducho e de bigode:
- O que é que a senhora está aqui a fazer?
- Estou à espera do meu marido?
- Para onde é que vai?
- Para a Terceira.
- E o seu marido onde é que está?
- Na casa de banho?
- O quê? Mas o piloto está à vossa espera!!!
 
E entrou pela casa de banho dos homens:
-Ó senhor! Ó senhor que está na casa de banho! Despache-se que o piloto está à sua espera!!
 
Bom, escusado será dizer que eu ria-me com a cena. O meu marido, na casa de banho, não estava a perceber nada. O polícia, nervoso. O aeroporto, vazio. E um avião à nossa espera.
 
Quando, finalmente, estava tudo a postos para partirmos lá fui eu e o meu marido para o avião. E atravessámos o recinto com todos os olhos cravados em nós. As hospedeiras de terra até fizeram uma espécie de corredor para passarmos. Os outros funcionários do aeroporto. As pessoas que estavam dentro do avião a espreitarem pela janela. E o piloto a espreitar-nos da cabine.
 
Toda a gente sabia que o meu marido estava na casa de banho com uma dor de barriga. Juro que quando entrei no avião pereceu-me ouvir: c*gão... Mas talvez tenha sido impressão minha. Envolvida naquele enredo sem qualquer culpa.
 
O avião, afinal, ía para Lisboa. Vinha de Lisboa. E ía voltar. Parou no Pico para recolher novos passageiros. Parou na Terceira para deixar quem vinha de Lisboa. E ía regressar à capital. Uma espécie de comboio com paragem em todos os apeadeiros.
 
Foi uma cena para mais tarde recordar. Até sempre recordar. Até que a memória nos permita. O dia em que a TAP esperou pelo meu marido que se enfiou na casa de banho com uma dor de barriga. :)

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