Quando era miúda, também tive medo do escuro. Ir ao quarto, quando a família estava na sala, era dose. Acendia as luzes todas até lá chegar. Ao mesmo tempo ouvia:
- Apaga as luzes! (imaginem uma voz de mãe a gritar)
Ir à casa de banho era outro drama. E se, por acaso, acordasse de noite e tivesse de me levantar para levantar a luz (não tinha mesa de cabeceira), não o fazia. Chamava alguém.
Dormia no mesmo quarto que a minha irmã. A determinada altura passámos a ter beliches. Ela dormia em cima. Eu dormia em baixo. E numa bela noite a moçoila decidiu cair do primeiro andar. Durante o sono.
Nem me mexi. E ela também não. Continuou a dormir, estatelada no chão. Às escuras. E se não fosse ela que estivesse ali, mas sim um monstro que, em vez de escondido debaixo da cama, estivesse preso ao tecto do quarto há horas só para me assustar?
Mistério desfeito quando os nossos pais entraram no quarto e acenderam a luz. Está-se mesmo a ver. Eles preocupados com a queda e eu cheia de vontade de rir. Não se registou nada de grave. A minha irmã acordou com a luz. E voltou para a cama.
No entanto, apesar do medo do escuro, para mim dormir era com as janelas bem fechadas. As portadas cerradas. Uma nesga de luz que fosse que conseguisse invadir o meu quarto pela manhã, era a morte do artista. A minha, claro! Acordava rabugenta e irritada. E para os que estavam comigo não era fácil. Aturarem-me!
Depois ouvia histórias dos adultos que tinham andado de noite pela casa. Ora para ir à casa de banho, ora para irem comer qualquer coisa. Que confusão que aquilo me fazia. Às escuras? Ir à casa de banho às escuras? Comer às escuras?
Como em tudo na vida, isto é um ciclo. Hoje sou eu a adulta. Sou eu que ando pela casa às escuras. No máximo, para evitar pontapés nos móveis (ando sempre descalça) ou encontrar uma porta fechada, guio-me com a luz do telemóvel. Mas ando às escuras. E os estores também ficam bem fechados. E vejo televisão de luz apagada. E estou no PC sem luz de presença. Gosto! Gosto mesmo!
Agora é a vez dos meus filhos acenderem as luzes até chegarem ao quarto. Ou à casa de banho. Ou à cozinha. E sou eu a ver-me no lugar deles e a pensar que, um dia, aquilo passa-lhes.
tão ternurento...
ResponderEliminar:) Thanks!
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