terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A voz do Rui Pedro, o menino de Lousada

Diz-se que quando perdemos alguém, a primeira coisa que se dilui na nossa memória é a voz da pessoa que partiu. Quanto à minha experiência, é verdade. Lembro-me do rosto, dos maneirismos, de episódios das nossas vidas em comum, mas a voz... essa não me lembro...

Lembro-me do toque, dos abraços, da presença. Lembro-me do rosto. Alegre. Triste. De cada traço, cada expressão. Não preciso de fechar os olhos para me lembrar. Bailam na minha cabeça essas memórias. Convivemos diariamente.

Quando alguém parte, sabemos como era essa pessoa quando partiu. Sabemos que não volta. Sabemos que viverá para sempre dentro de nós. Com a esperança de um dia irmos ao seu encontro. Sabe-se lá onde. Mas essa ideia alivia-nos a ausência.

Sabemos o que se passou. E a angústia cede, dá lugar à saudade. A seu tempo. E não é cada vez mais fácil. É cada vez mais difícil... suportar essa ausência...

Mas saber o que se passou é pôr um ponto final. É o fechar de um livro. É saber que o narrador acabou ali a sua história. E, perpetuá-la, irá depender do legado que deixou. É um alívio. Saber o que se passou...

Faz hoje 27 anos que nasceu o Rui Pedro. O menino de Lousada que despareceu há 16 anos. Tinha 11 anos, o Rui Pedro. Quando desapareceu. 11 anos... Era uma criança. Não consigo imaginar o que terá sido para ele, desaparecer. Não consigo imaginar o que terá sido para os seus pais o seu desaparecimento. Só consigo contrapor à experiência do desaparecimento de alguém, que morreu. De quem sabemos o que se passou.

A voz do Rui Pedro. Será que, 16 anos depois, os seus pais ainda se lembram dela? Da voz do seu menino de 11 anos? Lembrar-se-ão, de certeza, do seu rosto. Da sua comida preferida. Das suas brincadeiras. De que tipo de aluno era na escola. Dos amigos de quem falava a toda a hora. Da t-shirt que não dispensava. Dos seus hábitos na hora de dormir. De como gostava da água do banho. 

Lembrar-se-ão, de certeza, dos seus olhos gigantes de menino ávido de viver. Do maneirismo do seu cabelo. Das mãos. Tenho a certeza que se lembram das suas mãos. E das festas que ele lhes fazia com elas. Das frases que dizia sem pensar. Fruto do seu puro amor para com os seus pais. Da respiração a dormir. Dos seus sonhos. Dos seus pesadelos.

Lembrar-se-ão do que fizeram no 1.º, no 2.º, no 3.º, até ao 9.º aniversário. Das festas da escola. Das máscaras de Carnaval. Das férias que passaram juntos. Dos Natais. Dos disparates próprios que uma criança de 11 anos faz.

A mãe, lembrar-se-à do seu parto. Do grito que deu quando irrompeu para um admirável mundo novo. E, juntamente com o pai, da última palavra que lhe ouviu. Da última respiração que lhe sentiu.

Mas falta aqui um ponto final. Ficaram as reticências de um narrador que tinha todos os ingredientes para escrever uma história fantástica. O livro não se fechou. A angústia aumenta, certamente, a cada dia. Porque o amor continua.

O Rui Pedro nasceu há 27 anos. E, com ele, nasceram uma mãe e um pai. Uma nova família. Novos sonhos. Novos objectivos de vida. E ficou famoso, o Rui Pedro. Pelos piores motivos. Porque deixou a sua história a meio. Porque a sua mãe não baixou os braços. Porque continua a dar a cara. Porque as reticências que a acompanham diariamente dão-lhe força para procurar um the end. Seja ele qual for. Mas a dor, essa, não tem fim. Passou tempo demais.


É este o vídeo que hoje circula nas redes sociais. Mais um apelo à partilha de informação sobre este caso. Mais um alerta. Mais uma vez, a voz embargada da mãe. A voz do Rui Pedro. Uma voz que eu já reconheço.


2 comentários:

  1. Lembro-me tão bem das notícias que deram a seguir ao desaparecimento do Rui Pedro. Fiquei muito chocada na altura porque tínhamos a mesma idade e por ter sido em Lousada, onde eu ia muitas vezes porque a minha família tinha uma quinta lá perto. Acho difícil ele ser encontrado agora (se é que está vivo), mas espero que descubram o que lhe aconteceu e quem foram os culpados.

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    1. Pois é Catarina, uma grande mistério esta história. E uma grande mãe, a Filomena...
      Beijinhos.

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