Aconteceu com um dos mais famosos pilotos de Formula1. Poderia ter acontecido com outra pessoa qualquer que não teria o mesmo impacto. Mas teve o impacto que teve por causa dele. Do Schumacher.
Ainda me lembro do acidente que vitimou o Ayrton Senna como se fosse ontem. Lembro-me daquele 1.º de Maio de 1994 como se fosse ontem. E, apesar de ser uma miúda na altura, tocou-me imenso aquele desparecimento. A brutalidade do acidente.
O meu pai foi piloto de autocross. Foi, aliás, campeão nacional da modalidade. Percorri o país de lés-a-lés com ele. E com a família. E com o gato e periquito. A minha irmã, ainda bebé, também ía connosco. Nada era suficientemente forte para nos separar. Era uma excitação. Vê-lo correr. Ultrapassar. Ser ultrapassado. Fazer a curva. Chegar à reta da meta. Chegar ao pódio. Erguer a taça.
Foram anos de entusiasmo partilhado por todos. Foram anos de dedicação. Anos de paixão. Horas de trabalho. Ora põe, ora tira motor. Ora pinta o chassi de vermelho. Ora experimenta uns amortecedores novos. Afina travões. Acelera aí para ouvir o motor. E as luvas. E o capacete. E o fato. E os óculos. E a fita amovível que limpa a lama das lentes. E a baquet ergonómicamente pensada. E a fibra. E o óleo. E o atrelado. E as licenças. Os exames médicos. As inscrições. A papelada em dia. A gasolina. O spray. O atrelado. Onde dormir. Onde comer.
E o protótipo monotubular. Os carros que as mãos do meu pai moldavam. A forma, a graça, a ergonomia. Eram dele. Horas e dias e semanas e meses e anos de trabalho por uma paixão. Horas e dias e semanas e anos de ausência das nossas vidas. Como qualquer apaixonado. E a alegria no seu rosto. A cada pequena conquista.
Tira aí uma fotografia. Conseguiste filmar aquela curva. Olha agora, olha agora. Num tempo em que o digital não convivia connosco.
E o reconhecimento? E os louros? E uma notícia no jornal? E uma notícia no telejornal? E patrocínios? E... obrigado? E a doença maldita que talhou a foice o percurso deste herói? E quem é que ficou a saber disso?
O acidente do Ayrton Senna (a que assisti em directo na televisão) arrepiou-me até ao tutano. Já tinha visto o meu pai virar o carro ao contrário em plena prova. Já o tinha visto envolvido em acidentes. Um dia até o seu carro se incendiou.
O acidente do Schumacher... comum como outro qualquer. Mas é o Schumacher a vítima. Super-hiper-mega fantástico por conduzir um carro. E, por isso, o mediatismo. Mas quantos Schumacher's não conhecemos nós nesta vida. Quantos heróis não conhecemos nós nesta vida?
Apresento-vos o meu Schmacher que conduzia um carro de corridas. Mas que também os construía. Apresento-vos uma das suas obras. E, hoje, com as suas mãos, continua a moldar.
Para os netos.
lindo!! deu-me vontade de beijar o meu pai e dizer-lhe simplesmente que ele é o meu heroi. mas eu acho que isso ele ja sabe...
ResponderEliminarOlá Joana. É verdade que os pais sabem disso. Mas também é verdade que gostam de lho digamos... Ligue-lhe!
ResponderEliminarBeijinhos. :)