terça-feira, 22 de outubro de 2013

As mãos que me sustentam

Quando se fala em embalar (de "embalo" e não de "embalagem"), rapidamente construímos a imagem de uma mãe com o seu bebé ao colo na hora de dormir. E para pessoas mais criativas (ou mais românticas), esta imagem ainda vem acompanhada de uma janela de fundo a completar o cenário da mãe sentada numa cadeira de baloiço.
 
Quando se fala em embalar, associamos a ideia à hora de dormir, a um acto a que se recorre para acalmar um bebé a chorar e, sempre, sempre, de cima para baixo, ou seja, dos pais para os filhos como se os pais não precisassem, também eles, de embalo...
 
E quando o assunto é este, muda a expressão no rosto das pessoas, o tom de voz e, até, a postura com que estão no momento. O embalo é algo que nos leva ao nosso passado, aos tempos de criança (que os de bebé não nos lembramos) e temos saudades disso. Aos que são pais, também a conversa pode levá-los aos momentos de embalo que passam com os seus filhos.
 
E será que deve resumir-se a isso, o embalo? Será que é só isso mesmo? Será que à medida que crescemos já não somos embalados por ninguém? Será que as mãos que nos sustentaram no sono, na birra, na irritação, no crescimento, desapareceram por completo? E será que serve apenas para isso, o embalo?
 
Fomos embalados até chegarmos à idade adulta. Tenho a certeza! Mas também tenho a certeza que somos embalados diariamente, porque o embalo é mais do que o colinho na hora de dormir. O embalo é o abraço na alegria e na tristeza. É a mão que nos ajuda a levantar. É o sorriso que nos conforta. É a mensagem de e-mail que nos desperta. É a chamada telefónica na hora H. É tudo o que nos faz bem! É tudo o que quisermos!
 
É a partilha, a amizade de alguém, as conquistas que nos acalentam (as dos filhos, as dos conjugues, as dos irmãos, as dos pais ou as dos amigos). É o amor que cresce, diariamente, quando estamos apaixonados. É o amor que nos incendeia quando estamos enamorados.
 
O embalo, são as mãos que nos sutentam. E as minhas, mal elas sabem, são estas que ao receber o meu embalo, embalam-me a alma! E, por isso, continuo a crescer... sem aquele colo, é certo, mas com o colinho que dou, com o colinho que sou, com o colinho que se gerou em cada gesto meu.
 
Adoro o colinho dela!
Adoro, mesmo, este colinho!
A idade (dela) já não me perdoa os excessos de colo que quero dar-lhe (ou receber!) e, por isso, tenho que manter a distância... Mas ela não imagina como me carrega ao colo com as suas conquistas, com o seu sorriso, com o seu desenvolvimento, sentido de justiça, sensibilidade, bondade e astúcia. É astuta, uma verdadeira senhorinha!
Uma mão que me sustenta...


Adoro o colinho dele!


E este embalo? Ele não faz ideia, sequer, do que me dá com o seu embalo. Não faz ideia de como me aviva a memória da primeira experiência. (Daquela que já quer pouco embalo...) Não faz ideia de como a sua traquinice veio dar vida às nossas vidas. Não sabe como o seu sorriso nos desarma e nos derrete a alma e nos enche de alegria. Não faz ideia de como me sustenta, diariamente e de como também ele, o petiz, faz a irmã feliz...
Esta, é outra mão que me sustenta...

Pensemos em como temos embalo. Imaginemo-nos ao colo das nossas mães, no lusco-fusco, numa cadeira de baloiço, com uma janela de fundo iluminada pelo luar. Pensemos nisso como uma recordação construída por alguém, mesmo que vivida, será sempre construída (não temos essa memória) e acreditemos que também connosco foi assim. Mas tenhamos consciência de que esse embalo transformou-se, não desapareceu! Transformou-se no modo de dar e receber. Figurativamente ele está presente!

Cabe-nos a nós dar por isso!

5 comentários:

  1. já estou viciada neste blogue! As palavras da Cláudia explicam aquilo que eu sinto mas que nem os meus pensamentos conseguiam exprimir! Muito obrigada pela riqueza destas palavras que demonstram bem a grandeza de caráter de quem as escreve!

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    1. Fico muito lisonjeada com a amabilidade deste comentário! E fico, também, motivada para continuar a partilha!
      Bem-haja!

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  2. Muito bonito Claudia. Lindo texto, lindas palavras que me emocionaram muito. Adorei.

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    1. Obrigado Rosa. Continua a acompanhar. É uma motivação para mim!

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