Quando se fala em embalar (de "embalo" e não de "embalagem"), rapidamente construímos a imagem de uma mãe com o seu bebé ao colo na hora de dormir. E para pessoas mais criativas (ou mais românticas), esta imagem ainda vem acompanhada de uma janela de fundo a completar o cenário da mãe sentada numa cadeira de baloiço.
Quando se fala em embalar, associamos a ideia à hora de dormir, a um acto a que se recorre para acalmar um bebé a chorar e, sempre, sempre, de cima para baixo, ou seja, dos pais para os filhos como se os pais não precisassem, também eles, de embalo...
E quando o assunto é este, muda a expressão no rosto das pessoas, o tom de voz e, até, a postura com que estão no momento. O embalo é algo que nos leva ao nosso passado, aos tempos de criança (que os de bebé não nos lembramos) e temos saudades disso. Aos que são pais, também a conversa pode levá-los aos momentos de embalo que passam com os seus filhos.
E será que deve resumir-se a isso, o embalo? Será que é só isso mesmo? Será que à medida que crescemos já não somos embalados por ninguém? Será que as mãos que nos sustentaram no sono, na birra, na irritação, no crescimento, desapareceram por completo? E será que serve apenas para isso, o embalo?
Fomos embalados até chegarmos à idade adulta. Tenho a certeza! Mas também tenho a certeza que somos embalados diariamente, porque o embalo é mais do que o colinho na hora de dormir. O embalo é o abraço na alegria e na tristeza. É a mão que nos ajuda a levantar. É o sorriso que nos conforta. É a mensagem de e-mail que nos desperta. É a chamada telefónica na hora H. É tudo o que nos faz bem! É tudo o que quisermos!
É a partilha, a amizade de alguém, as conquistas que nos acalentam (as dos filhos, as dos conjugues, as dos irmãos, as dos pais ou as dos amigos). É o amor que cresce, diariamente, quando estamos apaixonados. É o amor que nos incendeia quando estamos enamorados.
O embalo, são as mãos que nos sutentam. E as minhas, mal elas sabem, são estas que ao receber o meu embalo, embalam-me a alma! E, por isso, continuo a crescer... sem aquele colo, é certo, mas com o colinho que dou, com o colinho que sou, com o colinho que se gerou em cada gesto meu.
Adoro o colinho dela! |
Adoro, mesmo, este colinho!
A idade (dela) já não me perdoa os excessos de colo que quero dar-lhe (ou receber!) e, por isso, tenho que manter a distância... Mas ela não imagina como me carrega ao colo com as suas conquistas, com o seu sorriso, com o seu desenvolvimento, sentido de justiça, sensibilidade, bondade e astúcia. É astuta, uma verdadeira senhorinha!
Uma mão que me sustenta...
Adoro o colinho dele! |
E este embalo? Ele não faz ideia, sequer, do que me dá com o seu embalo. Não faz ideia de como me aviva a memória da primeira experiência. (Daquela que já quer pouco embalo...) Não faz ideia de como a sua traquinice veio dar vida às nossas vidas. Não sabe como o seu sorriso nos desarma e nos derrete a alma e nos enche de alegria. Não faz ideia de como me sustenta, diariamente e de como também ele, o petiz, faz a irmã feliz...
Esta, é outra mão que me sustenta...
Pensemos em como temos embalo. Imaginemo-nos ao colo das nossas mães, no lusco-fusco, numa cadeira de baloiço, com uma janela de fundo iluminada pelo luar. Pensemos nisso como uma recordação construída por alguém, mesmo que vivida, será sempre construída (não temos essa memória) e acreditemos que também connosco foi assim. Mas tenhamos consciência de que esse embalo transformou-se, não desapareceu! Transformou-se no modo de dar e receber. Figurativamente ele está presente!
Cabe-nos a nós dar por isso!
já estou viciada neste blogue! As palavras da Cláudia explicam aquilo que eu sinto mas que nem os meus pensamentos conseguiam exprimir! Muito obrigada pela riqueza destas palavras que demonstram bem a grandeza de caráter de quem as escreve!
ResponderEliminarFico muito lisonjeada com a amabilidade deste comentário! E fico, também, motivada para continuar a partilha!
EliminarBem-haja!
Muito bonito Claudia. Lindo texto, lindas palavras que me emocionaram muito. Adorei.
ResponderEliminarObrigado Rosa. Continua a acompanhar. É uma motivação para mim!
EliminarMuito obrigado!
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