terça-feira, 8 de setembro de 2015

Equilíbrios complicados

Tantas vezes ouvimos os outros queixarem-se da vida como se fossem os únicos a viver uma vida. Queixam-se e tomam a liberdade de aconselhar-nos pela sua vasta experiência. Pelas suas decisões, pelos resultados das mesmas. Pelas escolhas que fizeram, pelo resultado das mesmas. Pelo caminho que decidiram tomar, pelo resultado do mesmo.
 
Tantas vezes ouvimos e ouvimos e ouvimos e esquecemos e esquecemos e esquecemos na hora aquilo que nos disseram. Porque da nossa vida sabemos nós! Estaremos a ser prepotentes, incautos ou extremamente zelosos?

Dizem-nos coisas como:
se eu soubesse... teria dado prioridade a outras coisas...
trabalhei uma vida inteira e não dei a devida prioridade às coisas mais importantes...
tanto que me dediquei aos meus filhos e agora eles não me ligam nenhuma...
And so on...

Como é que se faz, por exemplo, este equilíbrio? Entre o deve e o haver de uma carreira profissional e da atenção que se deve dar às coisas realmente importantes? Aquelas essenciais, invisíveis aos olhos... (como nos ensinou uma extraordinária personagem da literatura). Como não dar 100% numa carreira profissional, no auge do seu desenvolvimento, no auge das nossas capacidades, mesmo que completamente conscientes dos efeitos colaterais disso, se a sociedade em que vivemos nos exige tanto, num tão curto espaço de tempo? Quando nos diz que a partir dos 35 anos já estamos velhos para iniciar uma carreira? Quando nos diz que 85% do sucesso é a imagem? Quando nos coloca à margem dos outros porque somos pais?

Como encontrar um equilíbrio entre um desempenho profissional de sucesso e não me refiro a sermos bons profissionais, mas sim a desafiarmo-nos todos os dias rumo à subida de todos os degraus com que nos deparamos e, ao mesmo tempo, estarmos presentes perante as tais prioridades, perante o essencial que é invisível aos olhos?

Conscientes! Sobretudo conscientes disto, das ausências em momentos importantes, do chegar tarde, do penalizarmos os que nos rodeiam com a nossa ausência, como poderemos encontrar este equilíbrio?

E quem é pai e mãe? Será que se deve substituir a si mesmo para poder garantir as necessidades básicas das crianças, enquanto acompanha mais este e aquele projecto que está a desenvolver? E o essencial? Aquele... invisível os olhos... como é que lhe respondemos? Se não estamos presentes?

Poderá haver lugar a um tempo para a parentalidade, enquanto eles são pequenos, e um tempo para a carreira profissional, quando eles estão mais crescidos? E o tempo que passou? De que nos serve relativamente à competição a que estamos sujeitos?

Tantos "ses", tantos "comos", tantos "porquês". Tantas incertezas que nos acompanham nestes cenários que nos conduzem a duvidarmos de nós próprios. Das nossas escolhas. Daquilo que sabemos ou pensamos ser importante. Daquilo que pensámos ser o melhor para todos. E depois? Depois... depois ouvimos os outros nos seus conselhos mascarados de desabafos, assim como quem não quer a coisa. E ficamos divididos.

Num destes dias um amigo nosso com mais idade que nós, pai de quatro filhos cujo mais novo tem 16 anos, dizia-nos que nunca esteve presente numa reunião de pais. Que faltou a muitos momentos importantes da vida dos filhos em função da sua carreira. Custa-nos ouvir isto, mas sabemos que é um bom pai. Sabemos que o fez para poder dar aos filhos uma vida boa. Que trabalhou imenso, em várias áreas. Que se dedicou à sua carreira profissional e que fez história. Aliás, faz parte da história do nosso país! É reconhecido publicamente. E em privado também. Mas lamentava-se assim. Desta forma. Como que reduzido a nada...

Como saber o que fazer? Como encontrar um equilíbrio? 

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