quinta-feira, 26 de junho de 2014

De bandeira em riste!

Adoro ver o quanto os portugueses defendem a sua bandeira.
Adoro os carros enfeitados e as varandas e as janelas.
Um orgulho nacional, envergar a bandeira portuguesa.
 
Adoro que isto aconteça, apenas, às vezes.
E que não se lembrem disso na hora de terem uma postura séria em relação ao país. Que não se lembrem da sua nação na hora de pagar impostos e contribuir para um Portugal que vive da sua história. Adoro que procurem a bandeira mais bonita para exibirem e depois não saibam o que representa. Nem conheçam as capitais de distrito. Nem os rios. Nem as ilhas de cada arquipélago.
 
Adoro quando cantam o hino nacional, mas não sabem quem o escreveu. Quando batem com a mão no peito por um Portugal forte, coeso, conquistador e depois não saem de casa na hora de votar. Adoro! Adoro a admiração pela grandeza dos heróis dos que nos representam lá fora e, depois, a vergonha de dizer que se é português.
 
Adoro saber que esta moda das bandeiras foi implementada por um brasileiro no ano de 2004. Aqui em Portugal. E que os portugueses nunca se tinham lembrado disso. Com vergonha. Desdenhando do amor que os EUA têm pela sua.
 
Adoro que façam do fado um cartão de visita e depois não saibam cantar nenhum. Ou de quem são. Ou o que é o fado. Como adoro a ida obrigatória ao santuário de Fátima. Em romaria. Com farnelos e tintol. E, depois, ninguém pratica o que prega durante o resto do ano.
 
Adoro esta mesquinhez portuguesa que alimenta a ideia de sermos um país falido. Com uma grande taxa de desemprego entre os jovens. Com os pais a passarem a mão no pêlo dos seus filhos de 30 anos. Coitadinhos! Isto está tão difícil! E, depois, é vê-los nos concertos, de férias, em viagens, em estreias absolutas de novos locais da noite. E em jogos de futebol. A levantarem-se tarde, porque não vale a pena abrir o jornal para procurar trabalho. Nem sair de casa para procurar trabalho. Mas vale a pena roubarem aos pais a tranquilidade que estes já merecem por uma vida de trabalho.
 
Adoro esta mentalidade de que somos o máximo. Não sabemos nada. Não fazemos nada. Mas somos o máximo. Até mostramos ao mundo que a nossa bandeira é hasteada em nossa casa e nos nossos carros de forma solene.
 
Só tenho pena que esteja tão deslavada. A nossa bandeira. Que tenha vindo a perder a cor e tenha vindo a aumentar a dor. Pelos que partem para outros países. Pelos que ficam a verem os seus de partida. Pelos que investiram tudo o que tinham, sonhos e poupanças, mas que tiveram de desistir. Não conseguiram resistir. Aos impostos, à carga fiscal, à concorrência desleal.
 
Tenho pena que a nossa bandeira não dê crédito a ninguém.
 
Sou portuguesa com orgulho. Fiquei cá quando pude sair. E quero que os meus filhos fiquem. O país é deles. Das crianças de hoje. E quero que saibam quem escreveu o hino nacional. E que saibam o que representam as cores da bandeira e os símbolos que nela constam.
 
Quero que saibam os distritos e os rios e os reis e as ilhas e as capitais e as serras e a história. Quero que conheçam os grandes autores e os pequenos também. O fado, o santuário de Fátima. Que a mãe é do Alentejo e que o pai é da Beira. Que cada coisa tem o seu lugar, o seu tempo. Que saibam de onde vêem e para onde querem ir. Que tenham humildade para não hastearem a bandeira portuguesa, apenas, quando há campeonatos de futebol.

4 comentários:

  1. parabens! agora as saudades ja morreram pois ja li um texto verdadeiramente verdadeiro (salvo a redundancia) alfredo keil deve estar a bater palmas ;)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Já morreram as saudades?? Então é porque não tinhas muitas! :)
      Beijinhos.

      Eliminar

Comente! Prometo responder!