quarta-feira, 28 de maio de 2014

Presidente por um dia

Nas passadas eleições de Domingo presidi uma mesa de voto. Fui presidente por um dia! :) E assumi esse papel consciente do dever de cidadania que a todos nos assiste. Foram muitos os comentários à volta desta decisão. Ah, e tal, o que te pagam não compensa! Ah, e tal, ninguém vai votar! Ah, e tal, a um Domingo? Nem pensar!! Ou Ah, e tal, vais porque te pagam!!
 
É típico do povo português falar do que não sabe. Falar sem conhecimento de causa. Falar porque ouviu falar sobre o assunto. Mas eu, que passei pela experiência, não me importo de dar uma explicação aos mais incautos nas palavras.
 
 
Quem esteve numa mesa de voto receberá 50€. Mas apenas os cinco elementos da mesa. Os delegados não recebem nada. Levantamo-nos às 6 da manhã, porque às 7 temos de estar todos juntos para tratar da papelada. Delegados incluídos. No meu caso em concreto, e nestas eleições em particular, eram 20h quando tinha tudo despachado. Votos contados, actas redigidas, contas feitas, ocorrências, editais, etc. Tive de aguardar pelo presidente da Junta de Freguesia que, acompanhado por um elemento da PSP, tinha a missão de correr todas as mesas para levantamento dos votos. O que aconteceu pelas 21h00. Eram 21h30 quando cheguei a casa. Portanto, das 6h00 às 21h30 estive ao serviço do Estado.
 
Na segunda-feira tive direito a descansar sem penalização remuneratória, nem desconto do subsídio de refeição. Assim o prevê a lei. Este descanso estende-se aos delegados que, como referi, não irão auferir nada.
 
Espero que, até aqui, tenha sido esclarecedora.
 
No entanto, devo dizer que, para mim, 50€ não compensam nada estar mais de 15h num Domingo a participar num acto eleitoral se o meu objectivo fosse apenas esse: ganhar dineiro. Mas não era! Já sabia quais eram as condições antes de participar e isso não me demoveu. Ao contrário de muitos outros cidadãos que foram nomeados. E porquê? Porque penso que este é um dever de todo e qualquer cidadão. Penso mesmo que seria muito importante todos os cidadãos passarem por isso. Pois ganhariam muito mais conhecimento sobre o que implica o país ir a eleições. O dinheiro que se gasta. A logística imensa. As entidades envolvidas. O participar leigitimamente num processo que todos escolhemos: o de poder votar! O de poder escolher os nossos representantes!
 
Na minha mesa registou-se cerca de 80% de abstenção. Sendo que na minha mesa estavam registados os mais jovens fregueses... é muito, muito preocupante! A demissão do dever, da obrigação e do direito de votar tem muito mais peso na eleição do que as pessoas possam pensar. Elegem-se representantes com meia dúzia de votos, porque a maioria demite-se de se pronunciar. Nem que o voto fique em branco, é um dever ir votar! Não é uma forma de protesto! Mas antes deixar a decisão nas mãos dos outros.
 
Tenho pena que o descrédito generalizado na política leve a que a abstenção no nosso país cresça cada vez mais. Esse descrédito não deve ser desculpa para a não participação. Somos cidadãos. Somos reponsáveis por nós, pelas decisões do nosso país. Não podemos querer continuar a ser filhos do Estado quando não fazemos nada por ele. O Estado não é o paizinho que está cá para resolver todos os nossos problemas. O Estado não é o bicho papão que alguns querem fazer crer. E o desconhecimento desse poder que temos nas mãos, de fazermos do Estado aquilo que queremos, está a conduzir-nos a um estado lastimoso...
 
Sem valores. Sem princípios. Sem respeito pela nossa bandeira. Sem sentido de patriotismo. Já não há tropa obrigatória. Na escola os professores não podem levantar a voz. Um agente da PSP é insultado e não se pode mexer sob pena de ser suspenso da sua actividade profissional. Os mais novos judiam dos mais velhos. Não se pede licença, não se diz bom dia, nem obrigado. Não se cultiva o amor à pátria. De forma nenhuma. E essa é, antes de mais, a base do descrédito.
 
Olhamos à nossa volta e vemos um bando de miúdos novos, muito letrados, mestres e doutorados em lugares cimeiros da gestão do nosso país. Mas sem saber de experiência feito. Sem conhecimentos sobre a vida. Sem valores resultantes de uma educação para o respeito, para o saber esperar. Com uma sede de chegar a mestre antes de ser aprendiz. A correrem quando mal aprenderam a andar.
 
E depois, depois ninguém vota. Queixam-se! Mas ninguém vota!
 
Também é típico do português votar com a carteira. Tomar decisões em função da carteira. Como as facturas! Agora começam a pedi-las por causa do prémio. Ou seja, da carteira. Então porque não adoptar um método semelhante ao do Brasil? Quem não vota é penalizado nas finanças. Aqui, poderíamos não penalizar quem não vota... mas beneficiar quem vota!
 
Já que é assim que o português funciona... albarda-se o burro à vontade do dono...
 
Foi uma boa experiência. Mas triste, ao mesmo tempo...

4 comentários:

  1. Eu continuo a achar que votar devia ser obrigatório como em muitos países (incluindo alguns europeus). Acho ridiculo termos uma arma tão forte na mão, não usufruirmos dela e no fim abre-se a boca para se queixarem. Para o Português, além do dinheiro, também conta a lei do menor esforço.

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  2. Há também quem seja nomeado para as mesas e não apareça, o que também diz algo sobre a responsabilidade de alguns de entre nós.

    suponho que as pessoas não votam porque não sentem que o seu voto mude alguma coisa, tanto mais numas europeias, de uma Europa afastada dos cidadãos e construída à sua revelia.
    Ainda assim os portugueses são de entre os povos da Europa aqueles que menos se interessam pela política e pelos assuntos políticos, e esta tendência atravessa todas as gerações, o que as gerações mais novas vão perdendo é a consciência cívica do dever e dos direitos políticos que têm.

    Os mais velhos, aqueles que ainda viveram sob a bota da ditadura ainda percebem o voto como uma conquista e não são poucos os que vão votar apenas pelo valor que o seu voto têm enquanto direito conquistado. Talvez não saibam em quem votar mas sabem que têm que ir votar.

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