Antes de ser mãe, já tinha desistido da ideia.
Andei alguns anos a tentar. E toma medicação, e tira a temperatura, e é agora a altura certa. E começa tudo de novo.
O desalento cresce de mês para mês. Questionamo-nos. Não percebemos. Porquê connosco que até queríamos tanto. Porque é que há mulheres com carradas de filhos, sem condições nenhumas. Porque é que há mulheres sem qualquer sentimento maternal que engravidam tão facilmente, etc., etc.
São muitas das questões que passam pela cabeça de quem como eu, queria ser mãe, e não conseguia.
Desisti. Tentei aceitar o facto da maternidade não me estar reservada. E a minha vida continuou. E recomeçou, no dia em que, depois de muito tempo com essa ideia fora do horizonte, ter decidido ir a uma consulta com um especialista dos especialistas em infertilidade. Lá fui. Ou melhor, lá fomos, eu e o meu marido. A consulta custou 120€. Sim! Limpinhos. Sem seguros, acordos ou o que mais. E não valeu de nada. Não valeu, porque fomos lá só para ficarmos a saber que eu estava grávida!
É verdade!
Não me tinha apercebido. 6 semaninhas de gente dentro e para mim estava tudo normalíssimo. Foi o teste de gravidez mais caro da minha vida.
Naquele dia, não senti nada. Nem alegria, nem tristeza. Pusemo-nos a caminho de casa sem dizer uma palavra. A chover, no meio do trânsito. "E agora? O que é que queres fazer?" - perguntou-me ele. "Não sei... se calhar é melhor dizer a alguém, não?". Quando cheguei a casa dos meus pais já estava outra!
Acho que os meus filhos não sabem o quanto gosto deles.
Não sabem. Não imaginam o que senti quando soube que estava grávida deles. (nem eu sei bem)
Das duas vezes foram sentimentos e experiências diferentes. A própria descoberta do meu estado de graça, também foi inusitada, de ambas as vezes. A única coisa em comum foi que, em ambos os casos, já tinha disistido da ideia.
Ainda bem que aconteceu. Foi quando menos esperei, mas talvez quando estava mais preparada. Tinha de ser assim.
Das duas vezes, os partos aconteceram à sexta-feira. E, também das duas vezes, no sábado senti que já gostava mais deles do que horas antes. É curioso, porque não sabia se aquilo que estava a sentir era mesmo assim. Da primeira vez, senti e tive vergonha de dizer. Da segunda, voltei a sentir, com a mesma intensidade e disse-o a quem estava na visita. E quem estava na visita compreendeu-me tão bem...
Todos os dias gosto mais deles do que gostava no dia anterior. Não sabia que ía ser assim.
Agora compreendo os pais. As suas preocupações. Mesmo quando os filhos são já adultos. O mesmo discurso para os seus filhos, ainda umas crianças aos seus olhos.
Todos os dias gosto mais deles. Todos os dias, mesmo! Sem tirar nem pôr. Às vezes penso que vou rebentar de tanto sentimento.
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