A propósito da reportagem que ontem deu na televisão sobre a ama que agredia as crianças (aquela brutamontes que aparece numa varanda a bater como se não houvesse amanhã num ser com um terço do seu tamanho - graças a Deus vai ser acusada) tive uma conversa com a minha cunhada que me deixou chocada! Mas chocada mesmo a sério! De boca aberta! Incrédula, sem palavras e sem compreender uma série de coisas!
Comecei eu por dizer que li um artigo (não me lembro onde) sobre as agressões físicas que os pais infligem nos seus filhos. Não que já por si esta situação não fosse gravíssima, mas mais grave ainda é que esse artigo dizia que cada vez mais essas agressões são mais refinadas... Ou seja, os pais têm vindo a aprimorar as suas técnicas de agressão de modo a não deixarem rasto. Acreditam nisto??
Como é que um pai ou uma mãe pode perder tempo da sua vida a pensar numa forma de agredir os seus filhos de modo a que não fiquem marcas? COMO?? Como é que um pai ou uma mãe podem ser coniventes ou cúmplices nestas agressões???
A minha cunhada é enfermeira pediátrica. Já se está mesmo a ver que lhe passam pelas mãos situações que não me passam a mim pela cabeça. E, comentando eu sobre o que tinha lido, perguntei-lhe se ela achava que há mais casos de agressão física aos filhos.
Na sua opinião, não! O que há é mais informação disponível sobre como detectar e denunciar estes casos, logo um maior conhecimento e um maior número de denúncias. Quer por parte das escolas, colégios, amigos da família, vizinhos e outras mais testemunhas que durante anos e anos não abriam a boca.
Mas sim, ela confirmou que lhe aparecem crianças no hospital com lesões internas graves, fruto de maus tratos. Sem marcas. Com lesões que, à partida, não levam a crer que tenham sido infligidas por alguém. Mas que foram. E pelos pais. E alguns relatos que me fez... deixaram-me estarrecida...
Tenho algumas ideias sobre isto.
Sobre esta geração de adultos inseguros, revoltados e frustrados que confundem autoridade com autoritarismo, sabedoria da maturidade com verdade absoluta, liberdade de expressão de ideias das crianças com desrespeito pelos mais velhos.
Tenho a ideia de que lhes faltou um catalisador nos seus processos educativos capaz de lhes gerar segurança interna, confiança e respeitabilidade. Um catalisador que mais não é que uma palavra de ordem para gerar respeito mútuo entre pais e filhos. E esse catalisador é o amor. Faltou-lhes amor. Faltou-lhes educação. Faltou-lhes saberem o que é a amizade e que esta e o amor andam de mão dada.
Pior, transformaram essa falta de referências, essa inconsistência das suas vidas numa frustração pegada, num gap muito grande entre aquilo que dizem e aquilo que fazem. Pregando o respeito mútuo, mas sem saberem praticá-lo. Exigindo limites, mas sem conhecerem os seus próprios limites. Exigindo resultados, sem demonstrarem e sem conhecerem o seu próprio valor.
Faltou-lhes tanta coisa. Falta-lhes tanta coisa. Partem para a ignorância, através de uma combate desigual, injusto, desequilibrado. Partem para a ignorância a partir da ignorância em que se foram construindo as suas vidas. E não sabem lidar com isso. Não sabem lidar com eles próprios. Não conseguem aprender, reter o que de mais valioso cada experiência de vida lhes dá.
Não percebem que não são pais nem mães. Que não estão a investir em adultos bem formados, bem preparados, equilibrados. Que neles, nos filhos, têm a oportunidade de provar que são mais que um poço de frustrações, indecisões. Que são eles próprios uma referência para as crianças que vivem, sobrevivem diariamente a estes ensinamentos.
Não percebem que crianças criadas assim, estão sozinhas, não têm uma mãe. Apenas um corpo presente. Não têm um pai, apenas alguém que está ali.
Não consigo. Não consigo. Mesmo! Não consigo!!
(estou a escrever e sinto-me nervosa, revoltada com isto)
Falta-lhes tudo. Até amor próprio. Esse, confundem-no com narcizismo.
Falta-lhes o chão. Falta-lhes coração. Até, quem sabe, uma oração. Procurar encontrar uma fonte de fé, pois não crêem em nada, NADA! Nem num futuro melhor!!
E isso, é zero. É a falta de esperança. É uma criança sem confiança numa vida de bonança.
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