terça-feira, 26 de novembro de 2013

É Natal, já sei!

De vez em quando, entre colegas de trabalho, lá vem a conversa sobre o Natal. E porque ainda não fizeram a árvore, e porque já fizeram a árvore, e porque ainda não começaram a comprar presentes, e porque já compraram os presentes todos, e porque este ano é em casa deles, e porque este ano não é em casa deles, e porque é Natal todos os anos! É à conclusão que eu chego! 
 
E porquê? Porquê tanta conversa sobre um assunto que, na maioria dos casos (do que me apercebo de ano para ano), esta época é ela, também, muito propensa a chatices, desavenças, interrogações, sacrifícios, gastos desnecessários, correrias em manada (pelos centros comerciais), beca beca, beca beca? Um desgaste emocional, físico e financeiro enorme em função do Natal, uma noite e um dia. Em função de um conceito completamente distorcido no que toca ao consumismo que lhe está associado.
 
Será mesmo isto o mais importante? Quando vejo pais, avós e tios a espetarem com catálogos de brinquedos à frente dos filhos, sobrinhos e netos para que os mesmos façam as suas escolhas, as crianças começam, desde cedo, a perceber tudo ao contrário. Para elas o Natal  nasce torto e só tardiamente é que poderá endireitar-se.
 
Primeiro, enganamo-los. Mostramos-lhes que esta é uma época de abundância. Materializada no senhor que a Coca-Cola imortalizou e que passou, também, a omnipresente:
- Olha que o Pai Natal está a ver a tua birra!!
 
Depois, passado uns anos a viver nesta ilusão, começam as desconfianças.
"Ora bem, afinal... o Pai Natal se calhar não existe... mas eu cá não digo nada a ninguém até ter a certeza...". Mais tarde, incertezas à parte, os anos de ouro (entre a adolescência e a idade adulta). Já se sabe que o barrigudo não existe, mas que até dá jeito em algumas situações, e a isso junta-se a chica espertice de esfolarem os pais, os tios e os avós até que os bolsos fiquem cheios de ar.
 
Quando chega a altura de dividir o mal pelas aldeias... Bom, aí... ou se tem a sorte dos pais do casal serem os melhores amigos do mundo, que partilharam as suas infâncias, as suas descobertas, segredos e, agora os filhos (coisa de que não tenho conhecimento), ou então meus amigos, começam as chatices.
 
E agora é por causa disto! E agora é por causa daquilo! E na vossa família é tudo louco! E na minha família faz-se de outra maneira! E eu não estou para aturar o teu tio com a mania que é o xpto do futebol! E eu não estou para aturar a tua prima que se julga a última coca-cola do deserto! E rebeubeu pardais ao ninho!
 
O que é que acontece, o quê? Várias coisas possíveis:
- ou vai cada um para seu lado (o que se vê cada vez mais)
- ou vão os dois para o mesmo lado, mas um vai de trombas (o que se percebe a léguas)
- ou fazem um esforço daqueles e, no fim, até gostaram (o que é raro)
- ou adoece um deles (muito suspeito)
- ou abdicam do Natal ano sim, ano não (muito comum)
- ou... o que vocês quiserem ou já aconteceu convosco (surpreendam-me)

Quando há crianças pelos meio, há um esforço maior para que corra tudo... melhor... mas ainda assim... quando chega a noite de Natal já está tudo farto de tanta chatice, agitação e coisas de última hora que caracterizam o Natal de cada família. Já só faltam duas horas para a coisa se dar...

E, afinal, qual a verdadeira mensagem do Natal?
Só nos apercebemos da sua importância quando nos deparamos com cenários destes. A determinada altura das nossas vidas começamos a pensar nas pessoas que estão em casa, sozinhas. Nos doentes, enfermos, hospitalizados, e nas respectivas famílias. Nas crianças institucionalizadas, nas crianças doentes, nas crianças abandonadas. Pensamos nas famílias que têm entes reclusos, entes que já partiram. Nessa altura das nossas vidas, em que também nós já temos algumas experiências deveras marcantes, começamos um novo processo interior, o de desvalorizar o consumo, o de valorizar as relações.

Porque, no fundo, no fundo, enquanto nos aborrecermos e nos queixarmos das chatices que esta época nos trás, é sinal de que alguma coisa boa também tem. É sinal de que temos com quem nos reunirmos, é sinal de que temos saúde para aguentar, de que não temos ninguém no hospital e de que os nossos entes queridos que nos deixaram antecipadamente serão lembrados a várias vozes.

É sinal de que é Natal e na tal casa de sempre... vai haver gente... nem que seja uma vez por ano...

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comente! Prometo responder!