Ainda não me tinha pronunciado sobre o estado de sítio em que se encontra o início deste ano lectivo. Apenas e só porque tenho o hábito de ser muito prudente ao comentar coisas sobre as quais não sei grande coisa. O que é o caso.
O que é que eu sei?
Sei que há concursos para colocação de professores. Sei que os professores devem apresentar as suas candidaturas segundo determinados critérios. Sei que há uma espécie de "hierarquia" na colocação dos mesmos que assenta na antiguidade, formação, créditos... Sei que os professores têm um determinado período de tempo para aceitarem a colocação que lhes foi atribuída. Sei que há uma bolsa de contratação. Sei que há casos de processos desaparecidos. E pouco mais. (perdoem-me os professores se estou a dizer alguma coisa mal e, por favor, esclareçam-me)
Como cidadã tenho cuidado para não emprenhar pelo ouvido. Não me deixo levar pela desinformação que a comunicação social pratica. Não me deixo levar pelos dramas de colocações a 400km de casa. Não me deixo enganar pelas péssimas condições de trabalho apregoadas aos sete ventos. E não! Os meus filhos não estudam no privado!
Tal como aconteceu comigo frequentam o ensino oficial. Pois eu não acredito num ensino diferenciado quando os professores saíram praticamente das mesmas escolas. Não acredito que um mau professor, sem perfil, sem vocação, consiga vir a ser um bom professor se leccionar numa escola privada. Também não acredito nas notas espectaculares que essa via de ensino apresenta. Pois quando uma empresa pode escolher o seu cliente o padrão que se cria vicia os resultados.
Acredito, isso sim, que a profissão de professor é muito mal tratada em Portugal. Que esses profissionais da instrução académica (pois a educação deve vir de casa) estão feridos de morte com a forma como, consecutivamente, são tratados. Ou melhor, destratados. Como o desrespeito pela figura do professor ganhou lugar à figura de referência do nosso desenvolvimento enquanto cidadãos. Como a falta de educação de uma geração veio a reflectir-se de forma tão negativa.
As aulas já começaram há cerca de um mês. A minha filha já começou a fazer os primeiros testes de avaliação, mas ainda lhe falta um professor. O de Educação Musical. E como mãe que sou, e apenas nesse papel, custa-me a compreender isto quando tenho uma grande amiga, professora de Educação Musical, desempregada. Sem colocação. Ah! E com muitos anos de carreira!
Oiço coisas sobre este assunto que me ferem os ouvidos. Oiço muitos treinadores de bancada, mestres na arte da elaboração de fórmulas mágicas e doutorados em resolver os problemas da nação à mesa de uma esplanada. E isso incomoda-me. Porque temos de saber do que falamos, de preferência, com conhecimento de causa. Como mãe, vejo o cenário que descrevi acima, mas como cidadã tenho a obrigação de tentar perceber como funciona o sistema. E colaborar para o seu funcionamento. Tenho de praticar o direito à democracia. Tenho de votar. E não posso reclamar quando fui a primeira a contribuir para a situação, através da abstenção.
Como cidadã tenho de perceber que sou eu a maior accionista do Estado. A maior interessada na sua boa gestão. A pessoa que deve pedir respostas, mas apenas e só com a consciência de ter feito alguma coisa por ele. Tenho de, antes de mais, perceber o seu valor. Não posso passar a vida a reclamar o tudo, já e agora, porque vivo insatisfeita. Não posso fazer-me valer dos meus direitos quando também tenho deveres.
Fico muito triste com o estado da educação. Porque valorizo-a. Porque é minha. Porque não consigo compreender como é que uma questão basilar das sociedades é tratada de forma tão despudorada. Porque também estudei. Porque o Estado investiu em mim e está a investir nos meus filhos. Fico triste porque não somos exímios em bons resultados, mas somo exímios em reclamar e exigir. Adoramos dizer que somos bons, mas não queremos ter trabalho. Porque tudo dá muito trabalho. Não temos números espactaculares de aproveitamento escolar, mas temos números espectaculares nas candidaturas a reality show's. Não temos dinheiro para pagar as propinas e os livros escolares são muito caros e o material pedido é exagerado e tudo, tudo, menos os concertos de música, os telemóveis e as roupas de marca, são um exagero de custos.
Quando ouço estas queixas, dá-me vontade de responder com todas as forças. Mas não o faço. Porque o tempo em que acreditava que iria mudar o mundo já lá vai. Deixo apenas um recado:
Acham que a educação é cara? Então experimentem a ignorância.
Quando ouço estas queixas, dá-me vontade de responder com todas as forças. Mas não o faço. Porque o tempo em que acreditava que iria mudar o mundo já lá vai. Deixo apenas um recado:
Acham que a educação é cara? Então experimentem a ignorância.
O Citius e os processos desaparecidos são de uma bronca diferente (justiça). De resto...é isso mesmo...
ResponderEliminarObrigado Carla Borges.
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