Das minhas memórias de infância fazem parte os belos verões de campismo. A minha tia Vicência foi sempre uma apaixonada pela vida ao ar livre e sempre que podia lá estava ela de tenda montada. E nós, estávamos quase sempre onde ela estava. Durante muito anos fez campismo no CCCA, ou seja, no Parque de Campismo da Costa da Caparica. E durante muitos anos também eu fui para lá. Com ela, com o meu tio e as minhas primas. Com o meu pai. Com o resto da família.
Não sei bem porquê houve um interregno nesta estadia. E aí foi o meu pai que pegou na tenda, nos tachos, no saco cama e afins e levou-nos por esse Portugal fora. E a nós também. :) Houve um Verão que abancámos nas margens do Guadiana, em Mourão, antes da barragem do Alqueva. Aquilo é que foi! Das 7 da manhã às 9 da noite, tudo dentro de água!! E assim andámos por todo o lado.
Mais tarde a melhor notícia para mim (e para os adultos) foi saber que a minha tia tinha adquirido um novo espaço com roulote e avançado no tal CCCA. Significava que estávamos de volta ao parque e à praia da saúde e às comezainas ao ar livre e aos duches de água fria e ao lavar da loiça nos espaços comuns (enquanto também se lavam os pés) e ao cafézinho que durava pela noite dentro e aos jogos de cartas e aos bailaricos e às cantigas alentejanas ao luar e à partilha entre vizinhos e ao adeus que eu já venho que é como quem diz passar o dia a correr e a jogar às escondidas e a jogar à bola ou a mergulhar sem parar. E o retorno aos braços da minha tia. A minha querida tia...
Falei-vos dela aqui. Sabem que partiu. Há 4 anos. E há 4 anos que eu não ía ao parque de campismo. Lembro-me da última vez que lá estive com ela. Lembro-me que ainda não tinha o meu filho mais novo. E lembro-me de pensar que dificilmente lá voltaria. Mas voltei! Na passada 6.ª feira.
A minha prima que teve o bebé há pouco tempo, esta, adquiriu no final do ano passado um alvéolo com caravana, tenda e avançado perto da tenda da minha tia. Renovou o espaço e só estava à espera que o menino crescesse mais um bocadinho para começar a usufruir de tudo aquilo. E foi assim que, sem grandes combinações, saí do trabalho, fui buscar os miúdos e fomos lá jantar.
Surpresa! Aliás, várias surpresas!
O parque está todo arranjado. Da última vez o chão ainda era todo em terra batida. Agora não. Há chão decente para circularmos. O parque infantil também está como novo. O meu tio (marido da minha tia que partiu) estava na sua tenda. E foi muito bom revê-lo. A minha prima S. e uma amiga de todos nós a P. (de quem vos falei aqui) estavam por lá. Mais os seus respectivos e mais os seus filhos. Levei a minha irmã e o meu sobrinho. Estão a imaginar o maranhal de gente, certo? Os abraços e os beijinhos. O reviver recordações. O matar de saudades. Os meus filhos? Quase que nem os vi! Ora foram para o parque, ora foram jogar à bola. Ora foram à casa de banho. Sim, que o nosso menino achou imensa piada à casa de banho. Sobretudo porque tinha de sair da tenda. E, isso, era uma grande desculpa para andar no lareu.
Jantámos todos juntos. Pusemos a conversa em dia e as gargalhadas. O bebé da minha prima portou-se lindamente. Nem demos por ele. Se bem que foi o centro das atenções, claro! Mas não se ouviu. Fomos todos tomar um café na esplanada e continuar as conversas sobre tudo e sobre nada.
A noite estava quente. Muito agradável. E a festa estava quase a começar.
No parque do CCCA é costume haver concertos e bailaricos. Os utentes até organizam marchas populares. Finais de anos e festas disto e daquilo. As pessoas vivem aquele tempo sem preocupações. Essas ficam à porta do parque. E eu senti isso na pele.
A música começou. Era a banda Pack7. Uma agradável surpresa. Espreitem aqui. Música portuguesa. Nada de música pimba. Uma excelente selecção que levantou a todos o pé do chão. Um vocalista e uma vocalista. E eu contei-os. São 7. São um pack de 7! :)
Os miúdos estavam loucos. Não havia sono para ninguém. Comeram pipocas, algodão doce e churros com chocolate. Entre todos, claro, que eram meia dúzia deles. :) E ao observar-lhes os olhos lembrei-me de mim com aquela idade. Também os meus brilhavam e vivia feliz com um saco de pipocas nas mãos. E os meus pais e os meus tios estavam no lugar que ocupo agora. Um lugar em que tudo e nada importa para fazer as crianças felizes. Em que tudo e nada tem valor nesta coisa que são as emoções que nos consomem. Em que sentimos a presença dos que já partiram, mas que continuam vivos no nosso coração. Pois foi isso que nos ensinaram.
Descanse em paz, querida tia. Estamos a portar-nos bem. E continuamos a praticar o legado que nos deixou. Um legado de amor e respeito mútuo. Um legado imenso que quero, também, deixar aos meus filhos.
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