Hoje os Contos abriram a porta de casa para receber uma das bloggers de moda mais coerente do panorama nacional. A Paula Lamares do Fashion Heroines. Uma mulher cheia de estilo. Personalidade. Com o dom da palavra. Com quem tenho aprendido imenso sobre moda. Aquela moda que o comum dos mortais vê na televisão e diz: como é que alguém pode gostar disto?!? Com um esgar parecido a quem acabou de comer um limão. No seu blog a Paula Lamares fala do que sabe. Não se faz entendida. E é por isso que tem tanto sucesso. E é por isso que gosto tanto dela.
É para mim uma honra ENOOORME tê-la cá em casa. Nesta casa virtual que estabelece pontes sem fronteiras com quem por aqui passa. E não! Este não é um blog de moda! Mas é um blog com as portas abertas a quem quiser partilhar ideias. Ainda por cima o texto que a Paula nos trouxe é, para mim, 100% bem escrito. 100% realista. 100% optimista. 100% Paula Lamares. Leiam, e confirmem o que digo. :)
"Pegar a vida pelos cornos
Sou Paula Lamares, tenho o blog Fashion Heroines,
sou viciada em moda desde os meus 12 anos e há 12 segundos que não bloggo. A
minha vida ficou muito facilitada com o surgimento da internet, pelo que deixei
de passar fome para comprar revistas de moda estrangeiras. Para além de tentar
falar sobre moda, gosto de escrever, aliás, gosto muito de escrever sobre tudo e mais alguma coisa. Pelo que
aceitei o desafio da Cláudia em criar uma espécie de crónica para o Contos com
Amoras. Não sei se estou à altura do desafio, mas este é o meu estilo!
O mood do dia é: Pega a vida pelos cornos! Acordei
assim, depois de uma noite mal dormida, da chuva que cai incessante desde o ano
passado e de não ter cheta no bolso para adquirir os “Dez básicos essenciais
que não podem faltar no closet esta primavera”. Pegar a vida pelos cornos é uma
espécie de lema de vida, mais do que uma forma de pensar é um lifestyle. Por
exemplo, quem pega na vida como se fosse uma coisa mole e viscosa, tem
tendência a ver sempre a garrafa meio vazia e a culpar o governo por todas as
desgraças que lhe acontecem. Geralmente, vivem de subsídios ou têm um trabalho
insípido que não arriscam a perder a não ser por um subsídio. Mas, quem pega a
vida pelos cornos é otimista, não deixa o seu destino por mãos alheias e vai à
luta, ignora os telejornais e, consequentemente, as tretas do governo que só
servem para amolecer a vontade, preferindo as crónicas nonsense de gente bem-disposta
em sites cool.
Mesmo que a vida seja igualzinha e os problemas que se
enfrentam muito semelhantes, ver as coisas de uma diferente perspetiva faz toda
a diferença. Para quem pega a vida pelos cornos, Abril é o mês das
comemorações: da Liberdade e da concretização das aspirações de um Povo, da
contagem decrescente para o Verão, do renascimento da natureza, depois de um
longo período de reset, rumo à exuberância de todos os inícios. Para os
outros, Abril é simplesmente o mês do IMI.
As pessoas que pegam a vida pelos cornos gostam de si
próprias e quando não podem andar seminuas (mesmo que não andem, a atitude é
como se andassem), vestem animal prints, leopardos e tigresas (mesmo que não
usem, a atitude é como se usassem), sendo que o seu estilo é, depois, copiado
por aquelas pessoas que seguem a moda. As outras preferem vestir dos pés à
cabeça em tons terra, acham que o preto é muito berrante, pintam as unhas de
transparente e adoram a maquilhagem que não se note nada que usam maquilhagem,
mas só em dias especiais, como batizados e funerais.
Entre umas e
outras há, ainda, as que seguem a moda como se fosse uma religião sem alma e,
como todas as beatas, praticam mas não pensam, cheiram ao mesmo e copiam os
looks tal qual das montras da Zara e similares. Desta última espécie de gente,
confesso, tenho sempre algum receio porque não são carne nem peixe, têm um medo
medonho de viver a fundo, de deixarem de respirar na próxima esquina. Passam os
dias submersas em mitos urbanos e no ruído de fundo que é a opinião dos outros.
Não comem um queque sem contar as calorias, sacrificam-se pela cruz da suposta
beleza que idealizam, mas, depois, não são capazes de ter coragem para assumir
atitudes, limitam-se a fintar a verdade e acham que assim fazem pegas ao
destino.
Créditos das imagens: www.manrepeller.com |
As pessoas que pegam a vida pelos cornos, pelo contrário,
são sempre belas, porque irradiam aquela luz fantástica que surge de repente
após dias de chuva cerrada. As pessoas que deixam andar, à espera que o tempo
resolva, têm o olhar entristecido e a boca sombria de rugas como vírgulas de
ambos os lados, ao estilo das velhas carpideiras e estão sempre rodeadas de
novíssimos amigos (que os antigos já não as aturam), quase todos do facebook, para
onde descarregam posts patéticos, repletos de amargura, queixinhas, invejas e
outras dissertações sobre como a vida pode correr tão mal!
As pessoas que pegam a vida pelos cornos têm sex appeal e
atraem homens e mulheres como moscas. As outras são as moscas. São uma espécie
mais evoluída do Homo Sapiens emocional. Que não sorriem (a não ser que estejam
chateadas). Antes soltam contagiantes gargalhadas que chegam a estridentes
quando a conversa envolve ex-namoradas do atual. As outras fazem do ciúme um
acessório clássico como se fosse uma mala Chanel. Gostam de conjugar o verbo
“parvar” e passam os dias a titubear músicas da Adéle com voz de queixume. A
minha sorte é que quando eu tinha idade para ser parva e dizer coisas parvas,
não havia ainda a possibilidade de registar tudo em vídeos virais através do
youtube. Agora as pessoas parvinhas não têm a vida nada facilitada.
Quando nascemos, a genética e o meio são uma espécie de
lotaria. Essa é só uma meia-verdade, o argumento preferido dos que nunca
fizeram uma pega de caras. É sempre possível mudar a nossa forma de pensar e,
principalmente, de agir. Se olharmos sempre para a ponta dos nossos pés,
inevitavelmente, só veremos formigas, mas se olharmos para cima descobrimos
pássaros de linda plumagem e homens acima de 1,80m.
Não quer dizer que quem
pega a vida pelos cornos não tenha medo. Tem! E muito! Mas a confiança de que é
possível superar obstáculos e continuar a correr a maratona dos dias difíceis,
é superior a todos os receios. Sobretudo, chegar à meta é muito menos
importante que a viagem até lá.
Hoje é um dia excelente para começar a virar do avesso o seu
olhar sobre as coisas por mais banais que sejam. Olhe para uma banana como se
nunca tivesse visto uma banana e aplique isso a todos os objetos que a rodeiam
como se os visse pela primeira vez. Se tiver acima dos 45 anos é possível que
julguem que está com início de Alzheimer, mas veja isso como um teste à sua
autoestima. Depois de fazer este exercício, faça o mesmo com o caminho que
percorre todos os dias a pé. Olhe para tudo como se fosse um viajante (e não um
turista que esses perdem tudo enquanto tiram fotos) num país estranho. Depois,
passe para as pessoas, família, amigos, colegas de trabalho, faça perguntas
como se tivesse 5 anos, envolva-se, preocupe-se, elogie, toque, abrace…
Durante este processo é possível que as pessoas julguem que
enlouqueceu de vez… não se preocupe. Explique que está a fazer um detox de vida
e a estudar a ciência das pegas de caras. As pessoas vão ficar confusas e
curiosas, pelo que pode sempre aconselhá-las a ler este post no maravilhoso
blog Contos com Amoras e, se não der resultado, ao menos a Cláudia consegue
aumentar as visitas."
Paula, obrigado.
Não gostei. Não gosto mesmo nada quando se generaliza assim a vida alheia. É muito bom e muito bonito ser-se positivo e optimista só porque se é, porque se nasceu assim, e porque faz parte de quem se é intrinsecamente. Mas já diziam o Simon e Garfunkel "After changes upon changes we're still more or less the same." e não, nem todos podemos ser assim para lá de positivos e "pegar a vida pelos cornos", cada um é como é, é o que é, e eu - pessoa pessimista e negativa que me assumo ser, sem vergonhas e sem o esconder de ninguém - não me considero um ser humano pior, ou uma pessoa feia , ou menos bela, ou que irradie menos luz que a autora deste texto. E sim, escrevo dissertações de como a vida pode correr tão mal porque já a VI correr mesmo mal, já senti na pele a vida a correr muito mal, e quando ela corre bem prefiro guardar esses momentos felizes, essas vitórias, essas alegrias, para mim, em vez de escrever um texto a dizer porque é que eu sou melhor que os outros só porque a vida ali, naquele momento me correu bem. Só que também não sou melhor - nem pior - do que quem escreve um texto desses, sou diferente. Cada um de nós é individual, e tem em si a luz, o brilho de si mesmo, não é preciso ser isto ou aquilo, não é preciso ser mais ou menos sorridente - eu por mim detesto gargalhadas estridentes, mas lá terei as minhas razões para tal, associando-as a experiências passadas, não se pode é generalizar as coisas, e muito menos as pessoas. Se alguém é d' "As pessoas que deixam andar, à espera que o tempo resolva, têm o olhar entristecido e a boca sombria de rugas como vírgulas de ambos os lados", se calhar terá lá dentro de si, no seu percurso, na sua vida, razões para tal. Ou não, se calhar é de si mesmo, a pessoa é MESMO assim, e por isso já não presta, já é menor? Depressiva como sou, negativa, pessimista, toda a minha vida notei que atraía como um íman homens e mulheres como moscas. Sempre tive sex appeal, para um determinado tipo de pessoas. Por isso se vê que não há mal em ser-se quem se é, mal há é em querer convencer alguém que se mudar a sua essência, a sua persona, será melhor, mal há em assumir que uma pessoa que é diferente é menos. Não gostei mesmo nada deste texto - independentemente de estar ou não muito bem escrito. Mas isso sou eu, que como não pego a vida pelos cornos, descarrego posts patéticos, repletos de amargura, queixinhas, invejas e outras dissertações sobre como a vida pode correr tão mal!
ResponderEliminarOlá Miranda. Antes de mais, obrigado pelo seu comentário.
EliminarTem toda a razão quando diz "cada um é como é, é o que é". Concordo plenamente consigo, mas consigo perceber a ironia do texto. A interpretação que a autora lhe deu. Não estamos propriamente a debater um assunto sensível num consultório. Mas antes a dar um enquadramento ao que é a nossa vida diariamente. Problemas, sejamos pessimistas ou optimistas, todos temos. Mas diga-me Miranda: nunca sentiu necessidade de levantar a cabeça, perante um problema, e levar tudo à sua frente? É disso que a autora fala. Temos de pensar numa coisa: quem escreve, são pessoas. E não automatismos. E não há pessoas sem problemas. Sem sentimentos. Sem antagonismos. Dúvidas. Dias bons e dias maus. Quem escreve, escreve para um público. Dá de si. Mas não se podem fazer julgamentos com base nisso. Pois por detrás das palavras há uma voz.
Obrigado mais uma vez. Continue por aqui.
Tenho muito gosto. Beijinhos
E por detrás de quem lê há um ser humano. Que pode ficar a sentir-se o pior dos seres humanos por não ser assim, capaz de pegar a vida pelos cornos. POr detrás das palavras há uma voz e por detrás de quem lê há um coração ;). E não, nunca senti necessidade de levantar a cabeça perante um problema e levar o que quer que seja á minha frente, não sou assim ;)
EliminarMiranda, antes de mais desculpe-me pegar neste assunto pelos cornos, mas a verdade é que só assim é que vamos lá. Sou por natureza muito frontal e há coisas que não suporto ouvir, tal como a Miranda foi capaz de pôr por escrito mais acima. Desculpe-me esta minha sinceridade, mas guardar cá dentro faz mal ao fígado e eu não quero ficar doente por causa disto.
EliminarExplique-me lá, porque eu não consigo perceber, porque é que uma rapariga que me parece jovem - pelo menos mais do que eu - entrega assim os pontos? "Ah, a mim não me interessa, deixem-me viver neste meu buraco escuro, parem de me mandar levantar a cabeça." É isso que eu vejo. Alguém que se RECUSA a levantar a cabeça, alguém que se recusa a ver para lá das persianas mal fechadas do quarto "para o sol não entrar, porque eu tenho medo." Como é possível que alguém carregue o estandarte do "fixe é estar aqui no buraco e calem-se lá porque vocês não sabem metade." É verdade, não sei. E se quer saber mais, nem quero saber, porque tão depressa a Miranda abre a janela como corre a cortina não dando azo a que ninguém alvitre em sua defesa ou para a ajudar. Não sei se é alguém que precisa mesmo de ajuda - e aí, tudo o que eu escrevo, por favor ignore que eu vou à minha vida - ou se tem por desporto ser uma pessoa negativa (acredite, há muita gente assim, eu conheço algumas e simplesmente afastei-as da minha vida porque não trazem nada de bom), mas uma atitude como a sua só provoca revolta em pessoas como eu. Acredito que haja um ser humano aí desse lado, sim, um ser humano, que tal como eu e como a Cláudia ou a Paula têm dias bons e maus. Agora, alguém diz que é um ser humano e depois diz que "nunca senti necessidade de levantar a cabeça perante um problema"? A Miranda é feita de quê?
Mais uma vez, desculpe esta minha franqueza. Se calhar estou a por por escrito aquilo que muitos que leram estes comentários pensaram. Ou se calhar estou a exagerar, mas a culpa é sua porque desenhou uma personagem que não corresponde à realidade. Sabe uma coisa? Às vezes o problema é este mesmo: nunca houve ninguém que pegasse no seu problema (ou no seu não-problema, porque não acredito que haja alguém assim) pelos cornos e a abanasse e a mandasse abrir a sua persiana. Miranda, se não se quer queixar da vida, faça por ela, não venha com a história do "eu nunca precisei" porque gente assim não merece que a vida faça o que for por elas.
Beijinhos,
Ana
Excelente!
ResponderEliminarParabéns à Cláudia por ter aberto a "porta de sua casa" e, muitos parabéns à Paula Lamares pela ironia do texto. Problemas todos temos, mas temos que levantar a cabeça e pegar a vida pelos cornos!
Obrigado pelo comentário.
EliminarEstiveste bem. :)
Olá Miranda. Antes de mais quero agradecer o seu comentário e a sua reflexão sobre o texto. Cada um tem direito à sua opinião e quanto a isso não me pronuncio. Você não me conhece, mas, posso garantir-lhe que tive uma vida que de fácil não teve absolutamente nada. Nada mesmo. Passei muitas provações e necessidades que exigiram muitos sacrificios, dei com a cabeça na parede algumas vezes e paguei bem caro. Houve mesmo alturas em que parecia que não havia mesmo qualquer saída... mas, jamais perdi o norte e a vontade de lutar e consegui. Por ter tido uma vida muito dificil é que me sinto "habilitada" a escrever textos como este, pois, sou uma testemunha viva de que pegar a vida pelos cornos, sermos os donos da nossa história mesmo que não controlemos o final, é mesmo a única solução. Escrevo com ironia e é com ironia que se devem ler as minhas palavras. Nunca foi minha intenção desprestigiar ninguém, muito pelo contrário, o que eu desejo é aumentar a autoestima de todos os que comigo convivem e têm a paciência de me ler. E, sobretudo, dar-lhes força para não desanimarem. Aproveito para lhe pedir desculpa se não consegui atingir esse objetivo consigo. Um beijinho. Paula Lamares
ResponderEliminarOlá Paula,
EliminarGostei muito da sua sinceridade, da sua ironia (eu própria não consigo largá-la, por muito mau que o dia seja) e da forma como escreveu este texto. Sim, há gente assim, passo por elas todos os dias na rua. Todos iguais, com um ar deprimido, a pensas nas contas para pagar. Não gosto não o faço. Tenho contas como todos, maus dias como todos e recuso-me a deixar-me ir. Não percebo como é que alguém se pode sentir mal e recusar levantar-se. Mas à conta disso percebo porque é que este país está como está (desculpe falar do País, mas não resisto :D). Deixam-se ir, deixam a vida levá-los e pronto. A culpa nunca é deles. Não posso, não aguento, não consigo. Chamo-lhes pessoas tóxicas e faço um esforço tremendo para os afastar da minha vida.
Parabéns pelo post!! Gostei muito!
Boa Paula, você mais do que ninguém sabe que ser otimista é o nosso lema sempre. Podemos olhar a vida com otimismo ou pessimismo, a escolha é sempre nossa mas por que ser sempre triste e passar a vida a queixar-se ao invês de imaginar que o dia amanhã vai ser melhor? Vai ser? Pode ser que não mas queixar-se também não faz com que tudo seja melhor, então na dúvida, olhar a vida com "olhos sorridentes" na minha opinião é sempre a melhor escolha... Beijinhos, Rose
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