sexta-feira, 16 de maio de 2014

Conversas de mãe e filha

Já vos contei sobre o lanche semanal que faço com a minha filha. As duas, uma vez por semana, numa esplanada. Se o tempo assim o permitir. Pomos a conversa em dia. Sem o pai e sem o mano. Ela abre-se. Sente-me ali, só para ela. E fala de coisas que, no dia-a-dia, escapam entre as obrigações dos trabalhos de casa, da roupa da ginástica, dos trabalhos da catequese, dos banhos, jantares e outras 1001 coisas que nos consomem as horas.
 
E foi num destes encontros que surgiu um exercício giro. Em jeito de conclusão sobre qualquer coisa que eu disse, francamente já não me lembro o quê, sai-lhe um:
- Ó mãe... Eu já te conheço... (a rir-se)
- Conheces? Conheces mesmo?
- Sim, mãe. Desde que nasci! - muito segura de si.
- Então fecha lá os olhos!
- O quê?!? - perguntou espantada.
- Fecha os olhos.
 
E ela fechou.
- E agora?
- Agora diz-me como são os meus olhos.
- Ó mãe....
- Ó mãe, nada! Diz-me como são os meus olhos.
 
Uma pausa. E a sua descrição:
- Então... têm pestanas.
- Os teus também têm. - respondi-lhe.
- Então... são dois... (a começar a disparatar)
- Disseste que me conhecias bem, não foi? Então diz-me lá como são os meus olhos.
- São parecidos aos do mano.
- E mais?
- Posso falar do teu nariz... (desafiou-me) Ou do teu cabelo...
Acedi.
- O teu nariz é grande. E o teu cabelo também.
Abriu os olhos:
- Agora és tu, mãe! - e desistiu.
 
E eu fechei.
- Diz-me como são os meus olhos! - disse entusiasmada.
- São doces. Amendoados. Dóceis. Expressivos. Tens uns olhos que dizem muito de ti. Se estás triste, se estás feliz. Se me queres pedir alguma coisa. Se fizeste algum disparate. Se estás com sono, se estás cansada. Se tens energia para um dia de brincadeira. Se estás a esconder um segredo. Os teus olhos são a tua alma.
- Ó mãe... como é que tu vês isso tudo nos meus olhos? (com uma voz de interessada, preocupada e espantada)
- Vejo isso e muito mais!
- E como é o meu nariz? - perguntou.
- O teu nariz é pequeno. Muito perfeitinho. Parece uma avelã. Mesmo no meio da tua cara!
- E a minha boca?
- A tua boca parece um leque!
- Um leque, mãe?!?
- Sim. Quando está fechado é delicado. Quando se abre é como tu. Quando sorris.
 
Continuámos por algum tempo nesta brincadeira. Falámos das mãos, dos pés e das partes do corpo de que ela se lembrou. E, durante a minha descrição, ela espantou-se. Encantou-se. Disse-lhe, como a música, que sei de cor... cada traço... do teu rosto. De olhos fechados. De olhos abertos. Em qualquer situação. Disse-lhe que há coisas nela que só eu é que vejo. E que há outras que toda a gente vê.
 
E ela quis saber.
 
E eu disse-lhe. Que lhe reconheço traços de uma personalidade extremamente sensível. De uma menina-mulher que me encanta a cada nova descoberta minha sobre o seu crescimento. Sobre as suas opiniões sobre os assuntos mais diversos. Sobre as suas atitudes com as amigas. Sobre a forma educada como fala com os mais velhos. Sobre a forma inteligente como se defende dos mais novos.
 
Disse-lhe que tinha tudo para vencer. Que é o meu orgulho. Que acredito nela. E que não preciso de vê-la para me lembrar de si.
 
E ela, na sua inocência, rematou:
-Eu adoro-te mãe!
(eu também, meu amor...)
 
 
 

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