segunda-feira, 10 de março de 2014

Variante de amor

Com origem no latim, a palavra amizade é definida como uma variante do amor. Mesmo sem pesquisar adivinhava esta definição. Pois é isso mesmo que sinto. A amizade que tenho por algumas pessoas é, para mim, uma relação amorosa, uma variante de uma relação amorosa. Que, como em todas as relações amorosas, precisa de ser alimentada. Precisa de ser cuidada. Precisa de duas pessoas, no mínimo. De confiança. De segurança.
 
As primeiras relações amorosas que estabelecemos nas nossas vidas são estas variantes de amor. Começamos bem cedo. Se tivermos primos, é por aí a nossa primeira experiência. Se não, será pela creche. E, por vezes, estas relações duram toda uma vida.
 
E é por isso tão importante que os nossos filhos tenham amigos. E saibam que ser amigo é ter amor por alguém. Uma variante... É importante deixá-los experimentar a ilusão e a desilusão. Deixá-los construir as suas referências no campo da amizade, através de todas as descobertas que essa construção lhes permite. Que construam memórias para a vida. As boas. E as más. E que, no fim, saibam com toda a certeza afirmar que amizades são as suas. Quem são os verdadeiros protagonistas das suas vidas nesta variante do amor.
 
E é tão bom quando nos surpreendem com as suas interpretações.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Fui ameaçada!

Depois do post sobre a partilha dos trabalhos domésticos lá em casa e das coisas que me irritam profundamente quando é o homem que toma as rédeas da coisa, fui ameaçada! É verdade. O homem ameaçou nunca mais pegar em nada. Deixar de participar nas tarefas domésticas. Disse que ía fazer greve! GREVE!?! Pensei: tenho que me redimir! E, por isso, agora o post que faz justiça ao senhor meu marido.
 
Se há pessoa que faz bem uma cama, é ele. Puxa os lençóis até saltar uma moeda. Levanta o colchão só com um dedo. Um dedo! E a cama fica um brinquinho.
 
Também é excelente a arrumar a loiça na máquina. Consegue rentabilizar o espaço de uma maneira que leva a uma poupança tremenda. E não faz disparates como pôr tachos e panelas ou caixas de plástico que ocupam imenso espaço. Aqui, nota 20!
 
Com a arrumação das compras temos um misto... Por um lado, arruma e arruma e arruma tudo na dispensa. Por outro, depois não encontro nada. Mas pronto! Tira os pacotes de leite das paletes plásticas, arruma os enlatados com os enlatados e os detergentes com os detergentes. (Não posso reclamar de tudo...)
 
Temos lareira. E eu não toco nela! :)
É ele que vai à lenha. É ele que faz o lume. É ele que a limpa.
Nota 21! (Que esta é uma tarefa que me chateia deveras!)
 
Quanto à garagem. Pois, se há coisa que eu faço é pedir-lhe que leve e leve e leve coisas para arrumar que já não quero em casa. E ele leva e leva e leva e, de vez em quando, dá-lhe a trevadinha e põe tudo em ordem. (arre que o homem ainda faz umas coisas!)
 
O escritório também fica por conta dele. Também é ele que acumula lá a papelada. Mas não me chateio muito. Para as horas que lá passa é justo que o arrume. :)
 
Agora me lembro que também faz uma outra coisa boa. Tenho máquina de secar. Mas está no sotão. E de vez em quando lá calha: levas o alguidar de roupa para cima que eu estou cheia de dores nos braços? (quem me conhece sabe que é verdade - as dores nos braços) E ele lá vai. Que aquilo pesa! E trás a roupa de volta. O que implica voltar a subir e descer escadas.
 
Tenho a certeza que me faltam aqui mais coisas, mas tenho que guardar alguns trunfos na manga. ;)
 
Bom, amor, espero que o teu período de greve termine. E não te esqueças que se pus o toque do "Popeye" no meu telemóvel quando me ligas, é porque não consigo viver sem os teus músculos (ainda bem que não fumas cachimbo e não és marinheiro, porque eu não ía conseguir viver com um homem com um amor em cada porto). Isso não faz de mim a "Olívia Palito", mas faz de ti o meu herói.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Homens dedicados, trabalhos redobrados!

Somos quatro lá em casa.
Eu e o pai trabalhamos todo o dia! Mas todos precisamos de roupa todos os dias! De comer, de dormir, de tomar banho. Precisamos das nossas coisas nos sítios certos para não nos desorientarmos. Precisamos da casa limpa e arrumada (mais ou menos) para não entrarmos num caos. Mas, como sabem, isso é algo que dá muuuuiittoooo trabalho. Muito, mesmo!
 
Tempos houve em que tínhamos alguém para ajudar-nos nestas tarefas. Mas esses tempos, de vacas gordas, já lá vão. A carteira está cada vez mais apertada e, por isso, tivemos de estabelecer prioridades. Deixámos de usufruir desse pequeno grande luxo. Mas as tarefas domésticas, essas, são teimosas. Persistentes e não nos dão tréguas.
 
Decidi partilhar convosco coisas que só o meu marido sabe fazer. Daquelas, que me deixam com os cabelos em pé, no que toca a tarefas domésticas (sim, porque as outras coisas que ele sabe fazer que me deixam com os cabelos em pé não são para aqui chamadas). Vejam lá se se identificam com alguma coisa.
 
Estender a roupa.
Estender, estende. O problema é o método. Toda a santa peça de roupa leva molas em todo o lado. Não vá o diábo tecê-las e um furacão passar por lá. É preciso prevenir. Depois é a trabalheira de tirar as marcas das molas com o ferro de engomar. Coisa que ele não faz. Mesmo!
Estender a roupa. Tarefa que faço com algum cuidado, a pensar poupar no trabalho que terei a passá-la. Molas colocadas estratégicamente. Quantas menos melhor. As camisas todas juntas. As calças todas juntas. As tolhas arrumadas no estendal. Meias e cuecas prontas para serem dobradas e arrumadas. Tudo isto em tempo record. O homem consegue baralhar tudo. E demorar uma eternidade...
 
Pôr a mesa.
Põe. Ele põe... tudo ao contrário. Não acerta com os talheres. Os miúdos que são miúdos já sabem pôr os talheres correctamente. E quando se sentam à mesa dão logo conta. Foi o pai que pôs a meeesa...
 
Levantar a mesa.
Ele levanta. Isso sim. Separa a loiça na máquina. Mas porque motivo ainda não percebeu, ao fim de tantos anos, que tirar a toalha da mesa, sacudi-la e arrumá-la faz parte desta tarefa? PORQUÊ?
 
Limpar o pó.
Ui! O homem parece que fica para morrer. Aquilo primeiro que arranque... mas depois de arrancar... ele transpira, ele limpa e volta a limpar, ele tira tudo do sítio, ele descobre cantinhos que eu não conhecia, ele vangloria-se pelo que está a fazer. Horas, senhores! Horas naquilo!! Numa coisa que eu faço num instante!
 
Sacudir tapetes.
Até muda de roupa! Que isso é tarefa árdua e deixa-o todo sujo. Sim, porque aqueles braços a sacudirem tapetes até fazem o prédio estremecer. (Vês amor. Acabei de dizer que tens uns braços fortes)
 
Aspirar.
Só para resumir: quando dou uma espreitadela para ver onde ele anda, já tenho os móveis todos fora do sítio. Mesmo que tenha sido tudo aspirado há pouco tempo.
 
Cozinhar.
Duplo "ui"! Uma simples sandes!! Uma simples sandes!! Tira tudo o que há no frigorífico. Espalha tudo em cima da bancada. Faz migalhas com o pão. Utiliza a mesma faca para a manteiga, para o doce ou whatever. Fico louca! E não arruma nada sem acabar de comer. Ainda posso precisar! Diz ele.
Uma vez quis ajudar-me a fazer arroz de cenoura. Pôs-se a cortar as cenouras. Imaginam cenouras cortadas ao meio no meio do arroz? Pois. Foi o que ele fez...
 
A sério!
Muito mais para contar. E muitas vezes não sei se devo agradecer pela intenção ou mandá-lo dar uma volta com os miúdos.
 
Trabalhos dobrados. Sem dúvida! Só os nervos que me faz, ui, ui...

terça-feira, 4 de março de 2014

Estudantinas de Carnaval

Ontem fomos a uma festa de Carnaval. O habitual. Desfile de máscaras. Concurso. Baile. O habitual, como disse, das minhas memórias de miúda por estes dias de fantasia. Há muito tempo que não participava numa destas festas. E se ontem o fiz, foi por causa dos miúdos.
 
Desfilaram, concursaram, dançaram e descobriram 1001 maneiras de se divertirem com as serpentinas e os papelinhos coloridos. Descobriram-no comigo. Que própria já não me lembrava das coisas que sabia fazer com estes indispensáveis "adereços".
 
Do Carnaval guardo memórias de acordo com lugares, máscaras e diferentes idades. Miúda, 6/7 anos, vestida com o fato típico do folclore madeirense. O que eu gostei de andar assim disfarçada. Saia plissada, botins camel com uma aplicação de tecido, collants de malha branca, colete, capa vermelha e chapéu. Tirei esta imagem da net para quem não conhece.
 
 
 
Gostava mesmo da riqueza e da realidade do fato. Usei-o até não poder mais. No meu tempo de miúda não haviam super-heróis a entrarem pelas nossas casas e a ocuparem o nosso imaginário e a consumirem as carteiras dos nossos pais. Dominavam os trajes típicos. Claro que as espanholas e as sevilhanas estavam sempre no primeiro lugar da tabela. E tudo o mais que a imaginação conseguisse apurar.
 
Tive várias máscaras. Mas o ponto alto eram as festas de Carnaval. Os bailes e o baile da pinha. Uma semana depois. Havia uma tradição qualquer sobre namoros que começavam no Carnaval... Alguém se lembra?
 
Ía ver os corsos da Malveira. De Sines. São Bartolomeu de Messines. E onde os meus pais se lembrassem de ir. Mas nenhum, nenhum mesmo, batia o que sentia quando no Alentejo assistia às estudantinas. Mais propriamente na Amareleja. E não me venham dizer que é por ser de lá e tal... Não! Quem não conhece espreite o vídeo que deixo em baixo.
 
As letras, as sátiras, as músicas, os entremezes. A boa disposição, o sotaque no gerúndio, os olhares. Os cheiros, a cafeteira ao lume e a luz. Tudo luz. Tudo é bom. Divertido. Genuíno. E é por isso que é tão importante para mim não perder de vista esta tradição. Independentemente do papel que o Carnaval tem na minha vida. Da importância que lhe dou. Esta é uma tradição que eu quero que os meus filhos conheçam. E sintam. A memória não pode ser apagada. E depende de nós perpetuá-la.
 
Vejam que vale a pena. Oiçam a letra com atenção. (Sobretudo os meus amigos que se encontram em lides políticas)
 
 

segunda-feira, 3 de março de 2014

Racionamento de alimentos

Desde miúda que tenho um feeling que não consigo explicar.
Vejo-me a viver um período de escassez de bens e alimentos. Derivado a uma guerra ou a uma situação de catástrofe natural, não sei. Mas vejo-me num cenário desastroso, onde para comer temos de fazer uma grande ginástica, pois é tudo racionado. Onde alimentos como o açúcar ou o chocolate nem sequer existem. São raros, preciosos e muito disputados. Imagino a fruta à venda podre e cortada aos pedaços, para aproveitar apenas a parte boa. O arroz apenas vendido em determinadas quantidades, de acordo com o agregado familiar. Vejo-me sem electricidade ou qualquer outro pequeno luxo. Os miúdos sem escola. As farmácias sem medicamentos. Mendigos nas ruas. Famílias inteiras desalojadas.
 
É um pensamento recorrente que não consigo explicar. Será pressentimento? Será memória de uma vida passada?
 
Depois, há situações que me fazem relembrar desta cisma. Como agora, a situação na Ucrânia. Como aconteceu com o tsunami no Japão. Como aconteceu com o 11 de Setembro. E outras situações limite.
 
Mas não me dá a loucura para comprar bens não perecíveis em grandes quantidades. Armazenar garrafões de água ou velas e candeeiros a petróleo. Não me dá para pensar nisso como se pudesse acontecer a qualquer momento. Bom, ainda bem que não ando de metro todos os dias. Pois quando ando... é inevitável... E se houver um sismo neste preciso momento em que estou a não sei quantos metros de profundidade? O que é que fazia de imediato? Como é que contactaria os meus filhos? E começo logo a elaborar planos de emergência.
 
Não me dá para essa prevenção, mas também não posso pensar muito no assunto. Senão ainda desato à procura de um local para a construção de um bunker. Já pensaram o que seria viver neste cenário? Já pensaram o que seria não ter alimentos para os nossos filhos? Já pensaram no que seria não ter medicamentos? Viver sem saber muito bem como. Sobreviver. Já pensaram na sorte que temos? Na liberdade de que gozamos todos os dias das nossas vidas? Na infelicidade de que vive com medo de sair à rua? De quem não tem o que comer. De quem não tem como sobreviver...