No dias que correm, não conheço ninguém que viva sem telemóvel. Sem computador. Sem qualquer dispositivo electrónico que lhe permita estar em constante contacto com o mundo virtual! Esse tão criticado mundo de contactos, reservado apenas aos anti-sociais e outros que tais! (não tenho paciência para estes clichés)
Nos dias que correm stressar por estar sem telemóvel, ou porque a bateria pode acabar, ou porque pode ficar sem rede, ou porque pode ficar sem saldo e, assim, incontactável, é já considerado uma doença: nomofobia (advém do inglês "no mobile").
As pessoas sofrem com isto, pois é o telemóvel uma companhia, um barómetro de popularidade (através do número de mensagens ou chamadas que recebem), uma questão de status (sobretudo se tiverem o modelo XPTO, o topo de gama) ou, muito simplesmente, uma prova de que têm pouco que fazer (com o telemóvel ligado, as pessoas sentem-se acompanhadas)!
Já repararam na quantidade de vezes em que, quando estão com amigos, familiares, conhecidos ou colegas de trabalho, muito discretamente alguém deita um olho ao telemóvel para ver se tem alguma mensagem? Primeiro que tudo: quando as pessoas se juntam, juntam-se também os belos dos telemóveis! Em cima da mesa, ao lado uns dos outros, como se estivessem também eles em reunião. Depois, quem tem ainda o pudor de o manter no bolso do casaco ou no bolso da mala, a determinada altura lá vai com a mãozinha pegar no dito, só para ter a certeza de que não está a tremelicar! E, quando a ansiedade já não aguenta mais, lá vai uma espreitadela (a modos que ninguém reparou)!
Isto é, de facto, a realidade em que vivemos!
Ainda me lembro de quando foi instalado o telefone fixo lá de casa. Um acontecimento digno de bandeirinhas a enfeitar as ruas e da fanfarra dos bombeiros a tocar! Primeiro, arrumar a casa para receber os técnicos da PT! Depois, discutir o melhor sítio para que o telefone ficasse exposto (qual peça de museu). Por norma, logo na entrada, para que as visitas ficassem logo informadas sobre a modernidade do lar! Por fim, e depois de instalado o bicharoco, a derradeira experiência: todos tivemos ocasião de levantar o auscultador para ter a certeza de que lá estava o "piiiiiiiiiiiiiiiii"! Até arrepiava!
Quando tocava, o que acontecia raramento (numa primeira fase), era um ver se te avias para atender a chamada! Como se do outro lado pudesse estar o Presidente da República para dar os bons dias! Mas atenção!! As crianças estavam proibidas de se aproximarem, não fosse aquilo causar-lhes uma doença rara (assim do género: ficar com falta de vista por estar perto da televisão. Quem sabe, ficaríamos com falta de audição!)
Bom, mas isto para dizer que um destes dias (fruto de estar fartinha destas cenas dos telemóveis), estando eu num agradável serão com amigos, mais os seus amigos telemóveis, comecei a ficar irritada com um que não parava de enviar e receber mensagens, esforçando-se por se mostrar atento à nossa conversa, outro que de vez em quando lá punha a mão no bolso do casaco e outro ainda, mais estúpido ainda, que carregava no visor para ter a certeza de que não tinha recebido nenhum envelope (tinha o telemóvel mesmo à frente dos olhos!).
O que é que eu fiz para parar com isso? Retirei-me, fui buscar o meu telemóvel e enviei uma mensagem para cada um dos presentes, a seguinte: Não tem mensagens novas!
Ficou provado aquilo que todos sabemos!
Primeiro: os telemóveis estavam a funcionar!
Segundo: sempre que recebem mensagem, o telemóvel toca, a luz acende e alguns ainda tremem!
Terceiro: estava tudo atento ao telemóvel!
Quarto: quando o telemóvel dá sinal, pára tudo!
Quinto: a ansiedade é tão grande que nem repararam que estavam a receber mensagens ao mesmo tempo!
Sexto: ainda é possível ter serões agradáveis com amigos. Depois da brincadeira, arrumaram todos os ditos, qual pacto de sangue, e cumpriram com a palavra: até ao final da noite, só se tocasse é que se daria atenção ao aparelho!
E assim foi!
Fica a dica, para quem sentir o mesmo que eu!
Que texto maravilhoso! Fico a esperar pelo próximo!!! :-)
ResponderEliminarBeijinhos!
Este comentário foi removido pelo autor.
EliminarCara Ana Rita Nunes, obrigado pelo comentário.
EliminarPrometo que darei notícias em breve.
Beijinhos.