segunda-feira, 17 de março de 2014

O luto na infância. Quando morre alguém da família

Este é um assunto que me preocupa.
Quando era miúda, não tive de passar por isso. Nem a minha família teve de passar por isso. Explicar a uma criança o que aconteceu a alguém que desaparece. Um avô. Uma avó. Uma mãe. Um pai.
 
Por ora, também não tive de explicar nada aos meus filhos. Mas já assisti a quem tivesse de fazê-lo. E questiono-me sobre se terei capacidade para dar uma explicação plausível. Uma explicação que lhes faça sentido na cabeça. Uma explicação com peso, conta e medida. Sem fantasias. Realista o suficiente para responder às suas dúvidas até ao dia em que começarem a perceber melhor o que é a morte.
 
Gosto de pensar que a morte faz parte da vida. Que é um bom ponto de partida para explicar a quem não domina vocábulos ou saber de experiência feito porque morremos. Gosto de pensar numa antiga história da tradição oral, Ti Miséria, que fala sobre uma senhora que prende a morte no alto de uma árvore e que, por isso, nada morre. Nem os animais, nem os legumes se arrancam da terra, nem os soldados enfermos nos campos de batalha e por aí fora.
 
Penso nesta história, intimamente, quando eu própria penso demasiado no assunto. E na ausência. E na partida. E nas coisas que se vão também com as pessoas. A gargalhada, o toque, o cheiro.
 
Diz-nos a psicanálise que as crianças apenas compreendem o que as rodeia, dentro de um código linguístico e experimental que elas próprias dominem. Nem de longe nem de perto, comparado com os do mundo dos adultos. Por isso, espero lembrar-me disso se um dia vier a precisar. Porque complicar não vale a pena. Ignorar, nem pensar. Esconder a realidade, é um erro tremendo. As crianças fazem parte desta realidade. E precisam de fazer o seu luto.
 
 
 
 

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