Uma simples pesquisa no Google revelava toda uma identidade da nossa Madalena. Editora de moda de uma revista de sucesso. Autora de inúmeros artigos sobre estilistas, modelos, tendências. Presença obrigatória e aguardada em todos os grandes acontecimentos da área pelo mundo fora. Comentadora num programa de televisão. A cara portuguesa além fronteiras de quem mais sabia sobre o assunto em Portugal. Nova. Com 33 anos de idade. Bonita. Bom... vistosa será o termo mais certo! Mas muito, muito invejada por inúmeras mulheres. Talvez por todas as que a conheciam.
Mas como em todas as histórias de princesas, há uma realidade desconhecida para aqueles que querem viver a vida dos outros. Madalena sentia isso agora na pele. O sucesso profissional tinha-lhe toldado as prioridades. Para ela tudo era dado como certo. Pois era assim o meio em que vivia. Bastava abrir a boca com qualquer sugestão que logo alguém se encarregava de torná-la numa realidade. E esse era um poder que tinha e que muito lhe agradava.
Sabia que na revista todos contavam consigo. Sabia mesmo que a revista dependia de si. Não tinha um minuto de descanso. Muito trabalho. Muitas reuniões. Muitas festas. Muitos eventos importantíssimos a que nunca, mas nunca podia faltar. Vingar nesta área, tão cedo, era raro. E Madalena sabia-o. Sabia-o muito bem. E à medida que o seu sucesso foi sendo uma realidade, à medida que consolidava a sua imagem, através do seu trabalho, crescia também a sua ambição. Cada vez mais.
Era o centro das atenções. Em todas as ocasiões. Pela roupa que vestia, pelos sapatos que calçava, pelos acessórios que usava. Pelo longo e brilhante cabelo castanho que tinha sempre impecavelmente bem penteado. Pela maquilhagem sempre no ponto. E pelo sorriso que exibia que levava todos a acreditarem no que viam: uma mulher feliz.
Mesmo quando foi abandonada pelo futuro ex-marido e esteve duas semanas sem pôr os pés na revista, não deixou de receber telefonemas, responder a e-mail's, validar propostas, reler artigos, escolher imagens, validar títulos, falar com patrocinadores, reunir por telefone (em alta voz). Chorava, logo de seguida, mas nunca ninguém desconfiou, sequer, sobre o verdadeiro motivo da sua ausência.
Teve o casamento de sonho de qualquer mulher. E até isso estava no Google, nas imagens do Google. Um vestido desenhado exclusivamente para si, com tecidos importados, especialmente para si. Num cenário idílico. Sem qualquer constrangimento. Um casamento tal e qual como qualquer mulher com vontade de casar desejava: à medida dos seus sonhos.
Viajou com o marido em lua de mel durante um mês. E não deixou os seus seguidores no instagram sem resposta. Todos os dias partilhava o que fazia, onde estava, o outfit do dia, as compras que fazia, a felicidade que vivia. E até o número de seguidores nesse mês aumentou significativamente. Aumentando, também, o seu valor, a sua imagem. Ela sabia-o. E de tão consciente que estava sobre isso não era por acaso que agia assim. Não dava ponto sem nó. Calculava sempre o impacto das suas acções públicas. Através dos seus perfis públicos. E foi mais o tempo que passou de volta deles do que, verdadeiramente, a viver a sua lua de mel.
Foi esse o primeiro sinal daquilo que mais tarde despoletou a saída de Duarte. Não que ele não soubesse com quem estava a casar. Mas os homens são como as mulheres. Quando amam. Também têm esperança que, com eles, as coisas sejam diferentes. Mesmo que alguém os tenha avisado atempadamente.
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